– Então – a voz dela interrompeu seus pensamentos –, quer me contar sobre a livraria que sua amiga mencionou?
Elas estavam sentadas de frente uma para a outra. Regina usava jeans de lavagem clara e corte reto, um casaco de lã batida sobre um suéter de cor clara, uma correntinha dourada com um pingente quadrado, com uma delicada flor gravada no centro. De onde estava, Emma não conseguia ver os sapatos, mas tinha certeza de que eram algo que combinava perfeitamente com o look elegante e lindo que aquela mulher havia escolhido para um sábado casual. Estava se esforçando ao máximo para não baixar o olhar para as roupas deprimentes que vestia. Devia estar parecendo uma trombadinha maltrapilha ao lado daquela mulher linda e incrivelmente cheirosa.
Emma sufocou um gemido de frustração e segurou com firmeza as bordas da cadeira em que estava sentada para impedir a si mesma de sair correndo dali imediatamente.
– Não precisa fazer isso só porque Ruby é uma enxerida – tentou não parecer ansiosa para se livrar dela. – Você já me pagou um sorvete, não precisa me levar para passear. Estou melhor, prometo.
“Posso ir pra casa agora?”, quis acrescentar, mas bancar a mal-agradecida não faria aquele dia terminar mais rápido.
– Acho que a intenção é não deixar você sozinha enquanto ela está no trabalho – Regina levou sua xícara de café aos lábios antes de sorrir –, e eu prometi que não faria isso. Então, aonde iremos agora?
Emma suspirou, frustrada com a insistência daquela mulher. Será que ela não percebia o quanto queria, o quanto precisava manter o máximo de distância possível de qualquer coisa que a fizesse sentir-se vulnerável? E talvez fosse pelo que tinha acontecido no dia anterior… quer dizer, era exatamente por causa do que tinha acontecido no dia anterior que sua mente associava a imagem de Regina a um convite claro para deixar-se levar pelo seu lado infantil. Portanto, era de suma importância manter o máximo de distância possível entre elas.
Ia dizer isso a ela, mas a mulher falou primeiro:
– Olha, Emma, posso ver pela maneira como está se agarrando a essa cadeira que você não está confortável aqui – ela começou, gentilmente, apesar de deixar escapar um suspiro impaciente. – E já percebi que levá-la para dar uma volta pela cidade não parece uma boa opção no momento. Porém, depois dos últimos acontecimentos, deixá-la sozinha definitivamente é algo que não pretendo fazer. Então, o que você acha de voltarmos para a minha casa, você toma um banho bem relaxante e, depois, se estiver se sentindo melhor, nós tentamos conversar um pouco, hum?
Emma sentiu as pálpebras arderem, e foi preciso tudo de si para conter um gemido de frustração. Ela só queria voltar para seu apartamento e chorar em posição fetal até que a exaustão consumisse todas as suas forças… Mas essa nem era a maior das suas preocupações. O que a estava afligindo de verdade naquele momento, e que não queria admitir para si mesma, era o quanto havia gostado daquela maldita proposta. E isso não era nada bom.
Seus olhos percorreram novamente o rosto da mulher à sua frente, a pele bem cuidada, a maquiagem leve, a boca carnuda, o olhar intenso, tudo nela expressava suas boas intenções e sua preocupação genuína. Mas por que uma mulher como aquela se preocuparia com alguém como Emma? Seria algum tipo de fetiche?
Já havia lido fanfics online o suficiente para saber que fantasias eróticas com garotas com o mesmo “defeito” que o seu eram mais comuns do que se pode imaginar, e ela não estava nem um pouco interessada nessas porcarias.
Ia dizer isso a ela quando a viu levantar de sua cadeira, vindo sentar-se bem ao seu lado, tomando sua mão entre as dela.
– Escute, eu sei que você não me conhece e imagino que deva estar com medo e assustada com a minha insistência em me aproximar – o toque dela em sua mão era delicado e afetuoso, e Emma quase choramingou ao se ver dividida entre o crescente desejo de relaxar sob aquela mão calorosa e a ciência de que precisava se afastar imediatamente ou não seria capaz de compreender o que ela estava tentando lhe dizer. Mas sua mente entrou em estado de alerta quando ouviu as seguintes palavras: – Confesso que isso é estranho para mim também.
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Boa Noite, Emma
FanficEmma teve uma infância difícil e uma adolescência pior ainda. Agora, já adulta, luta com todas as suas forças para manter uma parte da sua vida muito bem guardada, longe de olhares curiosos. Mas todo o seu autocontrole escorre entre os dedos depois...