Sinto beijos serem destribuidos em meu rosto e pescoço, toques em meu corpo, não quero abrir os olhos.
O que mais me assusta ao sentir tais toques, é que não são toques que me deixam desconfortável. São toques que meu corpo reconhece e anseia por mais. Me aterra saber que esse toque é reconhecido, saber que me acostumei com ele. O que me faz pensar no que aconteceu comigo nesse tempo que estive em coma. Quem tocou em mim desse jeito, para que meu corpo o reconhecesse e meu inconsciente se sentisse confortável com ele?
Não quero abrir os olhos. Tenho receio do que encontrarei se o fizer... seus lábios são macios, quase aveludados, suas mãos grandes percorrem meu corpo com toque gentís, o que não é coeso com o que está acontecendo. Seus toques são superficiais, mantêm as mãos em lugares 'não tão íntimos'. Suas mãos deslizam em meu rosto de maneira amável, afaga meus cabelos carinhosamente, seus dedos contornam o reator em meu peito, como se estivesse conhecendo e memorizando meu corpo com o tato.
Nunca fui tocado de maneira tão gentil e despretenciosa em minha vida, seus toques me transmitem tranquilidade e carinho, totalmente incoerente com o fato de estar me tocando enquanto acha que estou dormindo. Quero sentir mais de seus toques, mas não posso deixar que isso continue. Seja quem for, mesmo que meu corpo 'goste' de sentí-lo, a parte de mim que ainda tem um pouco de lucidez me obriga a abrir os olhos.
Abro os olhos lentamente esperando encontrar meu abusador... não há ninguém em minha frente. Inclino meu corpo e olho ao redor, nada. Me levanto com um pouco de dificuldade, meio sonolento e começo a caminhar pelo quarto à procura de quem quer que estivesse me tocando. Não encontro ninguém. Sequer vejo alguém ao olhar pela sacada, começo a me questionar sobre o que estava sentindo. Seus toques eram vívidos demais para ser minha imaginação. Não conseguiria imaginar algo assim.
Toques na porta me tiram de meus devaneios, abro a porta ainda meio absorto em meus pensamentos.
— Bom dia, Tony! — Cumprimenta Steve com sua alegria habitual — Você está bem? Parece meio... distante?
— Estou... — digo ainda me situando — o que faz aqui?
— Vim te chamar para tomar café da manhã, te acordei?
— Sim... não. Já estava acordado. Estava indo tomar um banho. — Ele me olha de maneira tão amável que meu coração se aquece.
— Posso entrar? — Pergunta, logo me dou conta que ele está parado no corredor.
— Tudo bem... — abro espaço para ele entrar. Ele caminha devagar até minha cama, provavelmente para me dar tempo de o parar caso não o queira aqui. Ele se senta na cama e me encara. — O que foi? — Pergunto confuso, não apenas por sua ação, mas porque ainda estou lento.
— Você ainda parece estar dormindo.
— Não funciono bem de manhã...
— Você não funciona bem sem café. — Rebate. Touché. — Eu fiz café para você...
— Eles tem café aqui?! — É realmente uma surpresa.
— Não...
— Ah. — deixo um suspiro escapar de minha boca — Por que me deu esperanças? — Steve solta uma leve risada.
— Acredita que tive que pedir para que comprassem seu café favorito? Mas você que terá que pagar. A exportação é cara, quase caí pra trás quando vi o preço.
— Ah... — é o único som que sai da minha boca.
— Achei que fosse ficar mais feliz.
— Não... é que, ainda não acordei direito, meu cérebro está demorando a raciocinar. Está tentando me comprar?
— Talvez, está dando certo? — Brinca. Fico parado o encarando — O que foi? — sua vez de me perguntar... que situação estranha.
— Nada... é só... obrigado. Dinheiro não é problema, sabe disso. — ele assente calmamente, por algum motivo parece que tudo está mais lento e estranho hoje. Dou passos inconscientes até ele, minha mão para em seu rosto involuntariamente, começo a dedilhar seus cortes, seu olho ainda está meio roxo. Dá para perceber que minha ação o pegou de surpresa, mas ele não se mexe, me deixa o tocar enquanto encara meu rosto. Meu coração começa a errar as batidas, tento afastar minha mão ao perceber o que estou fazendo, mas ele é mais rápido, a segura pressionando em seu rosto.
— Gosto de sentir seu toque. — Diz quebrando o silêncio.
— Eu tenho que tomar banho... — Digo enquanto puxo minha mão, dessa vez ele me deixa a afastar.
— Tudo bem. — sorri, me viro rapidamente indo em direção ao banheiro.
Fecho a porta, tiro minha roupa e entro embaixo d'água.
Talvez eu esteja ficando louco. Primeiro acordo com os toques de alguém e agora isso! Solto um longo suspiro, enquanto sinto a água escorrer em meu corpo, não sei se gosto de como as coisas estão. Perdi o controle sobre tudo, é estranho não estar no controle.
Depois de alguns minutos finalmente termino meu banho, assim que o faço, me deparo com um problema: Não tenho roupa!
Me enrolo na toalha que achei no banheiro e saio me deparando com Steve que presta atenção demais no meu corpo.
— Esqueci que não tenho roupa. — Comento, ele ri. Aparentemente virou um hobby dele rir de mim. Ele faz sinal com a cabeça indicando o 'guarda-roupa', bem diferente. O abro e encontro várias roupas, pego algumas para olhar e parecem ser do meu tamanho. — Isso não é apropriação cultural? — Pergunto, agora que reparei, ele também está usando roupas que eu imagino ser de Wakanda.
— Bom, estamos em seu país, é normal que usemos suas roupas, ainda mais levando em consideração que nossa vinda até aqui foi um pouco... inesperada.
— Faz sentido. — Pego umas roupas neutras que acho mais parecido com o que eu uso em Nova York e volto para o banheiro.
— Pode se trocar aqui... — Fala aumentando o tom de voz, não chega a ser um grito. — Prometo não olhar! — Idiota!
Volto minutos depois já vestido, me caiu muito bem diga-se de passagem. Exceto a calça, que ficou um pouco apertada na bunda.
— Uau... — Solta Steve assim que apareço na porta. Ele não tenta mais ser sutíl, nunca pensei que pudesse ser tão descarado. Eu também posso brincar assim.
— Limpa aqui... — Sinalizo o canto da boca, ele limpa por reflexo — Tá babando. — Não evito piscar para ele. Ele nega com a cabeça, divertido.
Saio do quarto o deixando para trás, logo me alcança andando ao meu lado.
— Fico feliz que esteja bem... — Comenta — eu fiquei com medo de te perder.
— Como pode perder o que nunca foi seu? — As palavras escapam de minha boca, agressivas demais até para mim.
— Essa doeu.
— Falei sem pensar, saiu mais ríspido do que queria.
— Não importa... — Ele toma a frente e me guia até o salão que fazem as refeições. É grande demais... não que eu pudesse esperar menos de um palácio.
— Não foi a intenção, juro. — Ele sorri de forma compreensiva para mim.
— Todos já comeram, acho que só falta a gente... — caminho até a mesa, meu corpo gela ao perceber que Winter está ali, sequer o tinha percebido.

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Egoism - Stony e IronWinter
FanfictionE se Steve tivesse feito algo diferente na hora de cravar o escudo no peito de Tony Stark? 01 #Stony 08/2024