08

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Me sinto um tanto desnorteado, acabo de acordar, minha cabeça girando como se tivesse passado a noite toda bebendo e a ressaca me atingisse em cheio pela manhã. Já estou acostumado a me sentir de tal modo, contudo as lembranças turvas me levam a acreditar que este não é o real motivo de eu estar desse jeito, não me recordo de ter bebido, tampouco de ter saído de Wakanda.

Os sintomas são os mesmos, minha boca está seca como se tivesse gritado a noite inteira.

Aos poucos todas as pequenas partes do meu corpo vão acordando e meu cérebro começa a transmitir as informações através das sinapses nervosas, mandando sinais de que meu corpo pode ter sido atropelado por um caminhão, não sei em que momento, mas é possível. A dor que sinto pode facilmente ser por esse motivo, todas as partes do meu ser estão doloridas como se meu corpo realmente experienciasse tamanho choque.

Hoje não sinto os toques ao qual meu corpo se acostumou e anseia diariamente, pelo contrário, não sinto nada do que vinha me acostumando nessas últimas semanas.

Sem toques e sem os lençóis maravilhosos de Wakanda.

Abro os olhos em um sobressalto, tento me mover... me levantar, não obtenho sucesso, meu corpo todo dói, sinto como se todos os meus ossos estivessem sendo esmagados.

Não que isso seja realmente relevante nesse momento, entretanto ao olhar para meu corpo, — as partes que consigo ver sem precisar fazer muito esforço — me deparo com marcas de todos os tamanhos, formatos e motivos; mordidas, chupões... tapas?

Que noite agitada eu tive... é uma lástima não me lembrar do ocorrido.

Não sei onde estou, mas com certeza não estou em Wakanda, todo o luxo se dissipou e foi transformado em... eu sequer tenho palavras para descrever esse lugar. É simplesmente anoso, por falta de palavra melhor.

— SOCORRO! — Grito com dificuldade, afim de chamar a atenção de meus raptores, minha voz sai esganiçada. Pressiono meu pescoço sentindo minha garganta seca, quase machucada. É difícil falar.

Fico parado por um tempo, olhando o teto pensando no que fazer, tento forçar meu cérebro a se lembrar o que aconteceu para estar nesse estado lamentável, nada vem a mim. Sinto meu rosto esquentar e uma lágrima escorrer de meus olhos, descendo para a lateral de meu rosto, molhando o travesseiro. Acredito que essa lágrima solitária não tenha um real motivo.

Meu corpo está tenso.

Lembrar me parece ser uma ação que meu ser ainda não está preparado para executar.

— Tony! — Ouço a voz de Steve sendo antecipada por um estrondo; a porta se abrindo.

Não me movo, talvez quando meu corpo relaxar eu consiga.

Passos apressados são dados em minha direção; um, dois, três... cinco passos até chegar até a cama, não demoro a sentir o colchão afundar ao meu lado.

Encaro a Steve e ele parece estar receoso em me tocar, como se fosse possível me partir com um simples toque seu.

Não estou tão ruim assim.

— Como está se sentindo? — Pergunta Steve com sua voz doce, aveludada...

Aveludado.

— Trouxe seu café da manhã, котенок. — A voz de Bucky me faz guiar minha atenção até ele; um, dois, três... seis passos até chegar na cama.

— Você é o Bucky. — Sussurro sem intenção, a voz simplesmente não sai como pretendia.

— Você nem o olhou, como sabe? — A voz de Steve sai em meio a uma agressividade dissimulada.

— Está irritado?

— Eu nã... — Hesitou — o que houve com você?

— Me digam vocês... o que fizeram comigo? — Minha voz perdendo força a cada palavra dita.

James se sentou ao meu lado com a bandeja em seu colo.

— Consegue se sentar? — Questionou com um tom de voz suave, nunca tinha a escutado desse jeito.

— Se conseguisse, eu já estaria assim. — Ele assentiu, colocando a bandeja sobre a cômoda velha ao lado da cama. — Estou com sede.

James segurou minha cintura por cima da coberta, me ajudando a deixar meu corpo inclinado, não completamente sentado. Foi impossível não gemer com o ato, minha cintura sendo pressionada, uma pontada atingindo meu quadril em cheio. Steve colocou uma almofada em minha costa, me sinto como uma grávida no 8° mês de gestação.

— Aqui. — Diz James me entregando um copo com água.

— Há quanto eu estou aqui?

— Dois dias.

— Onde é aqui? — Inquiri ao devolver o copo para James que o encheu novamente. — Por que não me respondem? — Questiono ao ver que não pretendiam me responder, seus rostos estampando perplexidade e confusão.

— Você não se lembra de nada? — Inquiriu Steve desconfiado.

— Se me lembrasse não estaria perguntando.

— Se acalme, котенок. — Pediu James limpando meu rosto.

— Eu perdi o controle. — Sussurrei ao sentir o toque de James, lembranças me atingindo lentamente; meu corpo começando a desejar por eles novamente, um simples toque foi capaz de me trazer memórias dos mais diversos tipos. — Me beija, Steve. — Pedi, querendo me lembrar de seu beijo assim como me lembro do toque de James. Ele me beijou sem questionar.

Aveludado.

— Está se lembrando? — Questiona ao separar o beijo. Assenti em resposta.

— Precisa de ajuda, котенок? — Hesitei uns instantes olhando os dois com atenção, toda a situação é no mínimo estranha. — Apenas roces... — esclarece — Não vai precisar se mover, tampouco vamos forçar seu corpo.

Ele retirou a coberta deixando meu ser completamente exposto para eles. Suas mãos começando a tocar meu corpo com cautela, dedilhar as cicatrizes do reator, beijar meu abdômen calmamente.

Steve começa a distribuir beijos em meu pescoço; as lembranças chegando a mim à medida que meu ser começa a relaxar, seus toques gentís e desprentenciosos renovam os picos de desejo que estavam omitidos em meio à minha falta de memória temporária. Cada toque uma memória desbloqueada; lembranças de seus beijos, palavras doces, provocações, brigas...

Eu estou perdendo o controle.

Eu perdi o controle.

Porque sei que se eu ceder, eles tomarão meu corpo como seu.

Eu cedi.

Estar nessa casa velha com esses dois me tocando sem pudor, me lambendo e chupando como se soubessem onde tocar para me fazer lembrar, como se meu corpo pertencesse a eles e o simples roce de nossos corpos fosse a chave para recobrar as memórias dos acontecimentos que nos levaram até aquela casa é a prova de que eu desfrutei cada segundo disso.

Inerte naquele ponto escuro que eu chamo de repulsão.

Não me sinto mais preso naquele ponto escuro, não sinto mais repulsão nem qualquer outro sentimento averso a esses dois.

Meus sentimentos não oscilam mais entre sentimentos inquietantes e controversos; Tais sentimentos obsoletos deram espaço a sentimentos de absoluta exatidão.

Absoluta certeza.

Certeza de que aconteceu o que eu temia, eles reivindicaram meu corpo como seu. Não tenho como fugir, tampouco desejo.

— Chega. — Disse ao me dar conta de que me lembro completamente.

Egoism - Stony e IronWinter Onde histórias criam vida. Descubra agora