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Os toques continuam.

Confesso que no começo eu pensei ser um sonho, daqueles que se repetem com frequência de tempos em tempos, que nos fazem acreditar que é real, estilo Déjà-vu. Do tipo que, em algum momento algo vai acontecer em nossa vida e teremos a sensação de: "Eu já vivi isso antes" ou "Será que isso realmente já aconteceu ou foi um sonho?". Esse questionamento já se tornou arcaico em algum lugar da minha mente, é irreal em minha condição atual.

Os toques, beijos e carícias são reais demais para serem sonhos. São frequentes, meu corpo anseia cada dia mais por saber quem está por trás desses roces cheios de luxúria. A tal ponto que já não consigo controlar, é como se a pessoa que faz isso tivesse algum tipo de poder sobre o meu corpo. Controlado-o como se fosse mestre do meu ser.

Não é como se eu não tivesse tentado descobrir quem é. Afinal, preciso aclarar meus sentimentos e sei que só poderei fazer isso quando essa pessoa se mostrar para mim, não parece ser algo que ela esteja disposta a fazer no momento.

Quando eu finalmente consigo reunir forças para abrir os olhos, ela já não está lá. É como se fosse fumaça, sumindo na escuridão da madrugada, sempre vasculho todos os cômodos do quarto, inclusive fora dele, mas nunca o encontro, como magia.

Hoje eu não irei dormir. Não porque não quero que me toquem, eu quero. — Infelizmente, quero mais do que uma pessoa normal deveria querer. — Mas porque simplesmente não consigo pregar os olhos, sabendo que sou incapaz de lutar contra minha própria vontade. Me aterra saber que tem alguém por aí, com mais poder sobre meu corpo do que eu.

Estou sentado na sacada do quarto, enrolado em um manto, enquanto olho as estrelas. O céu de Wakanda é deslumbrante, me pergunto se a lua saberia me dizer o porquê de meu corpo me deixar assim... tão vulnerável, à mercê das pessoas. Já não reconheço mais esse corpo, ele simplesmente não me obedece. Como se as células de meu corpo tivessem feito uma revolução contra mim, a parte que ainda difere o certo do errado.

Eu estou perdendo o controle.

Steve e Bucky não me tocam, mas estão sempre perto, com suas provocações, testando até onde sou capaz de resistir. No início, eles discutiam com frequência, mas agora parecem ter se juntado para medir o quanto falta para o fio de sanidade que ainda tenho se partir e eu me entregar a eles.

Confesso que não falta muito.

Winter aceitou que eu desse uma olhada em seu braço, mas sempre arranja uma desculpa quando o chamo. Percebi que, às vezes, ele faz umas expressões dolorosas, como se o braço estivesse o machucando. Certa vez, tentei tocá-lo, mas ele se afastou, como quando tocamos em algo quente sem querer e nosso reflexo é tão rápido que mal percebemos até que paramos para olhar se nos queimamos.

Steve também parou de me tocar, antes ele fazia questão de estender cada roce, cada toque, cada demonstração de carinho. Agora, ele apenas me tortura com palavras... como se tivesse se tornado outra pessoa, mais provocante, intrigante. Nada parecido com o capitão "politicamente correto" que Howard falava, tampouco se parece com o que eu conheci quando Loki invadiu Nova York.

Cheguei a citar os fugitivos que escolheram seu lado e estão presos por sua causa, mas ele ignorou completamente, como se não se importasse com eles. Talvez toda essa situação tenha mexido com sua bússola moral.

Com certeza mexeu com os sentimentos de todos, o capitão parece não ser imune a isso. Enfim um defeito!

Por muito tempo me questionei se deveria odiá-los... Quando acordei de meu coma, eu estava certo de que os odiava. Tão convicto de meus sentimentos, inerte naquele ponto escuro que eu chamo de repulsão.

Repulsa. Repulsa do que Winter fez com meus pais, repulsa por Steve ter mentido para mim, repulsa de mim mesmo, por ser incapaz de odiá-los. Pior, repulsa por desejá-los, como sei que não deveria.

Tais pensamentos nada categóricos se tornaram obsoletos com o passar dos dias. Atualmente, me encontro num aspiral de pensamentos e questionamentos sobre me entregar ou não a eles. Que eu os desejo, já está claro. É um sentimento absoluto, tão certo quanto o fato de os olhos de Bucky e Steve serem azuis.

A oscilação entre meus sentimentos inquietantes e controversos me causam náuseas e picos incontroláveis de tesão.

Sim, tesão. Já me peguei imaginando como seria estar entre os dois, enquanto sentia seus toques e carícias... nada gentís, se querem saber. Nada parecidos com os toques de meu abusador, que insiste em treinar meu corpo, para seja lá o que esteja planejando.

O que realmente me faz entrar nesse aspiral, é saber se poderei lidar com o fato de meu corpo não pertencer mais a mim e sim a eles... porque sei que se eu ceder, eles tomarão meu corpo como seu.

Como cheguei a essa conclusão?

Veio para mim de forma nada convencional. Mas é natural pensar assim, visto que meu abusador, nunca foi abusador, mas sim abusadores. Foi quando eu de fato prestei atenção nos toques, não nos sentimentos que eles me causavam que percebi que:

Os lábios não eram os mesmos; um tem o toque suave quase aveludado, o outro mais quente, agressivo.

Os toques também não são os mesmos... e isso nos faz voltar ao início. Os toques continuam, por isso não vou dormir essa noite. Não porque não quero que me toquem, eu quero. Quero mais do que tudo... meu corpo anseia por sentir os beijos aveludados de Steve, os toques agressivos de Winter. Quero que eles me façam ofegar e suplicar por mais, porque eles treinaram meu corpo para isso, domaram cada partícula do meu ser para desejá-los, para querê-los como jamais quis ninguém.

Levantei com o manto enleado ao meu corpo, voltando para o quarto.

— Vocês demoraram, achei que não viriam mais... — Comentei, assim que fecharam a porta atrás de si.

— Você demorou demais para ceder, estávamos conversando se valia a pena aparecer... — Provocou Steve, com a voz rouca, causando um arrepio em meu corpo.

— Está com a roupa que te demos, котенок?¹ — Questionou Winter. Deixei o manto cair ao chão em resposta.

— Você está delicioso, Tony...


🖤
1- Gatinho

Egoism - Stony e IronWinter Onde histórias criam vida. Descubra agora