Capítulo 9

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Regina correu até o quarto e trancou a porta. Não podia pensar em mais nada. Pegou a bolsa do closet e jogou tudo que tinha dentro dela em cima da cama. Estava cheia de coisas e buscou com afinco a última carta de Daniel. Pegou o papel nas mãos e o apertou contra o peito. Sua cabeça doía, seu estômago revirava e não podia acreditar que todos seus instintos lhe traíram dessa forma. Não agora que começava a ficar tão bem e aceitar a ideia de fazer as pazes com o destino.

-Não pode ser, Daniel! -lágrimas desciam cada vez mais grossas por seu rosto. -Eu não posso... eu posso? -encarou a folha com a letra dele. Riu. Uma carta não poderia te responder nem se quisesse. A mulher olhou para a janela que tinha vista do céu e do mar. Olhou pra cima e falou com ele. -Não posso fazer isso com a gente, Dan...

Regina tinha recebido a carta uns dias antes de confirmar se iria viajar com as meninas. Tinha cogitado dizer não, mas assim que leu a carta de Colter não tinha mais volta. Acreditava que se fizesse tudo que ele pedia, de certa forma, estaria junto dele. No fim de tudo, mesmo sendo contra no começo, todas as palavras das cartas de Daniel a ajudavam mesmo. Pegou a carta com a letra tão característica dele, passou os dedos pela escrita com tinta preta e sorriu em meio às lágrimas. Releu mais uma vez.

"Hey, meu amor
Lembra da primeira vez que fomos para praia juntos? Quando te obriguei a ficar vendada até colocar os pés na beira do mar? Nesse dia eu disse que te amava pela primeira vez e você riu.
Eu lembro de cada detalhe daquele dia e daquela noite. Lembro de te amar tanto que eu não podia guardar esse sentimento só para mim. Lembro de cada sorriso, de cada gesto e de cada lágrima que você derramou. Lembro da flor que caiu certinha no topo da sua cabeça e eu a coloquei encaixada na trança do seu cabelo.
Sabe, meu amor, eu fui o homem mais feliz do mundo naquele dia quando você, finalmente, aceitou namorar com o cara mais boa pinta da faculdade, ou pelo menos, o primeiro que teve coragem de falar com você (Regina, sua beleza é de outro universo).
Lembro da sua mãe quase me matando por te levar pra casa tarde e seu pai espreitando de canto de olho o novo namorado. Eu amava aqueles dois e amava o modo como eles criaram você perfeitamente pra mim, Gina!
Queria que você vivesse isso de novo, ir pro Hamptons, chamar as pessoas que você ama e aproveitar o amor de cada uma delas.
Eu quero muito, muito mesmo -e como você tem que respeitar o desejo dos que já se foram, vai ter que fazer - que prenda seu cabelo como naquele dia e aguarde uma flor chegar para colocar atrás da orelha. Ela vai vir. Como? Nem eu sei, meu bem, mas ela vai vir e com amor. Com todo amor do mundo!
Aproveite esses dias com a sua irmã (eu sei bem que ela é a sua pessoa e quem você levaria até o fim do mundo se pudesse) e não deixe de ir, nenhuma vez, aos jantares e almoços dos seus pais. Você o faria para evitar o assunto, mas fale de nós, do nosso amor.
Quero que conte isso pros seus filhos no futuro. Ressignifique nosso amor. Conte que seu primeiro marido te obrigou a conhecer o próximo amor da sua vida e que você é feliz!
Te amo para todo o sempre, para até depois da eternidade, te amo mais longo que o tempo que falta pro tempo passar e a gente se ver de novo em algum outro lugar ou em alguma outra vida.
Ainda bem que pude dizer que te amo nessa vida, Regina Colter.

Com amor,

DC."

Regina deitou no meio da cama. Ela havia se permitido tanto e sem perceber, mas, por mais que quisesse, não conseguia fazer isso com a memória de Daniel, com o amor da sua vida e com tudo que viveu. Ficou imersa nessa confusão de pensamentos e na saudade de seu marido que acabou pegando no sono.

No andar de baixo, por outro lado, Emma não conseguia pregar os olhos. Tinha horas que havia ligado a televisão no volume mais baixo e deixava um filme qualquer rodar. Ajeitou as almofadas na cabeça e puxou a manta para cobrir parte do corpo. Já passava das três da manhã e ainda não conseguia parar de pensar. Seu coração não tinha desacelerado, nem por um segundo. Quase beijou Regina.

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