Laços de sangue • Jikook

Vigésima Sexta Mordida

— Você precisa descobrir sozinho, Jungkook. Algumas perguntas não há respostas, mas outras você precisa ir atrás. Fique aqui o quanto quiser, mas tente procurar respostas no seu coração. Ou na cascata. — o pássaro voou e ele se virou para sair — Estarei cuidando de alguns Caçadores no final do corredor. Reflita corretamente, Jungkook, e pare de fugir dos problemas como vêm fazendo até agora. Se questione e não se retraia. Sua mãe não está mais aqui lhe dizendo para não relembrar lembranças. Busque e vasculhe todas as memórias, mesmo sendo dolorosas, só assim poderá crescer e andar com os próprios pés.

Não entendi bem o seu questionamento, mas enquanto ele dava os passos para fora eu acabei olhando de volta para a cascata inconscientemente. O barulho alto da água parecia me ensurdecer aos poucos e então a palpitação em meu coração voltou. Não bastasse a sensação esquisita, a marca começou a arder e as mãos tremiam levemente sem que eu conseguisse controlá-las.

— O que você está fazendo comigo, Dawei?

Olhar para a cascata faz revirar algo em meu peito, encarando-a por muito tempo sem conseguir desviar. Parecia uma hipnose.

Não entendi exatamente o significado por trás das suas palavras. "A marca está desaparecendo", não faz nenhum sentido! O fato de eu e Jimin estarmos distantes não é algo decisivo para a dissolução imediata da marca de lobos, isso eu tenho certeza, já que os casos mais graves incluem a morte de um dos parceiros e não é o nosso caso. E também não acho que seria por falta do sangue de Jimin, afinal não me viciei por tempo suficiente. Se bem que o sabor....

Relembrei, engolindo em seco ao conseguir imaginar meus dentes cravados em seu pescoço e chupando cada gota do sangue delicioso escorrendo pela pele, o sabor rico se espalhando em cada canto da minha boca. Imaginar o sabor seria perfeito para não esquecer a sensação e ao mesmo tempo bloquear meus pensamentos como Hoseok ensinou.

O barulho da água se chocando era tão alto que deixava a mente livre para minha mente inquieta. Dawei disse pra parar de fugir dos problemas, mas faço justamente o contrário, principalmente quando não consigo parar de pensar neles. Tudo está na minha mente, tão misturado e pesado.

Fiquei tão "perdido" que acabei lembrando da conversa matinal que tive com Jimin na praia; em como eu desejei que tudo voltasse à normalidade e assim pudesse lhe dar uma segunda chance.

Mas não existe volta.

Aquele presente se tornou um passado distante após todas as informações que caíram na minha mão. Se o que a minha família faz for verdade, então nunca mais conseguirei olhá-los com os mesmos olhos.

O colar do meu avô junto com o colar e o anel que troquei com Jimin continuam comigo, talvez provas de que tudo não foi apenas um sonho pacífico. O vidro com nosso sangue misturado na prata líquida era tão pequeno na palma da minha mão...

— Por favor, família, vocês não podem ter feito uma monstruosidade dessas. — o rosto de cada Caçador machucado do dia anterior repassou na minha mente — Tenho certeza que encontrariam soluções muito melhores se a fábrica precisasse de mais sangue. — o colar do meu avô não havia quebrado, o que significa que está vivo — Principalmente você, vô. Se o que Dawei disse for verdade, então ficarei muito desapontado, depois de tudo o que me ensinou...

Meu avô sempre me guiou a manter a calma em situações estressantes, mas também a fazer o certo. Usar vidas como ratos de laboratório é algo que não posso tolerar. O pouco que sei sobre os Caçadores era que machucavam a nossa sociedade sempre que tivessem a chance, mas talvez eles não estejam tão errados em querer descontar em alguém quando não existe nada que os proteja.