Você me odeia?

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Serro meus punhos e respiro fundo para não me descontrolar. A campainha foi tocada e Antônio recepcionou Otto, aquele sorriso descarado em seu rosto me irrita profundamente.

— Por quê veio? - Arrumo meu cabelo e tento conter as lágrimas que tanto segurava.

— Vim falar sobre a Poliana.

— Finalmente você voltou atrás na sua decisão. - Respiro aliviada.

— Não não é isso. - Diz seco. — Você não vai mais ver a menina.

— O quê? - As malditas lágrimas escorrem pelo meu rosto. — Só pode ser uma piada né?

— Não, não é. - Ele umedece os lábios e volta a me encarar. — Você e Durval quebraram a pouca confiança que eu tinha em vocês.

— Não.. - Nego com a cabeça. — Você não vai... você não pode!

— Posso e vou! Já está decidido.

— Isso é desumano Pendlenton... - Enxugo as lágrimas que escorriam pelo rosto. Otto percebe suas mãos trêmulas.

— Luísa.. tá tudo bem? - Ele se aproxima de mim e recuo para trás.

— NÃO SE APROXIMA DE MIM! - Ele arregala os olhos ao ver a fúria em meu olhar e recua para trás.

— VOCÊ! - Aponto o dedo indicador em sua direção. — Tirou tudo de mim.... E VOCÊ NÃO SATISFEITO QUER TIRAR POLIANA DE MIM.

— Luísa.. eu sou o pai dela..

— VOCÊ NUNCA CUMPRIU O PAPEL DE PAI! - Caminho até ele enquanto ele dá passos para trás até bater suas costas na prateleira. — Por quê pendlenton? Por quê está fazendo tudo isso comigo?

— Luísa.. - Ele suspira. — Apenas quero minha filha perto de mim.

— E a mim também pelo visto né? O quê você queria com tudo isso? - Dou mais um passo para frente e consigo sentir sua respiração acelerada bater contra minha pele.

— Por quê.. - Ele espreme os lábios. — Eu não queria Luísa.. eu tentei.. me afastar.. tirar você dos meus pensamentos mas..

— Você tá se ouvindo? - Arregalo os olhos quando entendo o quê ele está dizendo. — Você só ama a si mesmo pendlenton, você não tem consideração por ninguém!

— Isso não é verdade Luisa.. - Ele cerra os punhos tentando conter a tensão que estava sentindo.

— É por isso que eu te odeio, você sempre tenta estar certo em tudo.

— Não.. - Ele nega com a cabeça e me encara. — Você não me odeia, Luísa. - Seus olhos azuis acidentados encaram o fundo dos meus. Sinto um frio na barriga ao encara-lo dessa forma.

— O quê?

— Você não me odeia Luísa, isso eu tenho certeza. - Ele abaixa a cabeça.

— por isso tentei tirar Poliana de perto de você. - Rio com sarcasmo. — Você é louco!

— Você me odeia Luísa? - Ele dá um passo para frente, mas não recuo.

— Quê?

— Diga Luísa! Diga que me odeia olhando nos meus olhos! - Seu olhar profundo sobre mim faz com quê meu coração erre uma batida.

Respiro fundo tentando conter as reações anormais do meu corpo e dou mais um passo para frente. Posso sentir sua fragrância.

— Diga D'Ávila! - seu cenho se franze mas sua postura autoritária não me engana. Ele estava nervoso.

— Me diga você! - Me aproximo dele e ele volta a recuar, como eu esperava. — Mantém essa postura firme e autoritária mas é apenas um homem, você tem medo dos próprios sentimentos e fica fugindo deles. Mas eles não somem, não é? - Paro de frente a ele, Otto evitava contato visual comigo na tentativa de não ser lido, ele sabia que seus olhos revelavam tudo que ele sentia.

— Olhe para mim pendlenton! - Ele mantém a cabeça abaixada. — OLHE PARA MIM CÉZAR! - Ele arregala os olhos e finalmente me encara. Seus olhos claros estava marejados.. mas por quê?

— Eu preciso ir.. - ele faz menção em sair e eu o seguro pela manga de sua camisa. 

— Vai fugir novamente né? - Ergo a postura e o provoco. — Tem medo de tirar toda essa sua armadura para não ser ferido? É isso pendlenton?

Otto engole a seco e tenta endireitar sua postura. — Já tirei uma vez.. e me arrependo até hoje. - Ele Sussurra.

Realmente, alguns meses atrás em um café da manhã caótico ele mostrou sua emoções a mim, naquela época eu negava a mim mesma os sentimentos que começaram a surgir por ele. E logo ele lança essa bomba para mim, foi demais e eu apenas o ignorei.

— Com licença. - o vejo se afastar e indo em direção a porta, não posso deixa-lo se afastar novamente... mas o medo de expôr o que sinto também está presente dentro de mim.. estou confusa, meu tempo está se esgotando quando o vejo estender a mão para alcançar a maçaneta. Respiro fundo e junto toda a minha coragem  apenas para quatro letras sairem da minha boca.

— Otto. - Minha voz sai mais baixa do que esperava. Temo que ele não escute. Mas logo fico aliviada quando ele vira para mim e me encara.

Os lábios se pressionando e os olhos fechados para conter suas lágrimas me afligem. Nunca imaginei vê-lo dessa forma, que sentimento é esse que o tortura?

Precisava dele.. precisava sentir seu toque pelo menos uma única vez.. umedeço meus lábios e vou em sua direção em passos firmes, a cada passos que dou suspiro pesadamente. Afinal.. estou fazendo tudo isso pelo momento ou verdadeiramente o amo?

Provavelmente é a segunda opção.

E lá estava ele, estático me olhando de cima abaixo, estava tentando raciocinar o que estava acontecendo ou o próximo passo que irei fazer. Confesso que nem eu sei.

Fico frente a frente com ele. Os par de olhos azuis me fitavam intensamente e curiosos, envolvo seu pescoço com minhas mãos e selo meus lábios nos dele em um beijo rápido. Mas consegui apreciar seus lábios doces e macios sob os meus.

Me afasto de seus lábios enquanto repouso minhas mãos em seu peitoral. Consigo sentir seu coração acelerar e sua respiração descompassada atingir minha face.
Ele abre a boca para falar algo mas me afasto e pego em sua mão. O guio até a porta o deixando do lado de fora do apartamento de Glória.

Nenhuma palavra foi dita por nenhum de nós, se eu estava atordoada imagina ele? Não consigo imaginar o que se passa na cabeça dele. Mas tenho certeza que ele  não sabe o quê está acontecendo.

Fecho a porta e subo as escadas. Indo em direção ao quarto aonde estava hospedada e me jogo na cama.

Geralmente eu uso a razão mas.. minhas emoções falam mais alto.. o amo.. o amo demais. Coloco meu rosto contra o travesseiro tentando abafar meu choro. Mas o quê as pessoas irão pensar.. é tudo tão confuso.. não sei o quê pensar.

Pelo dia inteiro penso em mil formas de mandar uma simples mensagem para ele. Otto também não me mandou nada, deve estar nervoso que nem eu. Parecemos dois adolescentes que acabaram de descobrir o amor e meu condeno por não saber como agir.

One shots |•°luottoOnde histórias criam vida. Descubra agora