04| Princesa

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Estou sentada em frente a penteadeira enquanto Daphne penteia meu cabelo. Daphne era o nome da minha dama de companhia. Ainda não entendi direito oque aconteceu, mas, ao que tudo indica, eu estou em outra época. A hipótese de que eu possa ter morrido em minha outra vida ainda me assusta.

Minha vida inteira vivi imaginando que depois da morte iríamos para o céu, um lugar maravilhoso, onde não existe mais rico ou mais pobre, um paraíso. Ou para o inferno, lugar onde pessoas ruins iriam, cheio de coisas horrível, repleto de torturas e coisas tão absurdas que jamais imaginaríamos.

Mas pelo visto não é bem assim, descobri que estou no corpo de Melissa, uma princesa linda e pelo visto amada.

- Pronto, agora vamos escolher um vestido. - ela passa por mim e vai até uma porta grande e abre-a. - qual deseja usar hoje?

Minha nossa, são muitas roupas! Em minha outra vida eu não era pobre, muito pelo ao contrário. Mas, eu não gastava dinheiro atoa, meus pais tinham controle sobre meus gastos.

- Isso tudo é meu? - falo me levantando e chegando mais perto dela.

- Que pergunta é essa? Foi a senhorita que escolheu cada um deles! - ela me olhava com confusão e desconfiança. - Bom, qual deseja usar?

Eu olho ao redor, eram muitos vestidos, saltos e acessórios, um mais lindo que o outro. Eu só usei vestido assim na minha festa de quinze anos, e foi muito difícil porque pesava muito.

Imagine usar isso o dia inteiro?

Ok! Eu estou em outra vida, isso eu já tenho certeza. Se Deus ou um outro ser superior me deu essa chance eu preciso abraçá-la. Parece loucura eu aceitar isso rápido, mas pelo visto eu não posso fazer nada sobre isso.

Preciso entrar no personagem!

- Gostei desse vermelho. - falo pegando em um vestido lindo da cor vermelho sangue. Ele tem alguns detalhes em dourado.

Ela me olha em espanto e arregala os olhos. Oque será que fiz de errado? Se bem que é de manhã, acho que essa cor é mais para noite.

- Vejo que o tempo que ficou inconsciente fez muito efeito! Não podemos usar vermelho em dias comuns, e nem branco ou dourado!

Como assim não? Que loucura!

- Por que não podemos? - pergunto confusa.

- Porquê essas cores só são usadas em grandes eventos da realeza!

- Ah, sim, verdade! - Acho que preciso parar de fazer perguntas, mas antes...- Em que anos estamos? Será que dormi demais?

- Ainda estamos em 1560, e a vossa alteza dormiu por duas semanas!

- Oque aconteceu comigo?

- Bom, chega de perguntas, vamos escolher seu vestido.

Que estranho, será que ela está escondendo algo de mim?

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  Estou sentada á mesa enquanto meus "pais" conversão sobre algumas coisas que não entendo. Se eu achava que Luzia exagerava no café da manhã eu estava muito enganada. Aqui é o dobro de comida, minha vontade é de comer cada coisa.

- Estamos felizes em saber que está bem, querida! - Diz uma mulher. Provavelmente a rainha.

Na dúvida sobre a resposta, apenas sorrio para ela.

- Melissa, você já tem a sua rotina de hoje? - Rotina? Não posso simplesmente deitar em uma cama e ficar chorando em posição fetal até que isso tudo acabe?

- Ainda não. - digo curta, não quero falar muito.  Eu ainda nem sabia o nome dele.

- Pois apresse-se, você precisa ter muitas aulas. Fazer muitas coisas, precisa ser diferente das outras moças de sua idade, quanto mais coisas você souber fazer, mais interessante será para seus pretendentes.

Fico calada, eu não sei oque dizer. Na verdade nem entendo muito do que ele fala. Então só fico quieta mesmo. Logo o rei se levanta e em seguida a rainha também. Eles deixam o local e eu fico sozinha sem saber oque fazer. Vejo Daphne, ela chega e me chama.

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Estou fazendo aula de etiqueta agora.

Quando estava em minha outra vida, fiz etiqueta por três anos, então não está sendo tão difícil assim.

Faz pouco tempo que estou aqui e já sinto saudade de casa. Sinto falta das minhas gatas brigando o tempo todo, falta de Luzia me fazendo comer coisas deliciosas, falta de Amelie me contando fofocas, falta de Eliza me repreendendo por bobagens e, por mais que quisesse negar, falta de Otávio.

Meu pai havia sido muito maldoso, traiu minha mãe, e de certa forma fez com que Celine se matasse. Não tenho certeza se esse foi o principal motivo, mas, pelo visto nunca saberei.

Perdida em pensamentos, me recordo de uma memória antiga, mas muito afetiva.

Estávamos no jardim de nossa casa, meu pai fazia tiaras de flores para mim e Celine. Mamãe havia saído para um café com suas amigas e só voltaria à tarde.

- Aqui meninas, deixe-me colocar em vocês. - a primeira é Celine, ela fica encantada com sua tiara de rosas vermelhas. - Agora sua vez Neera, venha.

Vou até ele e observo-o colocar sobre minha cabeça uma bela tiara de rosas brancas.

- Papai, olha, um passarinho. - Celine diz.

Olho para o chão e vejo um pequeno passarinho caído. Fico morrendo de dó e tento pega-lo em minhas mãos, mas meu pai é mais rápido.

- Tome cuidado, pode acabar machucando ele. Provavelmente caiu de seu ninho com a tempestade de ontem.

- Tadinho papai, vamos cuidar dele.

- Não podemos, não sabemos. O melhor a se fazer é procurar seu ninho e deixá-lo lá até sua mãe achá-lo.

- Ah, tá bom, vamos achar o ninho dele então! - Minha irmã sai começa a procurar ao redor e fazemos o mesmo.

Sinto saudades dessa época.
Ele já traia a mamãe?

Não conheço aqui, preciso dar uma volta para tentar entender melhor oque está acontecendo. Pensando bem... cadê o cara que eu encontrei mais cedo? Bruce, esse era seu nome. Gostei.

Saiu da sala onde estava tendo aula a horas atrás e ando pelos corredores do palácio. Aqui é gigante, não conheço nada ainda. Quando estou olhando para as pinturas ao meu redor, esbarro com alguém.

A rainha, minha madrasta.

Sangue vampiroOnde histórias criam vida. Descubra agora