Chapter two

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Tudo permanecia calmo na rotina de Liam, enquanto seguia os conselhos de Meredith. No decorrer das semanas que se passaram, comprou novos livros, apenas para ter o gosto de cheirar e encher suas prateleiras, assim como tornou diária sua corrida de meia hora na orla da praia. Os mergulhos ao fim de cada uma delas, ate mesmo nos dias nublados, era praticamente sagrado. 

Tentou ser mais comunicativo com os pais, mesmo que eles parecessem estar completamente fora de alcance naquele mundo e também se dedicava mais aos cuidados de sua horta e do jardim. Até mesmo procurou se aventurar em algum bar popular do nicho jovem, mas cansou na primeira meia hora e os flertes eram um desastre, além de deixá-lo preguiçoso para o processo de conhecer alguém interessante apenas para se aventurar sem compromisso, o que parecia se tratar de uma tarefa que praticamente beirava o impossível. Talvez se tivesse mais esforço, acharia a tal pessoa, mas sua bateria social estava quase escassa naquela noite. Por fim, saiu de lá às dez, apos alguns beijos nada espetaculares e voltou para sua solidão confortável de casa, mesmo que Harry e Louis tenham resolvido aparecer de surpresa para uma festa do pijama não programada, caótica e que o fez rir como há tempos não ria. 

Mesmo com todas as atividades, no fim do dia era para o quarto no final do corredor que ele ia. O quarto que estava sempre trancado, reservando sua particularidade. Um quarto montado e preparado para receber seu herdeiro ou herdeira. A decoração em sua parte maior em creme, mesclada com branco, mas deixando evidente que se tratava de um espaço apto a acolher um pequeno ser, especialmente pelo berço grande no canto. Liam sempre abraçava um ursinho de pelúcia marrom e sonhava com o dia em que o entregaria em mãos menores que a sua. Se sentia pronto para aquele passo e teria paciência na espera por viver seus dias de glória. Apesar de tudo, jamais abandonaria seu sonho, por mais que os acontecimentos visassem sinais que poderiam movê-lo a desistir. 

E apesar de sua luta, a vida não podia parar.

Naquela sexta-feira quase não conseguiu se concentrar no trabalho, porque Trisha mais uma vez tinha justificado sua falta e já era a terceira vez na semana, considerando que ela trabalhava nas segundas, quartas e sextas. Decidido a se livrar da sensação de ter algo fora do lugar, se despediu de Louis e resolveu sair mais cedo para tirar a limpo aquela cisma.

Liam morava em Malibu. Trisha morava na cidade de Westlake Village, há vinte e cinco minutos dali, o que facilitou a busca pela mulher. Confiava em sua intuição que lhe dizia que precisava investigar, principalmente pela voz metódica e cabisbaixa dela ao justificar suas ausências da semana com áudios muxoxos e sem convencer muito de que as coisas estavam bem realmente. Mentir não era o forte dela. Ela trabalhava para ele desde o seu terceiro divórcio, há dois anos, e nunca faltou sem uma explicação decente. Para Liam algo estava acontecendo e por vezes tinha a impressão que a diarista escondia alguma coisa. 

Assim que estacionou na rua dela, saiu do carro e bateu palmas em uma cerca marrom de madeira. Estava inquieto e apenas se acalmaria quando checasse com os próprios olhos como Trisha estava. Era a primeira vez dele ali e observou como a casa era charmosa, apesar de modesta. Poderia até dizer que se enquadrava no padrão da classe média. 

Assim que ela apareceu, Liam pôs os óculos sobre a cabeça e a fitou como se estivesse assustado e de fato estava. Aqueles hematomas no rosto alegre foram um baque. 

— Menino, Payne? O que faz aqui? — questionou, olhando para trás e mirando a porta, aparentando preocupação, enquanto secava as mãos molhadas no avental. O hijab amarelado manchado de vermelho e uma cicatriz na testa muito mal escondida por um band-aid pequeno. 

— O que é isso no seu rosto? — empurrou o portão, se aproximando dela.

— Eu tive uma reação alérgica. —  se moveu para trás ao sentir que ele iria tocá-la. 

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