The ring.

Epílogo.

Talvez tenha sido a ansiedade ou os meses que passei nos cantos mais extremos do mundo, mas dessa vez eu tinha certeza, eu havia perdido a minha lucidez. Não que eu ainda tivesse antes, havia só pequenos resquícios de uma leve consciência que um dia ja chamei de lucidez — E hoje eu a perdi, não sei se na bagunça dessa casa ou na do meu coração, talvez em ambos, mas com certeza me perdi por completo hoje ao achar aquela lembrança embaixo da cama, ao lado da mala que usei para fugir de tudo. Aquele anel pendurado em um fio de prata, costumava usar minha aliança no pescoço mesmo depois do término. Parei de usar quando a dor de não ter motivos de usá-lo no dedo me corroeu por completo.

Agora, recostado em uma poltrona na área VIP do primeiro aeroporto que achei, me encontro rodando o anel em meu dedo com o polegar enquanto espero o voo. O término do nosso noivado aconteceu tão rápido quanto um tornado e eu a coloquei no olho do furacão. Egoista e covarde, fugi igual um animal assustado quando percebi a burrada que havia feito, com a falsa tese de que indo morar do outro lado do mundo eu conseguiria encontrar minha paz.

                                                                                  12:10

Uma fila se forma para entrar no avião, me prontifico a achar logo a minha poltrona, a viagem seria longa.

— Sejam bem vindos à bordo. Observe o número de seu assento no cartão de embarque. Por medidas de segurança, acomodem as bagagens de mão nos compartimentos acima de seus assentos e as que não couberem abaixo da poltrona à sua frente. — A voz da comissária ecoou pelo avião, porém só consegui prestar atenção em algumas palavras. Meus olhos logo focaram na pequena tela acoplada atrás da poltrona à minha frente

                                                        Alasca, USA —> Florida, USA

                                                                 12 hours remaining

Estava há tanto tempo sem pregar os olhos que sabia que assim que fechasse meus olhos, só acordaria nos Estados Unidos. Minha cabeça estava vazia, meus pensamentos completamente silenciosos, não conseguia formar um pensamento, estava focado em ir até o endereço que eu lembraria de cór até o dia da minha morte e o carregaria para o pós vida.

As cegas, dando um tiro no escuro, todavia preciso tentar uma única vez reconquistar a mulher que amo.

— Please, don't be in love with someone else... — E como se o universo estivesse tirando com a minha cara, ouço uma garotinha cantar na poltrona de trás. Respiro fundo deixando com que uma risada saísse de meus lábios e nessa hora percebo que irei passar o voo inteiro ouvindo toda a discografia de Taylor Swift.

                                                                   Florida, USA

                                                                           01:10

Assim que senti meu pé no chão após 12 horas no céu, meu corpo quase desmoronou, senti todos os sentimentos voltando de uma só vez e instantaneamente me recordei do porquê havia deixado a costa dos Estados Unidos, até o ar dessa cidade me lembrava a ela.

— Senhor? — Levantei a cabeça e lembrei que estava no meio do processo de alugar um carro. Tiro alguns dólares da carteira e entrego ao homem, recebi uma chave de volta e fui informado que o carro estaria sendo estacionado na frente do aeroporto.

— Obrigado. — Balbuciei e fui de encontro ao carro.

As ruas estavam iguais, o clima estava idêntico, as pessoas cambaleando na rua e entrando em clubes durante a madrugada era de praxe.

A cidade estava igual, mas será que ela estava também?

Estacionei o carro em frente a sua casa, do mesmo jeito que eu havia feito antes. Assim que saí do veículo senti um dilúvio sobre a minha cabeça, automaticamente olhei para cima me perguntando se eu não havia sido castigado o suficiente e em resposta um raio brilhou no céu.

Balancei a cabeça aceitando a minha resposta e puxei a touca da blusa para cima, cobrindo minha cabeça. Caminho pelo jardim, sabendo que antes ela diria algo sobre não pisar nas flores, sorri pensando em como ela reagiria hoje.

Conforme eu andava a casa dela se tornava mais distante, parei no meio do caminho, meu corpo parou de funcionar e minhas pernas não se mexiam mais, meu cérebro havia parado de responder os meus comandos — encarei a porta da entrada por longos segundos e podia jurar que desmaiaria se a visse na minha frente agora.

.

                                                       Respiro fundo.

                                             1, 2 , 3... Conto mentalmente.

Tiro a minha touca e respiro fundo novamente, a chuva atingindo o meu rosto me deu um choque de realidade e eu dei um passo, mas assim que meu pé direito pisa no chão novamente, vejo uma luz pequena acender no andar de cima. Ela acordou? Alguém acordou? Encarei aquela luz de abajur por alguns segundos tentando identificar se havia alguém perto, mas sem sucesso, então vou em direção a porta já esperando que ela já esteja feliz com outra pessoa, que ele abra a porta e me receba com um soco na cara.

Estendi a mão e toquei a campainha. O ressoar daquele som nunca havia durado tanto tempo e depois de muito tempo implorando mentalmente por uma resposta, ouço passos se aproximando da porta.

"Quem é?" Ouço de longe.

É ela.