Capítulo 6 - Interrogatório

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    Na penumbra da cozinha, onde os três se encontravam, o silêncio pairava no ar como uma nuvem pesada. Grace se apoiou no armário da pia, evitando contato visual com os homens. Assim que o oficial começou a falar, ela lançou um olhar rápido em sua direção, seus lábios denunciando sua ansiedade.
    – Certo, eu sou o Detetive Croydon. – Apresentou-se. – Este é meu parceiro, Detetive Jones. –  Apontou para o homem ao seu lado.
    Ele tinha sua experiência gravada no rosto, enquanto Jones, com sua expressão austera, formava uma presença imponente no cômodo. Grace lançou-lhes um olhar rápido antes de desvia-lo para longe novamente.
    – Só queríamos esclarecer o que você viu na represa ontem. – Continuou Croydon, sua voz ressoando na cozinha.
    – Você... – Jones deu início, dirigindo suas palavras diretamente à garota, – viu algo se mexendo na água e disse que viu uma garota fugindo da represa. E não temos certeza de quem é.
    Grace suspirou, inquieta, permanecendo em silêncio diante deles. Seus pensamentos estavam em turbilhão; ela claramente se sentiu pressionada pela presença dos detetives, que tinham os olhos cravados nela, sérios e desconfiados. Era como se eles quisessem desvendar um mistério, e ela era a peça-chave.
    – Veja, a falecida não tinha filhos e nem família. Então achamos que pode ter sido uma turista, ou alguém de fora da cidade.
    Explicou Croydon, o detetive mais velho, e se aproximou um pouco mais da garota, talvez na esperança de conseguir informações. Esse movimento parecia uma tentativa de intimidação sutil. No entanto, Grace não se deixou levar pela ação. Em vez disso, ela se apoiou com firmeza nas bordas do balcão atrás dela, erguendo seu próprio corpo, e então se posicionou sobre o mesmo, mantendo sua postura firme, como se estivesse pronta para enfrentar qualquer coisa que os oficiais pudessem lançar sobre ela.
    – Há algo que pode nos contar... – Continuou o homem em um tom calmo, gesticulando com sua mão, enfatizando os detalhes. Mas Grace o interrompeu abruptamente, enquanto desembrulhou um doce distraída.
    – Olha. – Com um gesto hábil, Grace sacudiu o pirulito no ar, capturando imediatamente a atenção dos detetives e desviando-a para o objeto amarelo que se destacava entre eles. Fazendo menção como se aquilo fosse importante ou parte integrante da conversa. Entretanto, aquela era uma tática sutil para desviar o foco da conversa, e a garota parecia domina-la com destreza.
    – Precisamos que se concentre. – Comentou Jones, tentando redirecionar a atenção dela.
    – É um escorpião em um pirulito. – Grace disse agitada, colocando o doce na boca de forma descontraída. Ela não estava disposta a colaborar com eles.
    – Como ela era? Cabelo claro, escuro... – Questionou Jones, mantendo-se firme em seu propósito.
    – Eu acho que não vi uma garota. – Grace murmurou, abandonando o pirulito por um instante. Ela inclinou a cabeça levemente para o lado, fixando um olhar sério nos detetives, que pareciam não acreditar no que a garota havia acabado de dizer.
    – Nenhuma garota? – Indagou o homem, claramente incrédulo.
    – Não. – Respondeu Grace de forma assertiva, sem deixar espaço para mais questionamentos.
    Os oficiais trocaram olhares, claramente frustrados por não conseguirem extrair respostas úteis da garota. A atmosfera naquele ambiente lembrava um interrogatório em uma cena de crime. Jones mantinha os braços firmemente cruzados sobre o peito, adotando uma postura autoritária, enquanto Croydon escondia as mãos nos bolsos de sua calça preta. A luz que entrava pela janela e a iluminação da lâmpada tornavam as cores da roupa de Grace ainda mais vibrantes, o que a deixava ainda mais em foco.
    – Estava escuro. Eu estava sozinha e acho que me apavorei e vi coisas que não estavam lá. – Proferiu Grace, comprimindo os  lábios mais uma vez. – Tenho uma imaginação hiperativa. Minha mãe sempre diz isso. – Acrescentou ela.
No entanto, a expressão de Croydon ainda transmitia insatisfação com a resposta da garota.
    – Espera, deixe-me ver se entendi. Não tinha nenhuma garota. – Jones murmurou impassível: – Mas você disse...
    Ela interrompeu, balançando a cabeça enquanto afirmava com confiança: – É, eu sei. Eu sei. Acho que me empolguei quando falei com o oficial ontem. Não tinha nenhuma garota. Mas eu com certeza vi uma mulher, uma senhora entrando na água e depois se debatendo. – Grace expressou essas palavras com tamanha clareza que os oficiais duvidaram do que ela mesma havia relatado no dia anterior. Aquilo parecia ser o ápice de sua explicação, e de fato era.
    – Certo. Então você viu uma senhora entrando na água... – Indagou Croydon, gesticulando com as mãos como se tentasse entender melhor o que a garota havia testemunhado.
    Os detetives perceberam que, naquele momento, tudo o que havia sido descoberto sobre o caso provavelmente tinha chegado ao fim. Se Grace soubesse de algo mais e estivesse escondendo, não conseguiriam extrair essa informação dela naquele dia.
    – Bom... É o suficiente. – Confirmou Croydon, dando de ombros para Jones, que o encarou de volta.
    – Legal. – Grace respondeu simplesmente, de forma inconsistente. – Então, está tudo certo? Eu não estou encrencada? – Os policiais sorriram diante da pergunta da garota, como se a resposta fosse óbvia.
    – Não. Não está. Só queríamos esclarecer algumas coisas. – Uma expressão ligeiramente indecifrável tomava o rosto de Grace, ela não sabia se os policiais estavam sendo sinceros com ela, considerando que não estava sendo totalmente verdadeira com eles.
    – Legal.
    – Você ajudou muito. Obrigado. – De fato, ela os ajudou, mas teria isso colocado em risco a promessa que fez a Claudia?
    Croydon deixou o local, mas Jones permaneceu imóvel, com os braços ainda cruzados fitando a garota, como se tentasse ler seus pensamentos.
    – Ei. Deve ter sido assustador o que você viu. Você tem alguém para conversar sobre isso, se precisar? – Jones falou com empatia, mudando sua postura gradualmente, talvez desejando ser visto como alguém em quem Grace pudesse confiar. A garota confirmou com um doce sorriso de canto, balançando a cabeça.
    – Sim.
    Seus pensamentos pareciam voar direto para o momento em que conheceu Claudia; seu rosto se iluminou, ligeiramente aliviada e feliz por ter alguém com quem conversar, mesmo que esse alguém ainda fosse desconhecido. Sentia-se grata por se tratar da garota misteriosa, que possivelmente só ela sabia da existência.

 Sentia-se grata por se tratar da garota misteriosa, que possivelmente só ela sabia da existência

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