Capítulo 18

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Por Manoela

Os dias tem passado rápido demais e eu não faço quase nada além de estudar. Não tenho saído muito de casa, tem um tempo que não vejo meus amigos, só nos falamos por mensagens.

Dei uma olhada nas quatro últimas provas da escola de dança que quero ir. Fiz e refiz elas por tantas vezes que perdi a conta.

A dor de cabeça tem se tornado constante nesses últimos dias e porra, tá foda. Ninguém além do meu pai sabe sobre a prova, estou com medo de falar com ele sobre isso.

Ligo o chuveiro e deixo a água gelada cair sobre meu corpo, a sobrecarga que está nas minhas costas, a sensação de que minha mãe está em todo lugar tem me consumindo ultimamente, é por isso que eu meto a cara nos estudos. Tentando tapar esse buraco que ela deixou.

E não está adiantando.

Tenho pesadelos com ela direto, em todos os sonhos ela morre, na maioria deles eu revivo aquele dia. Quando não são os pesadelos, eu fico vendo ela pela casa, uma vez até escutei sua voz. Não estou aguentando!

Assim que termino de tomar banho me enrolo na toalha e saio do banheiro indo pro meu quarto. Ponho uma roupa de dormir e me sento na cama, pegando meu fone e meu celular.

Eu ultimamente tenho sido dependente emocional de fones de ouvido. Faço tudo ouvindo música, se eu não estou com eles sinto que estou jogada no mundo. Música tem sido meus calmantes.

Melhor amigo 💙: Manu
Tá tudo bem? Você deu uma sumida.

Eu: estou bem.

Tem sido assim, ele me manda mensagem todos os dias e eu tento dar a resposta mais objetiva possível. Sinto que se eu ficar por perto, vou machucar mais ele quando eu for.

Por isso, acho que vai ser melhor assim. Eu só preciso criar coragem pra falar pra ele.

Quando percebo, as lágrimas descem sem o meu consentimento. Um sentimento de tristeza toma conta de mim e eu me derramo em lágrimas por vários minutos, as músicas nos fones também contribuem para que eu vá ao fundo do poço.

Meu pai não está em casa, hoje é um dos dias que ele vai chegar tarde.

Pra tentar me controlar, desço e vou na cozinha pegar um copo de água, na verdade uma garrafa. Aproveito pra fazer um pratinho de comida pra não dormir com fome e esquento no microondas.

Antes de subir, apago a luz da cozinha e pego a garrafa d'água que tinha deixado encima da mesa.

Entro no quarto e me deparo com ele  sentado em minha cama e lendo meu livro que estava na cabeceira. Assim que passo pela porta chamo sua atenção, a todo momento sinto seu olhar sobre mim.

Sem dizer nada, apenas me sento ao seu lado sentindo ele me encarando ainda. Começo a comer e ele se vira de frente pra mim.

Não consigo olhá-lo.

— Preta. — o bolo na minha garganta se forma novamente. — Preta, olha pra mim.

Engulo seco, paro de comer e olho em seus olhos, sentindo os meus arderem.

— O que aconteceu? — nego. — Cê sabe que pode falar comigo.

— Não é nada. — minha voz falha. — Tá tudo bem.

Não, não tá.

— Eu conheço você, Manoela. Sei que não está tudo bem. — pega o prato da minha mão. — Se você não quiser falar tudo bem, mas eu tô aqui. Você quer um abraço? — pergunta todo fofo.

"Sempre foi você"Onde histórias criam vida. Descubra agora