capítulo 12: deserção

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oi! não esqueçam de deixar um comentário no final do capítulo!

boa leitura!

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Selin Atakan não sonhava com o próprio casamento quando era criança.

É claro que ela idealizou muitas vezes qual vestido uma vez usaria para entrar em uma igreja antiga, com motivos românticos, muitas torres e hastes pontudas (como as imagens do Castelo Chantilly que viu pela internet quando um casal de famosos se casou, quando era apenas uma menina franzina e sonhadora) e um lindo, lindo vestido com uma longa cauda rendada, debruada em cetim, de um puro e cálido tom de branco.

Ela se viu comprando lindos vestidos para as suas Barbies, todos eles versões inocentes de vestidos adultos demais para uma criança, brancos e rendados — sempre com uma renda fina, cara, macia e um tom ofuscante de branco —, em que ela oficializava a cerimônia com um dos Max Steels que ela conseguia roubar com facilidade das coisas da Serkan depois da morte de Alex, já que ele não se interessava mais por coisas mundanas assim, como brinquedos.

Depois de fazê-los dizer os votos mais bonitos que a sua mente infantil poderia imaginar — às vezes versos de uma música em espanhol que ela conseguia se lembrar, como eu queria poder viver sem ar, como eu queria poder viver sem você —, ela os levava para uma cama ostensivamente decorada com os lençóis improvisados que fazia para as suas bonecas — uma fralda antiga que ela não usaria mais, o tecido de uma camisola muito usada — e eles se entregavam, assim, à noites luxuriosas de amor, complementadas com as breves cenas de sexo que havia entrevisto entre os dedos dos seus pais, que tapavam os seus olhos durante os momentos mais picantes de um filme que assistiam no conforto de sua casa.

Quando a sua Barbie engravidava, então, Selin amassava uma de suas blusinhas e forjava uma barriga redonda falsa, para alegar que o amor entre os dois concebeu um lindo bebê — que ela não tinha, assim como a Barbie grávida que ela implorou enfaticamente que a sua anne comprasse, negada com um argumento contundente de que aquela aberração iria, de fato, estimular que jovens influenciáveis como Selin engravidasse prematuramente.

Isso causou um pânico estranho em Selin, um medo subjacente de estar grávida ainda na infância, quando ninguém ousaria tocá-la, que foi crescendo até que a sua menstruação desceu e se alastrou em suas entranhas todas as vezes que o seu ciclo bizarro mudava as datas de suas visitas mensais e atrasasse por alguns dias, nem que fossem um ou dois. Mesmo que Selin tenha demorado a perder a sua virgindade, quando adolescente, depois de perder o seu primeiro beijo e tornar-se atraente para os meninos, havia esse medo contínuo de que um dia teria que confessar para a sua anne de que, sim, ela estava grávida.

Quando passou a engatar relacionamentos, ela se precaveu com ansiedade, usando pílulas do dia seguinte e exigindo que os seus namorados usassem camisinha, com medo de que fosse daquela vez que a sua anne se tornaria uma babaanne relutante do filho odiado de Selin.

Mas, naquela época, ainda que visse a sua anne trocar de absorvente entre banhos e o ciclo menstrual não fosse nenhum mistério de outro mundo, todo o mistério do casamento não estava no resultado de dois corpos humanos em um pequeno bebê que cresceria exponencialmente em vinte anos, resultando em novas pequenas vidas, em um ciclo interminável, interrompido apenas por um fluxo sanguíneo que demonstraria que a concepção não foi bem-sucedida; o mistério do casamento estava no pós-cerimônia, na lua-de-mel.

A lua-de-mel era o momento mais aguardado para Selin pois era o clímax literal de todo o enlace matrimonial; os noivos teriam um momento íntimo e único entre eles, privado, em que reforçariam todas as promessas oficializadas no altar, trocariam juras de amor exaltadas, confessariam as suas fraquezas e se abraçariam, suados, os seus corpos trêmulos pelo afeto físico compartilhado entre duas pessoas que se amam, compostas agora como um único elemento, unidos irrevogavelmente pelo casamento.

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