capítulo 4: realização

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Sei il vino e il pane

Você é o vinho e o pão

Un'esigenza naturale

Uma exigência natural

Sei un temporale che porta il sole da me

Você é um temporal que leva o sol de mim,

Dolcemente, mi spiazzi il cuore

Docemente, despedaça meu coração

Un'Emergenza D'Amore - Laura Pausini

Serkan Bolat era um homem de hábitos e ninguém poderia contestar este fato.

Ele acordava às cinco e quarenta e cinco da manhã todos os dias, tomava três ovos crus com atum e leite todas as manhãs antes de praticar o seu sagrado jogging, exceto nos finais de semana, quando praticava hipismo no haras da sua família, fora da cidade. Os seus ovos vêm da sua própria fazenda todos os domingos, frescos e livres de hormônios, pois as suas galinhas amadureceram naturalmente e são criadas soltas.

Durante o jogging, ele ouvia um audiobook, normalmente de finanças ou filosofia e recolhia o seu jornal impresso, bem old school, na caixa de correios.

Serkan tomava um banho frio em seu chuveiro opulento de dez jatos e lia durante meia hora, normalmente um clássico russo ou alemão presente na lista de 1001 livros para ler antes de morrer, momento em que tomava o seu café com calma e fumava alguns cigarros para fazer digestão.

Já de terno e gravata, Serkan entrava no carro e dirigia até a Art Life, onde ficava até anoitecer — e, algumas vezes, madrugada à dentro.

Na Art Life, contudo, Serkan, repentinamente, tinha dificuldade em manter uma rotina e, ironicamente, por causa de uma mulher.

Eda.

Inicialmente, ela não era Eda para Serkan.

Tudo começou quando Serkan não conseguia acertar as proporções para a maquete de um projeto, que seria impressa em poucas horas, no dia seguinte, e Serkan ouviu um assobio fino... Irritante.

Após alguns minutos com aquela cantoria na sua cabeça, que o distraía dos números na sua frente, ele decidiu interceder.

Caminhando com o peso de mil homens em seus pés, Serkan invadiu o corredor com ímpetos vingativos, chateado com o ruído incômodo, até encontrar a sua origem infeliz.

Uma mulher de cabelo castanho, longo e trançado, espanava as estantes da sala de Engin, com fones de ouvido simples em suas orelhas pequenas, descobertas. Ela era um pouco mais baixa do que Serkan, pouca coisa, que um simples salto alto poderia resolver e deixá-la da sua altura.

Vendo-a por trás, Serkan poderia distinguir que a cantora irritante fazia parte de sua equipe de limpeza, por conta do macacão cinzento de flanela que cobria a sua forma delgada e as botas pretas de borracha, parte do conjunto de equipamento de segurança pessoal disponibilizado pelo escritório.

Graças a proximidade de Serkan, ele poderia distinguir o assobiar da menina como uma versão pudica e doce de Hunting High and Low, do A-Ha, uma das bandas de sua infância.

A menina espanava os livros com reverência, alcançando as notas altas com talento e perseverança, duas qualidades que atraíam Serkan, mas não diminuíram o fato de que a garota estava interrompendo o seu trabalho, atrapalhando a sua concentração, com a sua cantoria intrépida e irritante. Serkan ainda a detestava apenas por respirar, mas ele foi aplacado com a escolha musical da garota.

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