Eu não conseguia dormir, meus olhos teimavam em ficar abertos e minha cabeça enchia de porquês.
Me levantei e trocei de roupa, vesti um calça de moleton cinza e blusa de algodão branca, desci as escadas silenciosamente com o meu arsenal, caminhei até o jardim, a lua ainda dominava o céu e o orvalho umidecia os meus cabelos amarrados.
Deitei na grama e olhei para a lua, algo estava diferente, eu não conseguia parar de pensar naquele olhar, eu não via nenhum dos sentimentos vividos naquele homem.
Quem é ele? E porque me olhou daquela forma? E o cheiro, eu posso até sentir o gosto nos meus lábios. Tenho que descobri porque esses fatos mecheram tanto comigo, nenhum de meus métodos foi capaz de me fazer ignorar.
Balançando a cabeça repetidamente levantei e apanhei minhas espadas e decidi que o melhor por hora era me distrair treinando.
Amanhã seguinte Lorde Pelletier andava de um lado para o outro, irritado na sala de estar.
- Quero aquele desgraçado morto. - Balançou seu dedo indicador no ar perto do General Derek.
- Senhor, nós ainda precisamos do homem, no devido momento ele será devidamente punido. - Disse calmamente Derek.
- Odeio essa gente.... - Massageou sua barba por fazer. - Prepare nossa partida para o final da tarde senhorita Alice. - Ordenou o Imperador para a atrapalhada e franzina mulher com um enorme óculos quadrado.
- Imperador, peço permissão para ficar no Bloco 7. - Pedi depois de Alice sair apressada com sua prancheta.
- Porque eu permitiria tal coisa? - Perguntou Erison.
- Estou desconfiada de algumas pessoas que possam estar envolvidas no atentado e quero tirar minhas dúvidas em segredo. - Argumentei com receio dele não permitir.
- Está bem, dois dias apenas você terá, precisarei de seus serviços em breve. - Concordou Lorde Pelletier.
Assenti e me retirei diretamente para o centro da cidade. As ruas estavam mais sossegadas do que o dia anterior, o vento estava frio, caminhei até a feira que ficava colada a praça, as barracas pregadas uma as outras, lotadas de pessoas, me lembrei daquele homem de cabelos negros com aquelas crianças, fui em direção de onde teria visto pela última vez.
As ruelas estreitas eram sujas e cheiravam a algo podre, visivelmente largados a própria sorte. Um grupo de crianças brincava no chão imundo, Eu me aproximei e abaixei para falar com elas.
- O que estão fazendo? - Perguntei curiosa.
- Brincando de dado. - Respondeu o garotinho de olhos castanhos. - Quer brincar?
- Pode ser. - Sentei ao lado dos meninos. - Onde vocês moram? - Estava intrigada, como pessoas viviam naquele lugar? Se bem que comparado a mim eles estavam com uma tremenda sorte, porém o que vivi ninguém devia passar.
- Nossa casa é ali. - A garotinha ruiva apontou para o mesmo casebre que eu tinha avistado aquelas crianças doentes e sujas não muito diferentes das quais estavam na minha frente.
- O tia Liam cuida da gente muito bem. - Soltou o menino de olhos castanho. - Shhhh, é segredo lembra? - Cutucou a garota ruiva.
- Tudo bem, só estava preocupada, vocês são muito pequenos para viver sozinhos, esse tal de Liam é bom para vocês de verdade? - Acariciei o cabelo cedoso do garoto loirinho que a olhava com admiração.- Ele é muito bom. - Exclamou ele.
O telhado frágil do casebre chiava toda a vez que eu dava um passo, decidi ficar parada lá e ouvir
- Você viu o que aconteceu com o rebelde bárbaro Hubertus? - Perguntou o homem de cabelos negros.- Vi, eles sempre tomam esse tipo de atitude imprudente. Poderiam ter estragado todos os nossos planos. - Comenta o tal de Hubertus.
- Temos que ser mais cautelosos, o imperador está cercado de uma excelente protetora. - Disse ele sentado na cadeira de madeira velha. O homem de cabelos negros.
- Eu sei Antônio infelizmente é verdade. - Esfregou as têmporas com expressão triste.
Como pude não notar? Esse tal Hubertus era o homem que me olhava de um jeito desconhecido. Provavelmente ele e seu cúmplice são rebeldes, talvez os mesmos que enviaram Tobias.
Tenho que saber mais desse homem, Hubertus.
Desperto de meus pensamentos com o barulho das crianças entrando na casa.
- Oi tio! - Exclama a garotinha ruiva.
- Oi Júlia, espero que tenham se divertido, precisam tomar banho chamem Lene. - Orientou Antônio.
-Está bem. - Concordou a garota levando consigo o resto do grupo.
- Estão mais fortes do que dá última vez que os vi. - Comentou Hubertus. - Na próxima semana trarei mais órfãos. - Suspira dando um longa pausa.- Isso não pode durar mais nem um segundo, se a carga horária dos trabalhadores aumentar as mortes cresceram, esse homem não se contenta em nós matar periodicamente e roubar nossas crianças? - Pigarreou irônico.
- Parece que não meu amigo. - Dito isso Antônio, deu alguns tapinhas nas costas de Hubertus.Porque eles falam dessa forma de Lorde Pelletier? O que eu estou deixando passar, é claro que existe os dois lados da moeda, eu preciso saber os motivos pelos quais eles anseiam tirar o Imperador do poder.
Minha mente voa como um leque de ideias para alcançar meu desejo, volto para a casa do prefeito, pelo caminho reflito no que ouvi, já está tarde.
Quando chego ligo imediatamente para o General o avisando que irei voltar para Herkandrun amanhã mesmo, já está na hora, e o que quero não está aqui.
Às sete horas o aeroplanador chega para me buscar, não dura muito tempo a viajem, logo estou em meus aposentos.
Lembro-me de dois anjinhos que deixei e me apressou para encontra-los.
Estão na sala de treinamento, não conseguem me ver, vou sorrateiramente até eles e os assustam.
- Olá anjinhos, sentiram minha falta? - Digo cantarolando.
- Você nos assustou, sentimos saudades. - Fala Endy correndo para me abraçar.
Esses são meu pequenos protegidos, sou encarregada de treina-los, cada casal de crianças e trazido de suas casas somente aqueles especiais, para sabermos quem são, nós fazemos um exame de sangue em cada cinco anos.
E os meus são mais do que especiais, Endy e Hugo Petit são gêmeos, os chamo de anjo porque eu os considero as crianças mais lindas do mundo, eles possuem enormes olhos mel, que contrasta perfeitamente com os cabelos castanhos e a pele alva.
- A senhora demorou um tempo pra voltar, trouxe algo pra gente? - Pergunta Hugo pulando em meu colo.
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Alfa
Science FictionQuando alguém é exposto a crueldade, se torna incapaz de sentir algo além do horror. Será? Iana Aubry foi criada para ser uma máquina de guerra pelo perverso Erison, que planejou a vida dela como seu psicopata particular, porém ela descobrirá que se...