Capítulo 4

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- Perdão, esqueci totalmente de trazer algo pra vocês. - Disse levando a mão a testa ao me lembrar. - Mas, que tal se nós tivéssemos o dia de folga e aproveitarmos para brincar, lá no meu quarto onde é mais privado, aprendi uma brincadeira nova. - Lembrei de como a menina me rodava e do que ela fez.
- Ótimo! Vamos logo! - Disseram em uníssono, correndo e me arrastando para o meu quarto.
Os corredores da Concentração eram amplos e mórbidos, todo cinza. A cada cinco metros uma câmera observava cada movimento, elas só não bisbilhotavão dentro dos quartos, pelo menos não dentro do meu, me certifique disso anos atrás quando estava me sentindo vigiada e sufocada.
O meu quarto é, bem, eu só tinha três escolhas, preto, branco ou cinza, e então decidir pelo preto, reflete a minha personalidade, não que eu seja sombria, acho que não é, mas pelo fato de eu ser neutra, não me ressalto, fico no meu canto observando, quieta.
Todo o cômodo era razoavelmente grande. Talvez por eu ter um certo status, uma cama grande no lado esquerdo, ao lado o armário grande e uma televisão a frente da cama, do outro lado do quarto um balcão que separa a minha cozinha de onde eu durmo, Endy sempre diz que meu quarto é enorme, contudo eu sei que olhando para ele não pareça pois, sempre tive oportunidade de estar em lugares verdadeiramente espaçosos, comparando com o quarto dela.
- Pronto, estão com fome? - Pergunto andando em direção a geladeira.
Eles balançaram a cabeça em sinal de sim, preparei um lanche antes de começarmos a conversar e brincar.
- Como passaram sem mim esses dias? Ninguém os perturbou não é? - Falei me dirigindo ao gordo asqueroso Mathieu Rossi, o supervisor chefe dos aprendizes. Cada ano nos fazemos a Compactação, funciona com um teste sanguíneo e de habilidades intelectuais, que é realizada em todos os Blocos, e, dependendo do resultado a quantidade de crianças recolhidas. Cada Protetor - que no caso é a meu ofício - fica com um casal de Compactados com o objetivo de treina-los.
Eu conheço Mathieu desde sempre, pois um dia eu fui Compactada, e eu posso assegurar que ele não merece qualquer tipo de respeito, por esse motivo mantenho minhas crianças longe dele. Fiz uma promessa a mim mesma a uns meses atrás no dia da Seletiva, onde os Compactados são direcionados para os seus respectivos Compactuadores, afirmei que não deixaria que elas sofressem o mesmo que eu, que as treinariam contudo, elas iriam ser crianças.
-Ele ficou cercando a gente, e olhando estranho para Endy. - Hugo sempre detestou Mathieu, mesmo sendo vinte e um minutos mais velho que Endy ele se considerava responsável pela segurança da irmã.
- Deixe ele comigo. - Digo dando uma piscadela. - Levantem! Deem as suas mãos, vamos andar, e cantar uma musiquinha, o que acham? - Sorri pela careta de Hugo.
- Isso é muito infantil e ridículo. - Crusa os braços em cima do peito, com um ar de superioridade.
- Hugo, tudo tem seu tempo, nunca devemos ultrapassar nossa fase, você é uma criança e deve viver isso, pois não tem como voltar, faça o agora valer a pena. - Toco o narizinho fino e fofo.

A sala de treinamento era consideravelmente grande, com os mais variados equipamentos de treino, o teto de vidro onde a luz do sol iluminava de manhã e anoite as luzes de led tomavam seu trabalho, talvez o local mais colorido, o vermelho queimado nos lembrava o sangre que um dia iríamos derramar.
Nosso cronograma de treino era cansativo, todos os dias, os Compactados treinavam juntos, combate corpo a corpo, até a hora do almoço. Pela tarde cada Compactuador treinava seus Compactados separadamente, e, dependendo de nós havia treino anoite. Eu não gosto de exigir muito deles, quero que aprendam os deveres, mas não se matem para fazer isso.
Meus garotos treinavam escalada com a minha supervisão, quando senti um peso em minhas costas, toda vez que sinto isso sei quem está se aproximando.
- Olá querida, voltou cedo para adestrar seus fedelhos. - Mathieu Rossi sempre conseguia me provocar desejos em mim e um deles era,  arrancar a cabeça dele.
- Olá abutre, como passou esses dias sem mim? Ah, deixa pra lá, dá pra ver que morreu de saudades. - Digo sem desviar minha atenção dos gêmeos que estão quase no topo.
- Me respeite, sua v...
- É melhor ter cuidado abutre, eu amo o som que saia da minha espada quando decepa cabeças. - Falo baixo perto do ouvido dele, fazendo com que ele trema de medo. Ele me olha desconfiado e sai, observo como ele perturba outra equipe, e agora que posso me defender ,ele treme com minha ameaça.
- Sou demais, consegui chegar antes de você maninha. - Hugo tira seu equipamento de segurança enquanto Endy está descendo.
- Parabéns Hugo, conseguiu escalar um obstáculo de treze metros em sete minutos. - Endy se aproxima com o olhar triste. - Não fique triste Endy, á tarefas nas quais você se sai melhor do que seu irmão, dedique-se e você vai quebrar suas próprias barreiras, nada é impossível só basta acreditar. - Continuei me dirigindo para Hugo. - E agora você vai limpar essa bagunça que fizemos, enquanto eu e sua maninha vamos comer, quando terminar pode vir.
- Mas porque? Eu venci! - Pergunta indignado.
- Isto, é pra você aprender a não contar vantagens de suas vitórias, um bom soldado sempre é humilde pois ele sabe que os exaltados um dia serão humilhados. - Digo guiando Endy para o refeitório.
* * * * * * * * * *
Nós estávamos almoçando, e depois de algum tempo Hugo chegou emburrado, estava na metade da comida quando um holograma de Erison invadiu a sala.
- Boa tarde Compactados e Compactuadores, peço desculpa por interromper, contudo venho convocar seu treinadores para a Sala Escarte, daqui à trinta minutos todos devem estar presentes e os demais irão diretamente para o seu respectivo dormitório.- Disse e logo após de um sorriso calmo, sumiu.
Olhei para o resto dos meus colegas de trabalho e todos demonstravam a mesma expressão: Medo.
Tentei imaginar o que ele iria nos mandar fazer desta vez e pelo o que pareceu deveria ser algo muito importante e perigoso, pois ele nunca aparecera assim, mesmo com seu jeito ríspido nunca interrompeu nossa alimentação. E eu estava disposta a não só descobrir do que se tratava, mas de todas os segredos que o Imperador me escondera todos esse anos.
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