Capítulo 2 - Tina

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Todos os palestrinhas haviam comparecido, como era esperado que eles fizessem, afinal, aquele era o momento deles. Ou ao menos era o que parecia para Tina, já que o auditório estava cheio de jovens palestrinhas. Ela viu alguns poucos colegas do Tártaro, eram os alunos com as melhores notas daquele nível da escola e, além disso, seis deles faziam parte do time de apoio, ou seja: praticamente só os alunos que iriam representar o Tártaro na competição estavam lá naquele dia.

Tina era uma garota rechonchuda, no auge dos seus 17 anos. Tinha os cabelos longos e castanho-avermelhados, mas sempre os mantinha preso num coque, sua pele era clara e tinha traços finos, não era diferente de tantas outras colegas ali presentes exceto por um pequeno detalhe: ela era uma rat.

Aquela seria a 58ª Competição de Conhecimentos Básicos Interclasses. Apesar de que o nome "Interclasse" era uma mera formalidade. A competição era formada por apenas três grupos de estudantes, um de cada nível da escola: o Tártaro, a Superfície e o Olimpo. Todos estavam esperando ansiosamente por aquele evento, já que três anos antes, o ARES invadiu a escola e sequestrou a diretora. Com receio de colocar os alunos em risco, a escola optou por suspender o evento por algum tempo. Olhando agora, aquilo parecia ter sido há tanto tempo que nem parecia sequer ter existido, como uma lembrança vaga e já quase esquecida da infância. Tantas outras coisas haviam acontecido depois do sequestro da antiga diretora, que acabou morta como todas as outras vítimas do ARES.

Tina estava sentada na área reservada para os alunos do Tártaro e enquanto fazia exercícios de respiração junto com a Kabila que estava extremamente nervosa, ela notou os palestrinhas. Todos eles carregavam tablets holográficos cheios de textos com sabe-se lá com o que escrito. Junto a eles haviam professores tirando dúvidas de última hora e dando dicas sobre como agir e como falar. Os alunos do Tártaro também estavam acompanhados de um professor, o sr. Donovan, mas a diferença entre ele e os outros professores era que ele estava do lado de fora fumando um cigarro eletrônico, ou seja, os alunos do Tártaro estavam ali completamente sozinhos.

Cada grupo de alunos possuía quatro componentes principais e mais seis do time de apoio. O time de apoio usava um crachá holográfico para diferenciá-los dos outros alunos. De repente, um fio de pensamento passou pela mente de Tina e ela deixou Kabila junto da irmã, que também estaria competindo, e foi até a lateral do palco e correu os olhos pelo auditório. Rapidamente encontrou o time de apoio do Tártaro e o da Superfície, que só tinha três membros, mas, como ela havia imaginado, a equipe vinda do Olimpo não possuía time de apoio. Eram apenas eles. Isso por si só já dizia muito do que os professores achavam dos alunos de cada nível.

Num ato impulsivo, Tina foi até Caio e pediu que ele ficasse no lugar dela, com a desculpa de que ela não conseguiria competir por estar muito nervosa. O colega recusou num primeiro momento, porém, Tina insistiu e ele acabou aceitando, já que a competição já estava para começar. O sr. Donovan sequer pareceu notar a substituição.

Assim que entrou no auditório, Tina duvidou das chances da sua equipe de ganhar, mas, ao olhar para os concorrentes, ela teve certeza de que era impossível. O time do Tártaro seria massacrado pelos outros. Nunca tiveram chance alguma. Só estavam ali para fazer os outros se sentirem melhor. Eram meros bobos da corte e nenhum deles parecia se dar conta daquilo, como se estivessem enfeitiçados e completamente entregues ao momento, sem nunca notar que eram na verdade meros objetos de entretenimento dos palestrinhas.

Apesar de tudo, ela acabou resolvendo ficar e acompanhou toda a competição da plateia, e quando o showzinho chegou ao fim, o que ela esperava aconteceu: Tártaro ficou em terceiro lugar com 20 pontos, Superfície em segundo com 60 e o Olimpo em primeiro com 120 pontos. Não havia nenhuma surpresa naquilo, mas os palestrinhas agiam como se houvesse, e os alunos do Tártaro também. Pareciam extremamente desapontados, Kabila chorava num canto abraçada à irmã, era como se eles realmente acreditassem que em algum momento haveria a chance de vitória.

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