Parte II - Capítulo 6 - Tina

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Tina havia guardado as compras e voltado para a FROG. Suas atividades da escola estavam todas prontas e não havia muito a ser feito. Quando a mãe chegasse as duas comeriam e então iriam se sentar diante da TV para assistir a um reality show que a mãe adorava. Ficariam ali até às 22h e então cada uma iria para seu quarto minúsculo e iriam dormir e tentar descansar para o dia que teriam algumas horas mais tarde. Pela manhã a mãe iria até o centro comunitário, mas não antes de acompanhar Tina até o ponto do ônibus que ela pegava para ir à escola.

Mirian costumava chegar do trabalho por volta das 20h. O sistema de transporte público da cidade, apesar de relativamente precário no que dizia respeito às acomodações, era bastante eficiente e não costumava atrasar, e, mesmo que algum imprevisto acontecesse, não atrasava mais do que trinta minutos. Assim, quando o relógio da TV marcou 21:23h e sua mãe ainda não havia chegado, Tina começou a ficar preocupada. Mesmo que tivesse ficado presa em algum engarrafamento ela teria mandado uma mensagem avisando.

Tina checou o telefone da casa pela 18ª vez na última hora. Ainda não havia nada. Nada na caixa de mensagens, nada nos recados, nenhuma ligação perdida. Não havia absolutamente nada. Nenhum sinal de onde Mirian poderia estar.

Pensou em ligar para o trabalho da mãe para saber se ela ainda estava por lá. Era uma boa ideia. Sentiu-se boba, deveria ter pensado naquilo há muito tempo. Pegou o telefone da casa e então começou a passar a lista de contatos até encontrar o número da fábrica. O lugar funcionava 24h, então sempre deveria ter alguém para atendê-la. O telefone chamou algumas vezes e então a ligação caiu. Tina ligou novamente então foi atendida no segundo toque.

— Future, como posso ajudar? — Era um homem que falava.

— Boa noite, me chamo Tina e gostaria de saber se a minha mãe ainda está aí.

— Qual o número de identificação da sua mãe? — A voz do homem era fria e monótona.

Tina falou o número e ouviu o som de teclas batendo. Aguardou. Fez-se silêncio do outro lado.

— Moço? — Tina chamou. — Você ainda está aí?

— Sim, perdão. — O homem respondeu. — Parece ter havido algum problema com o nosso sistema, irei contatar o supervisor dessa base e retorno em alguns minutos, por favor, aguarde na linha.

Tina suspirou e aguardou. Uma musiquinha chata e levemente irritante começou a tocar e ela ficou ali, com o telefone no ouvido pelo que pareceram eras, enquanto pedia para que a porta abrisse e sua mãe aparecesse, dizendo que o telefone havia descarregado ou que ela havia saído com alguns amigos do trabalho e se atrasou. Qualquer coisa, Tina não se importava. Só queria que sua mãe voltasse logo.

A música parou e então a atenção de Tina voltou completamente para a voz do homem do outro lado da linha.

— Senhorita? — Ele chamou e Tina respondeu com um "sim". — Sua mãe já saiu daqui. Ela saiu no horário de sempre: exatos dez minutos após o fim de seu turno. Há algo de errado? — Ele perguntou e quase parecia que ele se importava.

— Sim. Ela ainda não chegou em casa.

— A que horas ela costuma chegar?

— Por volta das oito da noite.

— Bem, senhorita, pode ter havido algum problema na estrada, sabe como são esses ônibus. — O homem falou e deu um riso claramente falso. — Aconselho que a senhorita aguarde com algum adulto responsável até que sua mãe retorne, e acredito que não deve demorar muito mais para que ela chegue. Não há motivos para se preocupar. — O homem se calou e aguardou alguns segundos, não tendo obtido uma resposta de Tina, voltou a falar. — Isto é tudo?

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