Conhecemos

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Dou-vos a conhecer Brooke Peters, uma rapariga de 20 anos, que adora ler – pois são as páginas de um livro que me possibilitam sair da vida onde estou presa.

Brooke

Estive no Starbucks até agora a beber café com leite e a acabar uma tese que tenho de entregar esta semana, para o pior professor de Direito da querida Universidade de Washington.

Devem estar uns 7º graus, numa das noites em que ando pelas ruas de Seattle até chegar ao apartamento onde estou alojada, daí ter as mãos enroladas na cardigan que trago vestida como tentativa de sobrevivência.

Ouço "ballad of a homeschooled girl" nos auriculares e quando estou quase a avistar a minha residência, sou surpreendida por um gajo que me encosta à parede do "Joe's Supermarket", segura-me o rosto com os polegares e as palmas das mãos na parte de trás da minha cabeça e beija-me.

Apenas não o sinto perto de mim porque tenho os livros e o MacBook entre nós.

Ao arrancar-me os fones com o sobressalto, escuto vozes dizerem algo do género «deve ter seguido pela NE 45th St» e finalmente consigo afastá-lo.

Quando o encaro observo um rapaz de cabelo castanho, olhos igualmente da mesma cor e alguma parte da barba ligeiramente por fazer.

- Consegues me explicar o que foi isto?

- Desculpa a língua, era pra ser só um beijo. - faz aquela típica continência de despedida e avança alguns passos mais apressado, todavia sigo-o, dado que a sua resposta não me satisfez minimamente.

- Desculpa...

- Mason. - acrescenta.

- Certo. Agradecia que me desses uma resposta formidável.

- Não sei o que essa palavra significa, mas eu já pedi desculpa e 'tou com pressa.

- Vou ter de chamar a polícia por importune a uma cidadã? - paramos.

- Nem penses!

- Algo que me queiras dizer então?

- Sei o que é que vais achar de mim e à vontade, 'tou-me a lixar pro' que os outros pensam, mas aquilo que vou dizer é verdade.

- Ok eu não te conheço, por isso não tenho porque opinar à cerca do que tu fizeste ou deixaste de fazer.

- Boa. Os bofias 'tavam atrás de mim.

- Desculpa vou ter de retirar o que disse. Que merda é que tu fizeste?!

- Absolutamente nada.

- Podes começar a explicar-te.

- Podemos ir pra tua casa ou assim, não é seguro pra mim aqui.

- 'Tás-te a passar? Queres que leve um possível criminoso pra minha casa?

- Disse-te que não sou nenhum criminoso.

- Certo.

- Pronto, pra que lado é a tua casa?

- Eu não disse que podíamos ir, apenas concordei que não te devia ter insultado.

- Então eu explico-te lá? - trás um pequeno sorriso à conversa.

-  Não voltes a sorrir pra mim.

- Combinado.

- Segue em frente.

- Ok, tens é de ir mais rápido.

- Queres que corra com o PC e com os livros na mão?

- Eu levo.

- Ah.

Sinto-me mal por tê-lo ajuizado há pouco. O meu relógio diz que passaram 3 minutos e até agora o rapaz não me demonstrou nada, além de alguma simpatia e determinação.

É por isso que devemos evitar julgar as pessoas: porque raramente sabemos de tudo. Só há uma história completa que nós conhecemos, a nossa.

Deposito a chave na ignição e abro a porta, revelando uma sala de estar parcialmente desorganizada, não porque me identifico como sendo uma dessas pessoas, mas porque realmente não tenho tido muito tempo para me dedicar a essas tarefas mais triviais.

- Olha vou ser franco.

- É o mínimo acho eu. - agora que observo os olhos dele na luz vejo que são castanhos esverdeados.

- Foi acusado de assédio. - não tive reação. - Mas eu - dá um passo em frente, de imediato recuo eu 1. - Já sabia que isso te ia assustar.

- Eu não sei se isto foi muito boa ideia.

- Não, tens de me ouvir.

Talvez eu me tenha enganado. Mulheres. Pessoas. É o nosso corpo, o nosso respeito, o nosso consentimento que estamos a falar. Ninguém tem o direito de nos retirar nada disso. Apenas consigo constatar um facto:

- Assédio sexual é algo muito grave.

O meu único crime foi apaixonar-meOnde histórias criam vida. Descubra agora