Caso.

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Brooke

Já com vários minutos de viagem começo a perceber uma coisa:

- Vais levar-me à praia?

- Muito bem Sherlock. O que é que te levou a essa conclusão? A placa a dizer «Mar a 950 metros» ou o facto de eu ter muda de roupa na parte de trás do carro?

- Eu não tinha reparado em nada disso pra' que conste.

- Então mas espero que te mentalizes já que é pra lá que vamos.

- Fazer o quê em concreto?

- Surf.

- Não vai acontecer. - por instantes retira os olhos do cruzamento e olha para mim.

- Porquê?

- Não trouxe biquíni nenhum, génio. 

Tínhamos chegado. Ambos saímos do carro já apreciando a extensão de areia e ondas do mar, no que seria o cenário perfeito para um dia entusiasmante, se um idiota qualquer não se tivesse esquecido de me pedir no mínimo um segundo conjunto de roupa. 

- E quê?

- Desculpa, mas não vou molhar a minha roupa interior.

- Vá lá. - expressa um ar sensível com o olhar e de repente ajoelha-se. - Vá lá!

- Levanta-te por favor. - peço desvalorizando a sua persistência.

- Não até ter a certeza que vens.

- Eu não vou Mason.

- Anda lá! - começo a ver um grupo de pessoas a chegar. Vários, na realidade.

- Ok ok, mas levanta-te e não me faças passar vergonhas.

- Com esta carinha e este charme não há quem resista.

- Foi mais pela atitude cringe. - coloca-se a pé.

- O que interessa é que tu já disseste que sim e não podes voltar atrás.

- Sim, em relação a isso...

- Brooke.

- Eu fico a ver-te! - afirmo bastante otimista.

- Ensino-te as bases fora de água. - negoceia.

- Temos acordo.

- Bem me pareceu. 

Seguimos pelo pavimento minimamente arranjado da praia, até irmos buscar 2 pranchas e um fato. A verdade é que só estávamos nós os dois no recinto balnear, contudo não esperava que ele fizesse o que fez.

Quando dou por mim tenho o meu «não amigo» a tirar a camisola e ficar de tronco nu.

- Vais despir-te à minha frente?

- Ah pois esqueci-me que tu és virgem.

- O que? Não. Ok. Eu já vi rapazes sem roupa antes. - o seu olhar passou do botão das calças para o meu rosto, bastante surpreso pelo que eu acabava de afirmar.

Por favor, eu tenho um irmão mais novo e também já vi rapazes sem t-shirt.

- OK...

- Não era bem isto que eu queria dizer.

- Ya. - solta uma gargalhada. Reviro os olhos e viro-lhe costas.

- Vou ficar à espera lá fora.

- Á vontade.

Juro que idiota! E nem sei se me refiro a ele ou a mim.

Mas quem é que me pode julgar neste momento, o rapaz parecia que tinha saído da capa da GQ para a minha vida.

Bom temos é de parar de pensar nos abdominais do teu «não amigo». Sim. Nem que seja para manter o profissionalismo, visto que a minha tarefa é ajudá-lo no seu caso. E não ter uma caso com ele. Caso contrário chumbo logo à disciplina de profissionalismo fundamental em advocacia. 

Também tenho de parar de repetir a palavra "caso", porque eu não tenho nem quero ter nenhum "caso" com ele. Pensando bem, eu tenho: um "caso"... Ah vocês entenderam!

Pouco depois... lá estava ele novamente de tronco nu à minha frente. É, não vai ser uma tarefa fácil. 

- Siga.

- Yupi. - expresso com ironia. Assim que pego na prancha percebo o quão pesada ela é, o que  nunca me passou pela cabeça.

- Já agora, queres que te ajude a levar? - parecia que me tinha lido a mente. Ou isso ou viu a minha cara de esforço para carregar aquilo. Sim, provavelmente a segunda.

- Ok por acaso dava jeito.

O espaço que nos separava diminui significativamente ao partilharmos o transporte do material de surf.

E se isto ia continuar a acontecer é me importante conhecer a pessoa ao meu lado o máximo possível, faz parte do caráter de uma estudante de Direito, acreditem.

- Então também fazes surf?

- O meu pai ensinou-me. - permanece a olhar em frente, enquanto eu variava entre olhá-lo a ele, ao chão ou o horizonte. - Acho que te disse que ele fui para a Austrália. Bom basicamente dedicou-se à vida de sonho que queria. - deteto alguma frieza no que acaba de dizer. - E eu estou a ser julgado pela justiça e tenho turnos decentes num restaurante. - não fazia ideia do que responder.

- Pois. Lamento.

- Eu também. - porque é que todas as perguntas que lhe faço acabam em resposta aos "family issues" dele? Se calhar devia parar.

O meu único crime foi apaixonar-meOnde histórias criam vida. Descubra agora