Prólogo: Choque e Desilusão

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Manjirou's Pov On

  Já fazem alguns anos que eu auto declarei-me como ateu, não acredito em absolutamente nada, todavia, cá estou: sentado na mesa da sorveteria em que combinamos com nossos amigos de nos encontrarmos, parado com os olhos arregalados diante do pedido de namoro mais cafona do século — não diria isso se eu quem estivesse sendo pedido em namoro — feito pelo cara, cujo tenho um crush fodido, para minha irmã, metade do meu sangue, e implorando para algum Deus me tirar desse show de horrores. E eu não posso sequer chamar ela de talarica, ela nem sabe, ninguém sabe que eu deixei de ter uma queda pelo desgraçado do meu melhor amigo para ter a porra de um penhasco. Então sim, caralho, assistir aos dois pombinhos se beijando enquanto se abraçam faz meu coração doer, e não quer dizer que é um infarto, infelizmente. E, sim, estou com raiva, muita raiva. Fato curioso: a raiva é uma emoção gerada a partir da tristeza que, por ser tão profunda, nosso cérebro passa a liberar maior quantidade do neurotransmissor que nos faz ficar na defensiva para evitar uma possível depressão. Resumindo: pais que não validaram a tristeza de seus filhos, criam um adolescente com mudanças hormonais e com uma incapacidade de filtrar a própria tristeza criando, assim, crises de raiva e choro por raiva. Então sim, pai, você tem grande participação nessa merda que eu tô sentindo, desgraçado.

  Foi bem aí, enquanto pensava nisso, que eu percebi que estou descrevendo todos os meus problemas de auto-conhecimento emocional e, que se eu não sair agora, eu vou me colocar numa situação bem um pouco confortável. Dessa forma, me levantei e murmurei para Takemichi que esqueci algo na minha casa e iria buscar. Lembrando que não há nenhum erro de conjugação verbal nessa frase: eu iria buscar, não vou buscar porque vou fazer outra coisa que com certeza envolve chorar de raiva, ciúmes, inveja, depois partir pra auto-depreciação, chorar mais um pouco, entrar em crise existencial, e finalmente chegar ao primeiro estágio: negação. É comum meus colegas de escola me perguntarem como sei tanto sobre psicologia, sistema nervoso, etc. A resposta é simples: minha terapeuta não quer perder mais um paciente enquanto está de licença por causa das últimas semanas de sua gravidez, inclusive, ela me convidou pra visitá-la no hospital quando o bebê nascer, claro que eu vou. Shinichiro me colocou na terapia depois que nossa mãe piorou da doença e que eu acabei cortando a boca de um amigo, deve fazer uns 6 anos desde que isso aconteceu e 2 anos desde que minha mãe foi internada no hospital.

  De toda forma, não importa mais, já estou há horas andando sem rumo, não me surpreenderia se já nem estivesse mais em Shibuya, o céu está até amarelado indicando que a noite se aproxima cada vez mais. Por incrível que pareça, não me sinto fisicamente cansado por andar tanto, mas sinto dor e uma queimação nos olhos por tanto chorar. Eu sabia que nem tinha chances com o Kenzinho, vulgo Draken, sempre soube, mas ainda tenho o direito de me sentir mal. Mesmo que toda noite eu dissesse para mim mesmo que Emma ficaria arrasada se eu ficasse com Kenzinho, ou que nunca poderia tê-lo, pois sempre notei a forma que ele olha para minha irmã, ainda sinto dor. Inveja seria mais adequado. Sendo sincero, acho que eu deveria parar de chama-lo de Kenzinho, dói muito até mesmo pensar nesse apelido que ele tanto me pedia para não chamá-lo.

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Eu Vou te Amar como um Idiota Ama|| SankeyOnde histórias criam vida. Descubra agora