Na hora errada

Fim do namoro

    Fiquei encarando aquela cena por vários segundos, sem acreditar nos meus próprios olhos. Aquilo só poderia ser uma pegadinha; não pode ser real.

    Olho para o meu namorado. Seus cabelos pretos e lisos estão bagunçados, e seus olhos azuis estão fechados em um sono sereno. A vaca ao seu lado é Karina, minha melhor amiga.

   Tem como a situação ficar pior? Acabei de descobrir que fui traída pelo meu namorado com minha melhor amiga. Isso é duplamente doloroso; as pessoas que você mais ama podem te destruir em segundos.

   Eu poderia ter batido neles, poderia ter ido embora, pois o que vejo não precisa de explicações. O nosso relacionamento acabou ali. Poderia ter armado um barraco ou xingado os dois com todos os nomes ofensivos que consigo lembrar.

  Porém, a minha reação foi gritar. Gritei para aliviar a raiva e o nojo que sinto nesse momento, para extravasar a dor que me destrói. Eles conseguiram acabar com a pouca felicidade que eu tinha, deixando apenas um vazio.

Meu grito fez os dois caírem da cama, assustados. Dylan me encarou confuso, mas logo esboçou um sorriso lindo, como se estivesse feliz por me ver ali. Ele estava zoando comigo? Ele estava feliz por eu flagrá-lo com outra mulher?

Dylan deu dois passos na minha direção, enquanto eu me afastava, tentando ficar o mais longe possível dele. Não quero que ele se aproxime, nem que encoste em mim.

— Você está bem? Por que você gritou? — perguntou, confuso.

— Você está de palhaçada com a minha cara? Você me traiu e ainda tem coragem de perguntar se estou bem...

— Eu não te... — Ele se interrompeu ao perceber que estava completamente pelado. Puxou rapidamente a coberta da cama, se enrolando nela. — Eu posso explicar; não foi nada disso...

— Não tente negar o óbvio, Dylan. Nós transamos, inclusive estamos tendo um caso há meses. — Karina respondeu com um sorriso malicioso.

A expressão dela não demonstrava nenhum arrependimento; pelo contrário, parecia se divertir com toda a situação. Isso aumentava ainda mais a minha raiva pelos dois.

— O quê? — Dylan falou, furioso. — Cala a boca, Karina. Não fica falando merda; nós nunca tivemos nada, mesmo que você sempre tenha tentado algo.

— Como você pôde fazer isso comigo? — perguntei, sentindo lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Como vocês tiveram coragem? Eu odeio vocês dois; me dão nojo.

— Natalie. — Ele disse, indo segurar minha mão, mas me afastei, evitando seu toque.

— Não encosta em mim. — Digo, dando um tapa na cara dele. — Nunca mais me procure. Não quero mais falar com você, não quero mais ver você. Acabou tudo entre nós.

— Eu nunca te trairia; eu te amo demais para isso. Ela deve ter armado contra mim...

— Você sequer tem a decência de admitir seus próprios erros, quer colocar a culpa nela, sendo que vocês dois estão errados. Isso que você diz sentir por mim não é amor, pois quem ama não trai. Você conseguiu jogar três anos de relacionamento no lixo. A única coisa que sinto por vocês é nojo, e quero que os dois sumam da minha vida. — Falo, indo embora.

Saio correndo do apartamento, mas ele me segue. Assim que passo pela porta, entro no elevador. Ele tentou me acompanhar, mas as portas se fecharam antes que pudesse entrar.

Só naquele momento, o choque esvaiu e pude chorar descontroladamente. Nunca senti tanta dor na minha vida; meu coração está em pedaços, e não faço a menor ideia do que vou fazer.

Entretanto, uma coisa eu sei: não vou me trancar em casa, me entupir de chocolate ou ver filmes românticos, lamentando enquanto aqueles dois se divertem e riem da minha cara. Pelo contrário, decidi que vou sair, ficar linda e me divertir.