Capítulo 1

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Lucy
O barulho das balas cortando o ar ao meu redor era ensurdecedor. Cada estalo parecia uma ferida aberta em meio ao caos, o metal frio passando tão perto do meu corpo que quase podia sentir o vento cortante que deixavam. A adrenalina corria em minhas veias, mantendo-me alerta mesmo quando o cansaço ameaçava me dominar. Eu corria com meu filho Henry em meus braços, seu peso extra era um fardo, mas o medo e a determinação me davam força.

Henry tinha apenas dez anos, mas sua perna estava gravemente ferida. Ele havia sido atingido por uma bala, e agora, estava incapaz de caminhar. Seus olhos grandes e assustados olhavam para mim, sua pequena mão apertando com força o tecido da minha blusa. O pânico em sua voz era palpável.

— "Mãe, estou com medo," ele sussurrou, sua voz tremendo enquanto se aninhava contra meu peito.

— "Eu sei, calma, amor. Tudo vai ficar bem," eu tentei assegurar, minha voz firme, embora meu coração estivesse despedaçado. A mentira escorria dos meus lábios com uma naturalidade que era quase dolorosa. Não havia garantia de que tudo ficaria bem, mas o que mais eu poderia dizer? "Está tudo perdido, tenha medo"? Não, eu me recusava a permitir que Henry vivesse com medo, não mais. E Mika, que ainda não tinha nascido, também não teria essa carga.

— "Por que o papai ficou para trás?" Henry perguntou, sua voz um sussurro de tristeza.

— "Para... para nos proteger, amor. Ele queria garantir que estivéssemos a salvo," eu respondi, minhas palavras um esforço para acalmar meu filho e, ao mesmo tempo, esconder a verdade dolorosa. A realidade era que seu pai havia ficado para trás em um ato de sacrifício desesperado, um herói na sombra de uma tragédia.

Cinco Anos Depois

Cinco anos haviam se passado desde aquele dia sombrio, e a vida, embora marcada pelas cicatrizes da dor e do sacrifício, seguia em frente. Mika havia nascido e, ao contrário do que poderíamos ter esperado, ela era uma presença de luz em nossas vidas. Seus olhos brilhavam com uma intensidade selvagem, refletindo um espírito indomável. Ela era a híbrida mais linda que eu já havia visto, e seu sorriso trouxe uma esperança renovada para nossa pequena família. Henry, agora com quinze anos, enfrentava sua própria batalha. A amputação da perna tinha sido um golpe devastador, mas ele mostrava uma força que eu nem sabia que possuía.

Usava muletas para se locomover, e as cicatrizes da cirurgia eram um lembrete constante daquilo que ele havia perdido. O hospital fez o que podia, mas a infecção havia sido tão severa se tornou a única opção. Fomos forçados a mentir, dizendo que ele havia nascido com uma deficiência. Não podíamos revelar a verdade sobre o tiro; a dor e o medo que isso implicava eram demasiado para compartilhar.

Mentir se tornou um fardo diário. Cada olhar inquisitivo de estranhos, cada pergunta sobre a falta da perna de Henry, era um lembrete da história que escondíamos. Henry suportou isso com uma coragem silenciosa, uma resiliência que, embora admirável, também quebrava meu coração. Ver meu filho tentar se ajustar à nova realidade era doloroso, mas eu o via enfrentando os desafios com uma bravura que eu tentava emular.

Mika, uma linda híbrida com suas orelhas fofas e seu rabinho peludo como os de um tigre branco sempre com sua vitalidade e curiosidade infantis, era a luz que iluminava nossos dias. Eu jurei protegê-la, assim como protegia Henry. O amor por ela me dava forças para enfrentar os desafios diários, mesmo quando a realidade parecia esmagadora. As lembranças do dia do ataque, com seu medo e desespero, estavam sempre presentes, mas eu me esforçava para manter a esperança viva para meus filhos.

A nossa sobrevivência havia moldado nossa vida de maneiras que nunca poderíamos ter previsto. A dor física e emocional que carregávamos era uma constante, mas havia momentos de alegria e conexão que nos lembravam da importância da nossa família. Mesmo com todas as dificuldades, eu estava decidida a criar um ambiente de amor e segurança para meus filhos. Enquanto olhava para Mika, com seus olhos brilhantes e cheios de vida, e via Henry, que apesar das adversidades ainda encontrava alegria nas pequenas coisas, sentia um renovado senso de propósito. Eu havia feito uma promessa a mim mesma e a eles: protegeria minha família com todas as minhas forças. O mundo que conhecíamos havia mudado para sempre, mas eu estava determinada a enfrentar o que quer que viesse, com a esperança de que, apesar de tudo, poderíamos encontrar um futuro melhor.

Híbridos existem (inspirado em Sweet Tooth)Onde histórias criam vida. Descubra agora