Mika
— Oi, filha, cheguei! — a voz da minha mãe ecoou pela casa, animada.— Mãe! Mãe! — corri para ela, com o coração batendo acelerado.
Ela me olhou com um sorriso carinhoso, mas logo sua expressão mudou para uma preocupação suave.
— O que foi, Mika? — perguntou ela, olhando para mim com curiosidade.
— O Henry já está chegando? — perguntei, os olhos brilhando de expectativa.
— Sim, ele e os amigos dele estão a caminho, mas você vai ter que esperar um pouco, está bem? Eles vão tocar por um tempo.
Meu entusiasmo se desfez um pouco. — Ah... — resmunguei, decepcionada. — Mas pelo menos posso ouvir eles tocando, não posso?
Minha mãe hesitou, seu olhar ficando um pouco mais sério. — Não, amor, você não pode se expor. Lembre-se do que conversamos sobre segurança.
— Às vezes, eu não queria ser híbrida, sabia? — minha voz tremia um pouco, cheia de frustração. Ela se abaixou e tentou me abraçar, mas eu me desviei, sentindo a raiva crescer.
— Não fale assim, querida... Você sabe que não quis dizer o que disse. Não é fácil para ninguém, mas estamos fazendo o melhor que podemos.
Aquelas palavras não eram o suficiente para acalmar minha raiva. Senti um nó na garganta e, em um impulso de raiva e tristeza, corri para o meu quarto e bati a porta com força. Lá dentro, eu me joguei na cama, sentindo a frustração se transformar em lágrimas silenciosas. Aos cinco anos, eu já deveria estar indo para o primeiro ano da escola, e, mais importante, deveria poder ver meu irmão tocar com seus amigos. Era tão injusto! Eu odiava as regras do governo, que tratavam os híbridos como seres inferiores e mantinham minha vida tão limitada. Eu só queria uma vida normal, uma vida em que pudesse estar ao lado do meu irmão incrível e viver sem o medo constante da discriminação.
Sempre vivo me escondendo e deixando minha felicidade de lado em nome da segurança. "Não aguento mais isso!" penso.
"Que se dane as regras," sussurro para mim mesma, com uma determinação renovada. Levantei-me da cama, enxugando as lágrimas e me dirigindo para a janela do meu quarto. O sol estava começando a se pôr, lançando uma luz dourada sobre a casa. Eu espiei para fora e avistei a lateral azul da nossa casa, onde havia um caminho que levava à garagem.
Com um último olhar para dentro do meu quarto, pulei pela janela com a agilidade de um gato. A sensação de liberdade momentânea me animou. Corri até as caixas empilhadas ao lado da garagem, que eu tinha colocado lá há algum tempo para me esconder. Meu coração batia forte de excitação e nervosismo enquanto me posicionava atrás de uma dessas caixas.
As caixas estavam cobertas com um tecido fino, que tinha o propósito de esconder as caixas de uma vista desatenta, mas também ofereciam um bom esconderijo para mim. Pus meu rosto contra a caixa e fiquei completamente silenciosa, aguardando ansiosamente a chegada de Henry e de seus amigos.
A música começou a soar e eu me deixei levar pelo som, absorvendo cada nota com uma alegria silenciosa. No entanto, minha felicidade foi interrompida quando ouvi passos se aproximando. O pânico tomou conta de mim e eu prendi a respiração, tentando ser o mais silenciosa possível.
— Ei, Henry, acho que tem um gato nessa caixa — ouvi uma voz dizer. Era um dos amigos do meu irmão.
— Sério? — respondeu Henry, com um tom curioso. — Nunca vi um gato aqui antes. — Ele não tinha ideia de que o "gato" era, na verdade, a sua irmã escondida.
Meu coração acelerou ainda mais. Com a adrenalina pulsando nas minhas veias, decidi que era hora de sair dali antes que eles me encontrassem. Sem fazer barulho, saí correndo e pulei de volta pela janela do meu quarto. Minha respiração estava pesada e irregular, e eu estava desesperada para encontrar um lugar seguro.
Enquanto eu me escondia, ouvi um dos garotos dizer:
— Ah, o gato fugiu...
Meu medo rapidamente se transformou em desespero. A ideia de que Henry pudesse estar pensando sobre um gato perdido enquanto eu estava ali escondida me fez sentir ainda mais angustiada. Decidi que era melhor me manter escondida pelo resto do dia, esperando que a situação se acalmasse. O som da música ainda ecoava pela casa, mas agora parecia um lembrete cruel do que eu estava perdendo.
Encolhida em um canto escuro do meu quarto, me deixei levar pela tristeza e pela frustração. Eu queria ser parte daquela música, ser parte da vida do meu irmão, mas toda vez que tenho minha mãe me impede, ela sempre diz que "é para minha segurança" mas me cansei disso.
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Híbridos existem (inspirado em Sweet Tooth)
Teen FictionMika uma híbrida rara se esconde em sua casa fugindo do governo e dos Últimos Homens que sempre desejam matar híbridos por serem "animais". Ao entorno de suas fugas de cidade a cidade Mika conhece outros que os apoião. Incluindo Gus um híbrido único...