capitulo 5

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Naruto 

Naruto estava sentado na cabine da caminhonete, enrolando o esparadrapo branco cuidadosamente entre os dedos, depois, ao redor dos nós dos dedos, enquanto Garth Brooks cantava To Make You Feel My Love, no CD player. Tecnicamente, era uma música do Bob Dylan, mas a versão de Garth Brooks estava tocando no rádio na noite em que Naruto participou de sua primeira luta, alguns anos atrás. Ele não esperava vencer. Disseram-lhe que ganharia cem
dólares apenas por comparecer, mas sua raiva era tão selvagem e avassaladora após ouvir a música que acabou derrotando seu oponente. Naquela noite, ofereceram-lhe a chance de lutar em um
clube de lutas local uma ou duas vezes por mês, e ele estabeleceu a regra de ouvir a música antes de cada luta. Isso o magoava. Isso o atormentava tanto que no momento em que a música acabava, tudo
o que queria era machucar alguém tanto quanto estava machucado por dentro. Era um alívio bater e apanhar.
Ele cerrou os dentes enquanto a música tocava repetidamente pela segunda vez, observando o esparadrapo branco girar e girar nos dedos enquanto imagens irregulares passavam por sua mente:
um vestido amarelo e branco imundo, tranças pretas com reflexo azuis caindo sobre os ombros dela, borlas repousando acima da suavidade de seus seios em desenvolvimento. Pernas ossudas e arranhadas. Pés pequenos e feridos que lutavam para manter o equilíbrio em
uma pedra escorregadia a alguns metros de distância enquanto a água furiosa corria entre eles.
As últimas palavras que ela proferiu nesta terra foram para ele, implorando a Caleb que o deixasse ir. Ele não deixou. O filho da mãe enlouquecido o nocauteou e, em seguida, meteu uma bala em Hinata, a garota mais doce, forte e corajosa que já existiu.

                             ***

Narito começou a soluçar o nome dela enquanto sua cabeça latejava com a dor dos dois golpes que levou na têmpora no rio.
— H- H- Hinata ? H- H- Hina?
— Você quer dizer Ruth — o Homem cuspiu, oferecendo-lhe uma
caneca d’água. Naruto sentou-se lentamente no chão da varanda,
olhando para a camisa ensanguentada de Caleb e se arrastando para trás até ficar encostado na parede de tábuas da casa da fazenda. Ofegando e tremendo de medo, olhou para o monstro diante dele.
Caleb colocou a caneca na beira da varanda e sacudiu a cabeça para um amontoado de terra fresca no quintal à frente da casa.
Naruto seguiu o movimento com olhos horrorizados.
— Ruth está morta, irmãozinho, e pode me agradecê por colocá um fim em seus pecados. Ela nunca mais vai atormentá ôce com sua maldade. Vâmo para o oeste. Oeste. E, agora, nós somos: Caleb e Seth West. Então, bico calado sobre Ruth ou vou socá sua boca. Ela não está mais aqui. E já foi tarde. Nunca mais vâmo falá sobre ela.
Glorificada seja a redenção!
Quando Caleb caminhou até a caminhonete vermelha estacionada em frente à casa e colocou uma caixa no compartimento traseiro, Naruto virou a cabeça para o lado e vomitou o conteúdo
escasso do estômago no chão da varanda.
O amontoado de terra era uma cova.
Ela estava morta. Hinata estava morta.
Naruto a amava e ela morreu tentando salvá-lo. 
Seu sangue correu como uma cachoeira em seus ouvidos, sua respiração ficou rápida e irregular quando as mãos pequenas se fecharam em punhos.
— N- n- nãooooooo! — ele gritou. — H- H- Hinata!
Ele se levantou, pulando da varanda e correndo em direção à cova dela, mas Caleb o segurou pela cintura antes de chegar à pilha de terra virada do tamanho de uma garota de treze anos de idade
encolhida.
— P- P- por favor... p- p- por favor... Oh D- D- Deus, p- p- por
favor! H- H- Hinaaaa!
— Eu avisei, garoto.
Ele sentiu o impacto do punho de Caleb contra sua bochecha, mas a escuridão que se seguiu foi misericordiosa.
Quando acordou, estava escuro lá fora. Naruto estava amarrado no banco do passageiro da caminhonete velha e Caleb dirigia ao lado dele.
— Que bom. Ocê acordou. Vâmo pará para jantá em breve.
A cabeça de Naruto latejava como um martelo em uma bigorna.
Ele fechou os olhos com força e piscou duas vezes, os faróis traseiros vermelhos diante dele riscando sua visão como sangue contra a escuridão da estrada. Levou vários minutos para processar o que havia acontecido no início do dia – ele e Hina tentaram escapar depois que Caleb foi para a igreja, mas Caleb deve ter chegado em casa mais cedo e os seguiu até o milharal. Ele capturou Naruto no
Shenandoah, e Naruto disse a Hina para correr...
Caleb nocauteou Naruto, atirou em Hina e a enterrou no jardim da frente antes de sair de West Virginia para sempre.
— Oh n- n- não — ele soluçou, virando-se para olhar pela janela.
— Não. N- n- não. N- n- n- não.
— Pare de chorá, seu imbecil. Não consigo entendê nada do que
ocê tá falando. Naruto respirou fundo e falou o mais cuidadosamente possível.
— P- p- por que você a matou?
— Essa minina era pura maldade.
— Ela n- n- não era.
— Acho que eu a conhecia melhó que ocê. Tudo estava acontecendo de novo. Bem diante dos meus olhos. 
— O- o- o que estava acontecendo?
— Luxúria! — ele berrou. — Luxúria, condenação, o fogo do inferno!
Naruto levou um susto e se encolheu quando Caleb bateu no volante com fúria uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Várias e várias vezes, até Naruto perder a conta, até Caleb finalmente gritar:
— Ocê alcançou a redenção, garoto! Dobre seus joelhos em adoração!
Naruto se encolheu no canto do banco do passageiro, o mais longe que pôde, pressionado contra a porta.
— Não precisa mais morrê pelos seus pecados! Pode vivê na abençoada luz da redenção! Pelo sangue dela, eu te deixei
completo!
(Você está completo ou incompleto, Naruto?)
— Agora... Chega. De falar. Sobre a. Ruth. Nunca. Mais!
(Eu estou incompleto, Hina. Finalmente estou incompleto.)
Ao sentirmos algumas dores na vida, ficamos chocados ao perceber que elas não nos mataram. Parece que deveriam nos matar, fazendo o coração parar de bater, os pulmões pararem de respirar e os olhos pararem de enxergar. Tudo deveria apenas… parar. Com uma dor tão profunda e um arrependimento
incomensurável, deveria ser impossível manter um corpo vivo.
Naruto virou-se lentamente para a janela, encarando o reflexo do rosto, um cenário de miséria, desolação e rendição.
O verdadeiro horror daquele passeio de caminhonete era o corpo de Naruto haver sobrevivido, o fato de continuar a viver mesmo sabendo que Hina havia morrido tentando salvá-lo, tentando libertar
os dois, e que, agora, ele estava completamente sozinho. Enquanto
corriam para o oeste na noite escura, seu coração continuava batendo, seus pulmões continuavam respirando, seus olhos em ardência continuavam enxergando. Ele escondeu as lembranças de sua amada dentro dos recantos mais secretos de seu coração, fechou a porta e enterrou a chave tão fundo quanto sua linda garota estava enterrada em uma cova recém-coberta em West Virginia.
Seu corpo permaneceu vivo, mas Naruto Uzumaki morreu com Hinata Hyuuga naquele rio.
Por dentro, estava morto. Por dentro, não se importava mais com o que acontecia com ele. Por dentro, havia se rendido à escuridão e a Caleb Foster.
E o corpo que restou – que, por muito tempo, não fez nada além de bater, respirar e enxergar – tornou- se Seth West.

Nunca deixado para trás - NaruHinaOnde histórias criam vida. Descubra agora