Capítulo 4

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Boa leitura

Hinata

— Isso que é vida! — Toneri exclamou, caindo na cama do quarto e apoiando as mãos embaixo da cabeça. — Vem deitar comigo.
Ele levantou a mão e Hinata olhou para ele, respirando fundo antes de se deitar ao seu lado. Era um lugar agradável o bastante – madeira nova, um sofá luxuoso e lareira de pedra na sala de estar,
um edredom macio na cama. Além disso, ela e Toneri tinham seu próprio banheiro no quarto e havia um pequeno frasco de xampu e condicionador, como em um bom hotel.
Toneri havia aberto uma das duas pequenas janelas após colocar
as bolsas de viagem em cima de uma cômoda. 
— Dá para ouvir o rio, querida. Legal, hein? As cento e cinquenta pratas valeram a pena, não é mesmo?
— Sim. Ela deitou-se contra o cotovelo dobrado, ouvindo o Shenandoah,
as memórias tão nítidas e dolorosas que a fizeram se perguntar como iria lidar com os próximos dois dias. Ela mordeu a bochecha até sentir gosto de sangue. Seus dedos, apertados firmemente ao seu lado, lentamente se abriram.
— Ah, escuta só! Sabe aquele posto de gasolina onde abastecemos? Shawn ouviu dois caras conversando sobre um
evento em um clube de lutas esta noite fora de Charles Town. Em algum lugar um pouco distante daqui.
— Clube de lutas?
— Sim, alguma idiotice caipira em um campo. Dois caras entram em um círculo de fardos de feno ao lado de um milharal e caem na porrada por uma hora. Quando um deles não consegue mais se levantar, a luta acaba. Não há regras. A coisa fica muito feia.
Hinata estremeceu. Após uma infância cheia de surras – da mãe, de vários pais adotivos e de Caleb Foster –, não estava muito ansiosa para assistir dois adultos brigarem como bobos.
— Não vou ver isso — ela disse suavemente.
— Vai, sim. É a diversão local, querida.
Hinata virou-se, encarando-o.
— Toneri, não quero ver isso. Você sabe como fico ao ver sangue.
— Você e Tina podem se afastar do local e conversar sobre coisas idiotas de mulher. Eu e Shawn queremos um pouco de diversão. Não voltarei aqui depois do jantar só para trazer seu rabo infeliz para casa. Jesus, é por isso que estamos aqui! Para nos divertir! — Toneri se virou de lado, apoiado no cotovelo, olhando para
ela. Ele passou o dedo pela cicatriz que corria da base do queixo até a parte inferior do lábio. Sua voz estava baixa e seus olhos tinham um ar maligno quando acrescentou: — Você vai, Hana. Ela respirou fundo e assentiu, abrindo a boca quando o dedo dele aumentou a pressão nos lábios dela. Enquanto ela o chupava, ele se inclinou para frente e pressionou a testa na dela.
— Essa é a minha garota — disse ele, com um ar de vantagem em sua voz ao pegar o quadril dela. — Ah, e falando nisso… Você é minha garota, não é?
Suas mãos estavam presas nas dele, mas conseguiu cruzar dois dedos.
— Uhum.
— Certo. Então, vou fazer uma pergunta... Quem diabos é Naruto?
O nome percorreu o corpo dela como uma bala de espingarda, rasgando a carne macia e abrindo um buraco horroroso que doía intensamente. Ela abriu os olhos. Cerrou os dentes.
— Merda, Hana! — ele disse, puxando o dedo da boca dela.
— Desculpa — ela disse, se esforçando para respirar e encher os pulmões vazios.
— Você precisa se desculpar mesmo. Falou o nome dele enquanto dormia ontem à noite — disse Toneri, os olhos
semicerrados e os dedos cravando a carne dela. — Quem diabos é ele?
Nunca, nem uma vez sequer durante o ano em que esteve com Toneri, isso aconteceu. Ela não pronunciava o nome de Naruto em voz alta desde o dia em que chorou na varanda da fazenda abandonada de Caleb Foster, sete anos atrás. Enterrou esse querido nome tão profundamente que seus lábios entenderam que era um tabu pronunciá-lo, mesmo quando ela estava inconsciente. Devia ter sido a viagem iminente que o trouxe à superfície na noite anterior, ao
adormecer lembrando seu braço fino ao redor dela, seus lábios pressionados contra o cabelo dela, seus dedos tocando suas iniciais marcadas na parede. Naruto. Seu nome era sagrado para ela, e
ouvi-lo sair dos lábios de Toneri era uma blasfêmia, uma profanidade,
algo repugnante para seus ouvidos.
Seu coração acelerou, batendo de maneira diferente do habitual,
e ela imediatamente reconheceu uma sensação que quase havia esquecido: fúria. Surgiu dentro dela como uma lava fervente sendo cuspida de um vulcão prestes a entrar em erupção. E ela percebeu outra coisa: naquele momento, naquele minuto, nenhuma parte dela
estava com medo de Toneri.
Quem diabos é ele?
— Ninguém — ela disse, sua voz segurando uma advertência
enquanto se inclinava para trás do rosto de Toneri.
— Deve ser alguém. Você nunca diz “Toneri” enquanto dorme — os dedos de Toneri torceram a pele do quadril e sua voz assumiu um tom provocador. 
— Diz quem é esse... Naruto.
A raiva de Hinata se turbou quando ela olhou de volta para Naruto com uma raiva ousada e destemida que nunca havia mostrado a ele antes.
C- c- calma, Hina. C- c- calma.
— Pare de dizer o nome dele — grunhiu, pegando o pulso dele e arrancando os dedos do quadril com uma força surpreendente. Ela se afastou para deixar de tocá-lo, virou de costas e olhou para o teto.
Toneri riu baixo com surpresa, depois, parou abruptamente.
— Olha só. Hana, a puxa-saco melosa, mostrou as garras que tem por baixo do pelo macio. — ele subiu em seus quadris, agarrou seu queixo com força e a fez encará-lo. — Acha que pode mandar
em mim? Vou parar quando eu bem quiser, vadia. Naruto... Naruto...
Naruto... Quem é ele? Você está transando com ele?
Ela viu tudo branco. Branco atrás dos olhos. Branco na frente deles. Branco onde o rosto de Toneri pairava sobre o dela um momento antes. Raiva branca, quente, selvagem e cruel. Ela não
dava a mínima se ele a abusava, batia nela, transava com ela, a usava. Mas Hinata tinha um limite. Um. E Toneri acabou de ultrapassá-lo.
— Pare de dizer o nome dele!
Apoiando as mãos na colcha e inclinando a cabeça para trás até alcançar o travesseiro macio, ela usou o pescoço como um estilingue, se sentando rapidamente e acertando o nariz de Toneri
com a testa. Quando ele gritou de dor, ela virou o corpo e pulou da cama. Ficou ao lado dele com as mãos nos quadris, olhando para Toneri, que segurava o nariz ensanguentado com as mãos.
— Que merda foi essa, Hana?! — Ele inclinou o rosto sobre o colo enquanto gotas de sangue espirravam em seu short branco de nylon. 
— Você. Está. Doida!
— Eu pedi gentilmente — ela rosnou baixinho entre os dentes cerrados. Abriu a porta e saiu do quarto, entrando na grande sala da cabana. Ficou no meio da sala, recuperando o fôlego.
— Ei, Hana — disse Tina da cozinha aberta à sua esquerda. 
— Estou fazendo mojitos... você quer?
Hinata entrou na cozinha, pegou a garrafa de rum aberta e a levou aos lábios. Deu várias goladas ávidas antes de colocar a
garrafa no balcão em uma pancada. Limpando os lábios com as costas da mão, ela balançou a cabeça para Tina.
— Não, obrigada.
Depois, seguiu para a porta, passou por ela e fechou-a com força.

Nunca deixado para trás - NaruHinaOnde histórias criam vida. Descubra agora