Naruto
Ela está viva. Ela está viva. Hina está viva.
Havia uma confusão interminável em sua cabeça e uma celebração em seu coração enquanto a guiava para seu lar.
— Naruto, eu acho...
Ele se virou para ela após fechar a porta.
— Não me chamo Naruto.
Ela se encolheu.
— É o seu nome.
— N- não é mais. Me chamo Seth.
Ela baixou os olhos, olhando para o chão.
— Eu não entendo.
— Não sou Naruto há muito tempo.
— Mas você não é Seth.
— Sim, eu sou — ele suspirou, imaginando por onde começar.
—Hina — iniciou, mas antes que pudesse reunir seus pensamentos, ela o interrompeu.
— Se você é Seth, então, eu sou Ruth? — ela perguntou, sua voz suave mas amargurada quando olhou para ele.
— De jeito nenhum você é R- Ruth — ele disse duramente, cerrando os dentes e olhando para ela por um longo momento antes de ir para a pequena sala de estar. Ele sentou no sofá esfarrapado, a dor do movimento fazendo-o ofegar.
— Deite-se — disse ela, colocando a mão debaixo do braço dele para ajudá-lo.
— Onde estão as ataduras? Essa sob seu coração está suja. Vou trocá-la.
— Você é enfermeira?
— Não.
Deitado no sofá, ele olhou para ela, ainda em estado de semi-choque por, depois de tanto tempo, ela subitamente estar ali.
Em seu apartamento. Com ele. Perto dele. Tocando ele. Ele tinha muitas perguntas: Onde ela esteve todos esses anos? Ela tentou encontrá-lo? Ela estava bem? Ela ainda sonhava com ele, assim como ele sonhava com ela?
— H-Hina. A- apenas fale comigo.
Ela encontrou os olhos dele brevemente antes de olhar novamente para o ferimento.
— Depois que eu fizer seus curativos, ok?
— Você ainda é teimosa.
Os olhos dela brilharam, e sua expressão se abrandou antes de se contrair, com lágrimas caindo dos olhos. Ela apontou para o corredor nos fundos da sala de estar.
— O banheiro fica lá atrás? — ela perguntou entre soluços.
— Sim — disse ele, observando-a ir, odiando o fato de deixar de
vê-la, mesmo sendo apenas pelos dois minutos que levaria para pegar os suprimentos.
Quando ela voltou alguns minutos depois, seu rosto estava seco,
embora seus olhos ainda estivessem úmidos e inchados de tanto chorar. Ajoelhou-se ao lado dele no chão, mexendo na atadura perto do coração dele. Ele estendeu a mão gentilmente, fechando os dedos em volta do pulso dela e deslizando-os até segurar as costas da mão de Hinata na palma da sua.
— Espere um minuto.
Ele virou a cabeça até sua bochecha repousar no material grosso
e enrugado do velho sofá, olhando para o rosto dela.
— Nunca pensei que a veria novamente.
Ela fechou os olhos com força, estremecendo quando novas
lágrimas caíram por suas bochechas como riachos.
— Eu esperei por isso — ela ofegou, e seu hálito doce tocou a bochecha dele como uma bênção. Ele soltou a mão dela e estendeu a palma da mão até sua bochecha, limpando as lágrimas com o polegar. Ela se inclinou para ele, abrindo os olhos exaustos.
— Deus, como eu esperei por isso.
— O- onde você esteve, Hina? O que aconteceu depois...
— Por favor, deixe-me trocar as ataduras, Nar...
— Seth.
Ela fez uma careta instantaneamente, afastando-se da mão dele e deixando-a cair no sofá. Ela se levantou e olhou para a atadura.
— Tenho que limpar isso com água morna.
Sem encontrar os olhos dele, ela se virou, atravessou a sala e entrou na cozinha. Ele a ouviu correr para esquentar a água, procurando uma bacia. A dor estava aumentando agora que a adrenalina havia diminuído, e a área abaixo de seu coração, onde
ele sofreu o corte mais profundo, queimava e latejava em febre.
Finalmente ela voltou, colocando a água morna no chão ao lado do
sofá. Sem aviso, ela pegou uma ponta da atadura e arrancou-a.
— Jesus! — ele gritou, seus olhos se arregalando com a dor.
— Não posso te chamar de Seth. Não é quem você é.
Ele emitiu um gemido, seguido por uma breve expiração do ar em
seus pulmões. Quando ele levantou o queixo para olhá-la, a viu
menos triste e com mais raiva pela primeira vez desde o reencontro.
— É sim — ele disse. — Você me viu ontem à noite. É exatamente quem eu sou.
— Não — ela disse com firmeza, depois, mais suavemente
— Não, Naruto.
Ela balançou a cabeça, mergulhando uma toalha de papel na água morna e gentilmente tocando a incisão várias vezes, murmurando baixinho. Foi uma ação tão familiar que seu coração se contraiu, comprimindo seus pulmões, que lutavam para respirar fundo.
— ... Seth... nome de um louco maldito...
— Pare de murmurar, Hina.
Ela rapidamente olhou para ele.
— Hana.
— Ahn?
— Meu nome é Hana. Meu nome não é mais Hinata — disse ela acidamente — e, com certeza, não é mais Hina.
Embora tentasse olhar nos olhos dela, ela os manteve abaixados enquanto fazia esse discurso, concentrando-se no ferimento dele.
Ela dobrou outra toalha de papel e pressionou-a suavemente contra
seu tórax até a pele ficar limpa e seca. Com rasgos estridentes, ela separou duas ataduras, colocando-as cuidadosamente sobre a incisão limpa antes de arrancar tiras de esparadrapo para prendê-las.
— Ha- Hana? — ele tentou, mas pareceu tão devastador, errado e
estranho em sua boca que lágrimas arderam atrás de seus olhos.
— Diga.
— Não. Eu não posso te chamar assim.
— Que pena — ela pegou a bacia e se levantou, lançando-lhe um olhar duro, seus belos lábios em uma linha tensa e raivosa.
Enquanto olhava para ele, sua expressão se suavizou. Ela pegou um
frasco âmbar com comprimidos na cesta de suprimentos.
— Você está com muita dor.
— Já tive piores.
E por saber que isso era verdade, os olhos dela se encheram de lágrimas e os músculos de sua garganta ficaram visivelmente tensos, como se engolissem um oceano de terríveis lembranças. Ele a observou, sentindo todas as emoções que cruzavam seu rosto.
Lembrou que quando ela se encolhia, piscava rapidamente primeiro,
e quando tentava não chorar, cerrava os dentes e engolia a tristeza.
Ele viu tudo isso. Ele sentiu tudo isso. Ele se lembrou de tudo isso.
Ainda segurando o frasco de analgésicos, ela torceu a tampa com os dentes e se inclinou para deixar um comprimido branco sobre o sofá ao lado do rosto dele.
— Vou pegar água para você.
Ela voltou para a cozinha, onde colocou a cesta no balcão, e ele
ouviu a água na pia novamente.
— Sabe de uma coisa? — ela gritou, saindo da cozinha e percorrendo a sala com as mãos nos quadris.
— O quê?
Ela caminhou de volta para o sofá, ajoelhando-se ao lado dele e
oferecendo-lhe um copo d’água.
— Não te chamarei de Seth.
O uso da palavra não foi tão inesperadamente familiar que ecoou
em seu cérebro como um martelo de bola enquanto ele engolia a água. Quando ele se deitou, ela pegou seu braço. Suas mãos estavam macias, quentes e um pouco úmidas quando ela virou seu antebraço para olhar por baixo.
Seu coração bateu forte quanto os olhos dela encontraram seu rosto nos traços de tinta. Ela ofegou, olhando por um longo momento, mas, de repente se inclinou e pressionou os lábios contra a pele dele, contra as letras “N+H” ali tatuadas. A dor de seus ferimentos e o choque de vê-la novamente? Em termos de intensidade, não eram nada em comparação com a sensação dos
lábios dela tocando sua pele. Levou vários segundos até perceber
que estava prendendo a respiração. Enquanto ele se forçava a exalar e dar um suspiro fraco, ela levantou a cabeça e olhou nos olhos dele. Dobrando seu braço pelo cotovelo, ela mostrou a tatuagem para ele.
— Você não tatuou “S+R” no braço, Naruto...
— Hina...
— Aqui diz “N+H”. “Naruto e Hinata”. Eu não dou a mínima para quem você é para Quint ou Sasuke, ou, ou, ou com o Homem ou qualquer outra pessoa...
— H- Hina!
— ...porque você é Naruto para mim. Perdi muita coisa e esperei muito tempo por alguém chamado Naruto, então, ou você se acostuma a ouvir esse nome novamente ou...
— H- H- Hinata!
— O que foi? — ela gritou.
— Ok.
— Como assim ok? — ela perguntou, prendendo a respiração.
— Você ganhou.
— O que eu ganhei?
— P- pode me chamar de Naruto se quiser! Jesus! Seu rosto, que estava franzido, amenizou-se imediatamente.
Seus belos lábios se contraíram em um sorriso enquanto uma lágrima indesejada desceu por sua bochecha.
— Naruto — ela sussurrou, soltando um suspiro, estendendo a mão para afastar os cabelos da testa dele e pressionar os lábios contra sua pele.
Os olhos dele se fecharam com essa recompensa, e seu coração ferido se acalmou com o primeiro vislumbre de verdadeira paz desde o último momento em que a viu.
Hina. Minha Hina. Ela está aqui. Ela está viva.
Seus lábios se separaram quando ela se afastou, respirando fundo e estremecendo antes de recostar-se e sentar no chão. Ela encontrou a outra mão dele e entrelaçou os dedos nos dele. Depois, colocou o braço suavemente sobre seu tórax, descansando logo abaixo do pescoço dele, tomando cuidado para evitar seus ferimentos. Ele sabia que ela estava chorando quando abaixou a
cabeça ao lado da dele no sofá. O topo de seus cabelos dourados e macios acariciou sua bochecha quando ele mexeu os dedos, de modo que a palma de sua mão ficasse unida à dela.
— E, agora? — ele murmurou perto da orelha dela, tentando não fechar os olhos. Os comprimidos estavam fazendo efeito e a dor finalmente estava diminuindo, mas ele lutou contra a tranquilidade da exaustão que ameaçava derrubá-lo. Eles precisavam conversar.
Precisava saber onde ela esteve, como sobreviveu, quem ela se tornou. Precisava ter certeza de que ela ainda estaria aqui quando acordasse.
A voz dela era suave, mas parecia distante.
— Agora. descansamos um pouco e, depois, conversamos.
— Hina...
— Não se preocupe, Naruto. Não vou a lugar nenhum. Prometo que ficarei.
— Ok — ele suspirou, apertando mais a mão dela antes de fechar os olhos cansados e ceder ao sono.***
— É melhor eu voltar — disse Hina, enterrando a testa no pescoço dele, a respiração suave em sua pele.
— A- a- ainda não — ele sussurrou, segurando o corpo dela mais forte.
— Fique.
Ultimamente, observava os seios dela cada vez mais, já que ambos tinham treze anos. Eles não eram grandes como os de uma mulher, mas, também, não eram pequenos como os de uma menina.
Ficavam evidentes sob o vestido amarelo desgastado e protuberantes quando fazia frio. Tentava não olhar para eles, especialmente durante o dia, quando o Homem o espancaria por espiar Hina, mas gostava de senti-los – quentes e macios –
pressionados contra o peito à noite ou no início da manhã, como naquele momento.
— Ok — ela suspirou. — Ficarei mais alguns minutos.
— H- Hina— ele sussurrou. — Como vai ser?
— Quando formos adultos?
— Sim.
Ela se inclinou um pouco para trás, olhando nos olhos dele. A luz
do sol que entrava pela fenda nas portas do porão deixava seus
cabelos mais loiros do que ruivos.
— Bem — ela disse, seu olhar iluminando o rosto dele antes de
se fixar em seus olhos novamente —, um dia, alguém nos encontrará
aqui. Seremos resgatados e nos levarão de volta para D.C. E, como
tivemos vários traumas, nos colocarão no mesmo lar adotivo novamente. E eu ainda verei você todas as noites como agora.
— Uhum — ele a encorajou.
— E iremos para a escola e estudaremos bastante. Em breve,
teremos dezoito anos. E, então, você comprará um anel para mim no
shopping e me pedirá em casamento.
— Isso mesmo.
— E não será um casamento chique, porque não temos família, mas, talvez, Marisol venha.
— M- m- mas não Billy.
— Não. Ele não será convidado — ela concordou.
— E, um dia, teremos filhos.
— E nunca os abandonaremos. S- s- seremos os melhores p-pais do mundo, Hina.
— Sim. Os melhores. E compraremos uma casinha, mas não na cidade, e trabalharemos muito para deixá-la bonita. Poderíamos ter um jardim, porque sabemos como cuidar de um.
— Não q- quero cuidar de nenhum j- jardim.
— Por que não? Os vegetais não têm culpa de o Homem nos obrigar a cuidar deles.
— Odeio t- t- tudo aqui. Exceto você.
Ela encostou a testa na dele.
— Naruto, eu...
De repente, ouviram o som da fechadura no topo da escada e
arregalaram os olhos. Ela rolou silenciosamente para o chão.
Assustado, Naruto a viu se arrastar o mais rápido que podia em direção ao painel enquanto as botas pesadas do Homem desciam as escadas.
Eles já discutiram isso antes, e Naruto sabia que Hina tinha uma péssima decisão a tomar. Se não houvesse tempo suficiente para voltar para o quarto dela, ela se agacharia contra a porta e agiria como se ele tivesse esquecido de trancá-la na noite anterior. Ela jurou nunca deixá-lo saber sobre o painel, ou seriam separados para sempre.
O coração de Naruto afundou no peito quando ela tomou a decisão, passando perto do painel e se agachando atrás da porta para fingir que tinha dormido lá.
O Homem finalmente pisou no chão de terra e Naruto fechou bem os olhos, esperando desesperadamente que o Homem acreditasse que estava dormindo e que Hina havia adormecido a vários metros dele perto da porta.
— Maldade! — berrou o Homem, as duas tigelas de latão cheias
de aveia caindo no chão e rolando pelo cômodo.
Os olhos de Naruto arderam de medo, mas ele os abriu e viu o Homem se abaixar e agarrar a trança de Hinata, puxando a cabeça dela.
— Essa minina iníqua e maligna dormindo aqui com Seth!
— Não, senhor — ela soluçou. — Não. Você e-esqueceu de me trancar ontem à n- noite. Eu dormi perto da porta, senhor. Não olhei para ele. Nenhuma vez sequer.
Ainda segurando o cabelo dela, o Homem ergueu a outra mão e
sua palma estalou no rosto de Hinata, fazendo sua cabeça virar para o lado. Ela grunhiu, um som gutural que terminou em um gemido agudo. Quando ele levantou a mão novamente, Naruto jogou o cobertor para trás e pulou.
— N- n- não bata nela de novo!
A mão do Homem parou e Naruto olhou nos olhos de Hinata. A
expressão em seu rosto, que estava vermelho claro no lado que
acabara de receber o tapa, implorava para que ele não se envolvesse.
— Está me dando ordens, seu idiota? — perguntou o Homem, virando-se para Naruto e segurando o cabelo de Hinata com um pouco menos de força agora.
— Estou dizendo para não bater nela de novo!
Os olhos do Homem brilharam com fúria ao soltar o cabelo de Hinata, empurrando com força a cabeça contra a parede com painéis e caminhando em direção a Naruto. Suas mãos repousaram sobre a fivela do cinto. Ele o soltou e tirou com um puxão, o som do ricochetear fazendo a bile subir na garganta de Naruto.
— Ocê quer apanhá no lugá dela, irmãozinho?
— Sim, senhor — disse Naruto, encarando Hinata, que
articulou com os lábios a palavra “não”, balançando a cabeça.
Ele a pediu para ficar. Ela tentou voltar para seu quarto e ele
pediu que ficasse porque queria sentir o corpo dela ao seu lado. Não
importava o que o homem dissesse, Naruto não acreditava que tocar em Hina, que amá-la, era algo maligno. Mas ela foi pega por culpa dele.
Sim, ele queria apanhar no lugar dela.
Ele tirou a camiseta e a jogou na cama, desviando o olhar de Hinata quando os terríveis golpes começaram a ser dados.
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Nunca deixado para trás - NaruHina
FanficVivendo em lar adotivo, Hinata e Naruto veem um no outro o apoio e companhia que tanto sentiam falta de suas famílias verdadeiras. Ao serem sequestrados, passam três anos em cativeiro, até que a possibilidade de fuga surge. Ao atravessarem o milhara...