Naruto
Ele a ouviu chorando baixinho antes de abrir os olhos e estender
a mão, sentindo o cabelo dela ao lado dele na cama.
— N- n- não chore, Hina — ele murmurou, acariciando seu cabelo. — Não chore.
— Seth? Querido? Oh, meu Deus! Você está acordado?
— H- H- Hina? — ele murmurou novamente, mesmo sabendo que não era a voz dela. Isso o fez sentir medo de não ser ela. Quem estava ali, e onde ela estava?
— Querido, é a Gemma.
— N- n- não — ele soluçou, piscando os olhos rapidamente. Eles
estavam inchados demais para abrir completamente. — O- o- onde
está Hina?
— Hina? Quem é... ? Eu não... querido, você levou uma pancada feia na nuca — ela levantou a voz, dizendo a alguém para chamar um médico. Depois voltou-se para ele e falou devagar. — E você… você foi... esfaqueado algumas vezes. Seth, do que você lembra?
— O- o- onde está H- H- Hina? — ele gritou. Escuridão.***
— O- o- onde está H- H- Hina? — ele gritou, levantando-se na cama do motel. A luz cor de melão filtrava-se através de cortinas baratas de poliéster, iluminando o pequeno cômodo com um brilho laranja. O suor escorria em seus olhos, e ele usou a mão livre para limpar a testa.
— Cale a merda da boca! — gritou Caleb da cama ao lado dele, virando de lado e roncando alguns segundos depois.
Naruto puxou a algema que unia o pulso à estrutura da cama. Ele se acostumou a dormir com um braço sobre a cabeça. Mesmo após jurar que não fugiria, Caleb silenciosamente o acorrentava à cama
todas as noites antes de ir para o bar local. Após a primeira noite, Naruto havia aprendido a não beber nada antes de dormir.
Uma noite, quando Caleb saiu à noite, ele esqueceu de acorrentar Naruto, o qual nem pensou em fugir. Não havia ninguém
para ligar, nenhum lugar para ir. Teoricamente, poderia usar o telefone público do motel, ligar para o central de informações e solicitar os serviços de proteção à criança. Ele poderia dizer que
havia sido sequestrado há quase quatro anos, e sim, eles provavelmente o buscariam e prenderiam Caleb, mas, e daí? Eles o mandariam de volta ao sistema de assistência social de D.C. De
volta a uma “família”, onde havia uma boa chance de os “pais” abusarem e negligenciarem os filhos. Seria uma questão de tempo até algo horrível acontecer a ele com outro monstro inesperado e desconhecido.
Pelo menos Caleb era uma entidade conhecida.
E, no ano passado, o temperamento, os berros e as divagações de Caleb diminuíram substancialmente, quase como se assassinar Hinata tivesse sido uma cura milagrosa para o tipo particular de loucura de Caleb. Caleb finalmente parecia ter um pouco de paz, como se tivesse alcançado o objetivo de uma vida ao matá-la.
Se Naruto mencionasse Hinata, ainda levaria um murro forte e rápido no rosto, mas as surras pararam desde que deixaram West Virginia, e as referências de Caleb a Ruth eram cada vez menos frequentes.
E a ideia de serem irmãos era uma ilusão muito real e constante para
Caleb, que parecia acreditar que a diferença de idade entre eles era de quatro anos, embora para Naruto estivesse mais para quarenta.
Caleb bagunçava seu cabelo de vez em quando e o chamava de “irmãozinho” quase o tempo todo. Era estranho haver uma ternura genuína nesses gestos, quase como se Naruto realmente fosse o
irmãozinho querido de Caleb. Às vezes, vergonhosamente, Naruto se permitia acreditar nisso.
Sobretudo, Naruto não se importava se Caleb queria fingir que eram irmãos. A ausência de surras diárias era um alívio tão grande que Naruto nunca reclamou disso. Quando Caleb dizia “Meu
irmãozinho quer queijo grelhado e eu quero...”, Naruto não falava nada.
Ele mantinha o rosto inexpressivo, como se fosse a coisa mais normal do mundo serem irmãos com uma diferença de idade de quatro décadas. E até houve momentos em que estranhos ou
garçonetes lançavam a eles olhares engraçados nas lanchonetes e Naruto se sentia defensivo, quase protetor com Caleb, o que o confundia terrivelmente.
Quando Caleb voltava para a caminhonete ou para o quarto de motel depois de beber à noite, ele deitava para dormir, murmurando sem parar sobre como finalmente cortou o câncer da família deles, como destruiu o mal e salvou Naruto da condenação eterna. E nessas
horas, Naruto cerrava os olhos e fechava os punhos enquanto um ódio denso e forte por Caleb o dominava, ebulindo e assolando seu corpo adolescente até ele conseguir se acalmar. Ele se imaginava matando Caleb ou puxando o volante de sua mão quando estivesse dirigindo na estrada, tirando a vida de ambos. Se imaginava pegando um martelo e enfiando-o na cabeça de Caleb enquanto ele dormia. Havia um prazer doentio, mas intenso, em imaginar todas as maneiras pelas quais poderia vingar a morte de Hinata. Mas tinha apenas quatorze anos de idade e não era um assassino. Seus sonhos de vingança não viraram realidade, apenas uma frustração constante, latente e ardente.
Caleb continuava dizendo que estavam indo para o mar, mas até onde Naruto sabia, não viajavam em linha reta e nunca ficavam em um lugar por mais de um dia ou dois. Dormiam, principalmente, na
caminhonete, mas, ocasionalmente, em motéis. Caleb guardava seu dinheiro em uma caixa de metal e mantinha a chave sempre consigo.
Naruto não sabia onde ele havia conseguido o dinheiro, mas era o suficiente para sobreviverem. Nenhum deles trabalhava, mas comiam duas vezes por dia sem falta e Caleb bebia todas as noites.
A parte do coração de Naruto que escondia as memórias de Hinata odiava Caleb intensamente. Mas após um ano morando com ele, Naruto fez as pazes com sua vida em resignação. Após a
morte de Hinata, não havia motivos para lutar ou viver. Ele era arrastado de cidade em cidade sem mais explicações, mas tinha algo para comer e um lugar seco para dormir, e quando Caleb não estava
bêbado e berrando, era a companhia mais silenciosa que alguém poderia imaginar.
Naruto teve uma vida melhor e uma vida pior. Conhecia o terror do desconhecido e o equilibrava com o conforto de ter algo conhecido.
Por falta de outra opção, suportaria essa vida até ter idade e força suficientes para se libertar dela.
A única coisa que não suportava era que todas as noites, em seus sonhos, Hinata retornava para ele. Seus olhos lilases
transbordavam de lágrimas, seus pequenos punhos cerrados
firmemente, seu rosto horrorizado contorcido em agonia, implorando
por sua vida, enquanto um oceano de água corrente os separava.
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Nunca deixado para trás - NaruHina
Fiksi PenggemarVivendo em lar adotivo, Hinata e Naruto veem um no outro o apoio e companhia que tanto sentiam falta de suas famílias verdadeiras. Ao serem sequestrados, passam três anos em cativeiro, até que a possibilidade de fuga surge. Ao atravessarem o milhara...