capítulo 6

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Hinata

A última coisa que Hinata queria fazer era ver uma briga.
Estava emocionalmente exausta por revisitar o lugar onde havia sofrido tanto e pela discussão com Toneri mais cedo. E a maneira como Quint a olhava, quase insistindo que a conhecia, realmente a
assustou. Tudo o que queria era voltar para a cabana, enrolar-se nos cobertores e ter uma noite de sono e sonhos.
Apesar disso, sentada na parte traseira do SUV de Shawn com o braço de Toneri em volta de seus ombros de modo protetor,
inclinando-se para o calor sólido do corpo dele, não conseguiu reunir forças para lutar. Era confortável demais e ela estava fraca demais.
— Ei, Hana — disse Tina, virando-se para olhar Hinata enquanto Toneri e Shawn conversavam sobre quem perderia mais dinheiro naquela noite. — Eu falei sério antes. Também não gosto de sangue.
Vamos encontrar um lugar confortável para sentar e fingir que estamos em um churrasco ou algo assim. — Ela se abaixou e sorriu para Hinata, mostrando-lhe uma garrafa de Chardonnay de Frutas Tropicais Silvestres. — Peguei no posto de gasolina ao lado do restaurante. Hinata não pôde deixar de retribuir essa esperteza com um
sorriso. — Uma porcaria e doce?
— Assim como eu, querida — disse Tina, rindo.
— Você não é uma porcaria — argumentou Shawn, estendendo a
mão e colocando-a sobre a coxa dela. — Mas você é um doce.
— Olha a estrada — disse Tina.
— Mais tarde? — perguntou Shawn, sorrindo para ela, esperançoso.
— Ah, você sabe que sim, querido.
Toneri apertou o ombro de Hinata, segurando uma garrafa de Coca-Cola vazia sobre a cabeça dela e cuspindo dentro, parecendo que a estava enchendo de novo com refrigerante.
— Por que você nunca fala comigo assim?
Hinata se aconchegou em seu peito, sentindo o cheiro familiar de tabaco e sabonete.
— Acho que gosto de bancar a difícil.
— Bem, odeio dizer isso, mas já te conquistei, querida. Você é minha.
Seu corpo queria enrijecer por instinto, mas ela respirou fundo e se forçou a permanecer tranquila. Não sou sua.
Ele deve ter decidido deixar isso para lá, porque chutou o banco de Shawn quando pegaram uma estrada rural e o carro começou a sacolejar.
— Shawn, seu filho da mãe, me empresta cem paus?
— Para que, imbecil?
— Acho que vou apostar naquele tal de Seth. Ele parece durão.
Embora ela já estivesse convencida de que não tinha conexão com o Seth que lutaria naquela noite, um arrepio percorreu sua coluna ao ouvir o nome sair da boca de Toneri. Não era igual ao sacrilégio da provocação dele com o nome Naruto, como havia feito antes, mas, mesmo assim, ela não gostou.
Shawn ainda estava seguindo a caminhonete de Quint quando chegaram em um campo aberto no fim da estrada de terra. O som da música heavy metal aumentava cada vez mais conforme se
aproximavam do centro do campo.
Umas cinquenta caminhonetes estavam estacionadas em fileiras bem organizadas, com pequenos grupos de homens se divertindo nas traseiras dos veículos, bebendo cerveja, fumando e cuspindo.
Dois holofotes grandes e altos subitamente iluminaram o campo
inteiro enquanto Shawn estacionava o SUV, e eles saíram do carro.
Segurando a mão de Toneri enquanto percorriam o labirinto de caminhonetes, Hinata não avistou muitas mulheres, mas aqui e ali via outra garota, principalmente, inclinada contra seu homem, fumando cigarros e estreitando os olhos enquanto Hinata e Tina passavam.
A energia era tensa e agitada, e Hinata se aconchegou ao lado de Toneri enquanto Quint os levava para mais perto do círculo de fardos, onde a multidão ficava mais densa. No entanto, ela notou que vários homens se afastaram para permitir que Quint passasse, cumprimentando-o pelo nome com um ar de respeito, como se ele
fosse alguém importante. Na verdade, ele era. Ele e seu filho,
Sasuke, eram os agentes de apostas do evento.
— Por que demorou tanto tempo, Pai? — perguntou uma versão mais nova de Quint, com cabelos pretos, que estava ao lado dos fardos de feno, no que poderia ser considerada a primeira fila.
Ele segurava um caderno e furiosamente anotava as apostas.
— Conheci esses universitários no Bar Rústico da Rosie. Sasuke olhou para Toneri e Shawn, observando suas camisas
polo e bermudas cargo com um olhar de desdém.
— Universitários, hein? Vejo que trouxeram suas mulheres.
Trouxeram as carteiras?
Nem Toneri nem Shawn haviam cursado uma universidade, mas trabalhar na empresa de TV a cabo em D.C. permitia que tivessem um estilo de vida que pareceria luxuoso para muitas pessoas do
interior, pensou Hinata, observando a camiseta do Metallica rasgada e justa demais e as botas de trabalho gastas de Sasuke.
Enquanto examinava a tatuagem de uma margarida entre o polegar e o indicador do rapaz, sentiu os olhos dele sobre ela.
— Ei — ele disse. — De onde eu te conheço?
— Ah, merda — disse Toneri. — Lá vamos nós de novo.
Shawn riu, pegando a garrafa de bebida da mão de Tina e tomando um gole.
— Ela parece familiar, não é mesmo? — perguntou Quint, olhando para o filho e, depois, para Hinata.
— Sim — disse Sasuke de forma calma e pensativa, como se estivesse se esforçando para lembrar dela. — Você é daqui?
— Não — disse Hinata, os cabelos da nuca arrepiados.
Clinton estreitou os olhos, inclinando-se para mais perto dela, mas Toneri estendeu a mão e a colocou no tórax do outro homem.
— Perto demais, cara.
Os olhos de Sasuke mudaram o foco, observando preguiçosamente a mão de Toneri antes de olhar para seu rosto.
— Não sou tão grande quanto Seth ou Eli, mas se não tirar a mão de mim, eu mesmo tirarei.
Toneri examinou o rosto de Sasuke por um segundo antes de sorrir e abaixar a mão.
— Tenho o direito de proteger minha mulher.
— E é por isso que você ainda está de pé — disse Sasuke, olhando para Hinata por um momento antes de balançar a cabeça
como se não tivesse o poder de descobrir o mistério de sua conexão com ela.
Hinata ficou com nojo da vangloriação de Toneri e sentiu calafrios novamente por causa de Quint e seu filho. Droga, por que
esses homens pareciam conhecê-la? Ela perscrutou suas memórias, tentando recordar se Caleb Foster havia tirado fotos dela e Naruto, mas não lembrou de nada do tipo. Foi quando se lembrou de outra
coisa, e ficou boquiaberta enquanto olhava para o chão envergonhada.
Mas é claro.
Por toda a estrada rural onde ela e Naruto haviam sido levados havia cartazes de crianças desaparecidas postados pela polícia local. Ela viu um em um quadro de avisos no gabinete do xerife de Charles Town quando finalmente chegou lá. Se esse pai e seu filho viveram nesta área a vida toda, provavelmente viram uma foto de Hinata aos dez anos de idade, postada nos correios, em um bar ou banco, na lavanderia. Em toda parte. Por isso que ela parecia familiar, mas eles não conseguiram identificá-la. Por isso eles
continuaram estreitando os olhos, tentando vê-la de forma diferente
e, embora não percebessem, um pouco mais jovem. Isso revirou a barriga dela.
Ela respirou fundo para acalmar o estômago, mas o cheiro forte
de tabaco, fumaça, cerveja e suor masculino infundiu em suas narinas. Levando a mão aos lábios, ela vomitou na boca, curvando-se para o caso de um pouco escapar. Desesperada para não passar vergonha, ela engoliu as batatas e a cerveja regurgitadas e olhou para Tina bem a tempo de a outra mulher entender o que estava prestes a acontecer. Ela agarrou o braço de Hinata, puxando-a
para longe de Toneri.
— Mas o que é isso? — disse Toneri, agarrando o outro braço e puxando-a para si.
— Ela está prestes a vomitar, Toneri! Jesus! Solte ela!
Hinata olhou para Toneri e seu estômago revirou novamente.
Ele se encolheu quando os ombros dela se curvaram e as bochechas se encheram.
— Sim, ok. Desculpe. Pode ajudá-la, Tina? Acho que a luta já vai começar.
— O que você acha que eu estava tentando fazer?
Hinata nunca viu Tina tão irritada assim, mas ficou agradecida quando ela a levou para longe de Toneri e Shawn, de volta à
multidão. Ela tropeçou no terreno irregular, mas ficaria melhor se fosse para longe da multidão, longe de Quint e Sasuke, e respirasse fundo algumas vezes. Tinha certeza disso.
Tina largou o pulso de Hinata e colocou o braço em volta de seu ombro, levando-a para um fardo de feno em uma pequena
colina, quase escondida nas sombras, a seis metros do estacionamento. Dali, tinham uma visão parcial do ringue se
ficassem sentadas, mas se levantassem, enxergariam boa parte da área de lutas. De qualquer forma, poderiam descansar e se juntar a Toneri e Shawn assim que a luta terminasse. Quando Hinata sentou, Tina colocou a garrafa de vinho de frutas no colo.
— Queria te oferecer uma bala ou um pouco de água, querida, mas isso é tudo o que tenho.
Hinata pegou a garrafa com gratidão, segurando-a entre as coxas enquanto respirava fundo várias vezes de forma irregular. Os cheiros de gasolina e fumaça eram fortes, porém, de alguma forma
mais palatáveis, e finalmente conseguiu encher os pulmões e o estômago se acalmou.
— Obrigada — disse ela, expirando lentamente. — Te devo uma.
— Sem problema — disse Tina, sentando-se ao lado dela. —
Vômito e sandálias não combinam.
Hinata riu baixinho, assentindo.
— Quer saber? — Tina continuou, tirando um cigarro da bolsa e acendendo-o. — Eu tento ver o lado bom de todo mundo, mas seu namorado pega um pouco pesado, não acha?
Hinata deu de ombros, abriu a garrafa e a levou aos lábios. Era detestavelmente doce, mas era melhor do que o gosto de vômito que sentia naquele momento. Ela tomou um gole, esperando não colocar
tudo para fora, e se sentindo feliz por isso não ter acontecido.
— Mas — continuou Tina, sua voz alegre de volta agora — talvez tenha sido um golpe de sorte você ter ficado mal, porque eu não estava animada em ver aqueles dois idiotas se espancarem, e seu
estômago nos salvou. Então, obrigada, estômago revirado.
Ela riu, batendo o joelho no de Hinata.
Griselda estava prestes a oferecer a garrafa a Tina quando o barulho repentino da multidão a distraiu. Levantou-se, a garrafa de vinho batendo contra a perna, olhou por cima das várias cabeças, três fileiras ao redor do ringue, e viu uma silhueta solitária descendo a colina do outro lado do campo. Quando ele chegou à parte mais baixa, jogou a camisa de flanela no chão e entrou no ringue.

Nunca deixado para trás - NaruHinaOnde histórias criam vida. Descubra agora