DIA DE SÃO JORGE

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A estátua que pertencia a fachada do antigo colégio brilhava, toda sua cor era polida por diversos tons de cinza. As mãos esticadas aos céus segurava uma lança. O colégio são Jorge abrigava meninos e meninas.
seu aniversário de 75 anos reunia alunos e alunas, antigos e novos.
João sabia o peso que pertencia a ele da cabeça aos pés, ele era o sobrinho do padre qua abençoava a capela do colégio. Seu nome corria na boca de todos os outros como alguém a seguir exemplo, e Pedro o odiava por ser uma das pessoas afetadas por sua imagem a zelar.

João é um bom menino, ele vai a missa, ajuda seus pais trabalhando e pensa em ser padre. João é bom.
Pedro é um mal exemplo. Ele vai a festas, fuma, mata aula, bebe mesmo não tendo idade para tal e quer ser artista. Pedro é um mal exemplo.

O canto do hino do colégio era ouvido pela boca dos alunos. O Tófani mais velho revirava os olhos enquanto ouvia. Era seu primeiro ano no colégio, mas sua irmã já era uma das estudantes a um tempo. Isac era melhor amigo de Pedro, mas também irmão de João. Aquilo era um dos castigos a qual o moreno foi condenado.
Os olhares perguntavam: porque Pedro está no colégio? Ele não se orgulhava, mas havia reprovado ano passado.

Seus pais haviam jurado que o castigariam caso reprovasse, e ele não levou a sério. Seus irmãos estudavam no colégio por opção, era o melhor da cidade. Mas ele se recusou desde sempre, admitiu ser uma prisão disfarçada com um uniforme legal.

[...]

Trocou olhares com Isac e o amigo entendeu seu recado, eles saíram um por vez, de fininho. Pedro foi mais rápido

“me encontra na quadra” Isac havia enviado.

“eu sei lá onde é a quadra desse lugar” o moreno respondeu, caminhando em quanto procurava. Ele abriu uma porta, adentrou o lugar que parecia ser um vestiário.
Seus passos eram lentos, ouvia vozes no fundo.

– não, eu vou voltar pra lá. – a voz era conhecida. João.

– hey, me desculpa vai… eu tinha que, você sabe, fingir que não gosto de você, vem cá– outra voz foi preenchendo o local, também masculina.

João estava sentado no colo de um garoto dos cabelos dourados, ele tinha os braços em volta do pescoço de Romania, enquanto seus olhos encaravam diretamente nos do outro.

– eu não quero ser só mais um dos seus caras, porra Luan.– João dizia com a voz aparentemente trêmula.

Uau, o garoto pródigo, sobrinho do padre. Pedro tinha seu segredo em mãos.

– você é o único, eu prometo. – a outra voz respondeu, eles se abraçaram enquanto Pedro conseguia ouvir soluços. Deu passos para trás e se afastou daquele local, suspirando fundo e balançando a cabeça.

– você tá aí, cara, eu vou me trocar e nós vamos dar uma volta. – isac ameaçou entrar no local, Tófani arregalou os olhos e colocou as mãos sobre os ombros do amigo.

– NÃO! – quer dizer, é… eu tô mesmo muito afim de fumar agora. – puxou o outro para longe da porta.

– todos os dias da minha vida eu conto como você é esquisito. – Isac, por fim, havia caído em sua desculpa.

Ele não sabia porque havia ajudado João, porque em todas as oportunidades de ser um grande pau no cu, o garoto tinha o feito. Mas aquela imagem estava em suas mãos, e ele agora tinha algo que antes não sentia. João não era imperfeito por ter um namorado secreto, mas era imperfeito por mentir, e isso fazia a situação mudar. Tófani não era mais tão mal, não mais que João.

[...]

O evento foi longo, Pedro ignorou toda a cerimônia católica e fumou, bebeu vinho escondido e estabeleceu a si mesmo minutos de paz e tranquilidade. Se encondeu no quarto de Isac e jogou videogame até anoitecer. Ele não se sentia confortável em seu quarto, era estranho não estar em casa.

Estava com seus pés esticados sobre a cama, enquanto assistia um filme qualquer sobre qualquer coisa idiota. Não esperava, mas a porta foi aberta sem aviso.

– Isac, você disse que não iria voltar hoje! – ele soltou assustado. Desligou a tela do celular de imediato.

– o que você tá fazendo na minha cama oh Zayn Malik de Chernobyl?

Era aquela voz, aquele tom. Insuportável, João Vitor Romania era insuportável. Seus largos ombros, nariz impinado e olhar superior.

“porra ele é mais diva que a própria Dua lipa”

Pedro soltou, reparando no cacheado com as mãos na cintura. Nem o terço em seu pescoço disfarçava o quão hipócrita era carregar o brasão daquele uniforme.

– o que você disse? – João chegou mais perto, ele ergue o indicador, e Pedro o segurou no mesmo instante.

Ele sentiu o corpo do cacheado tremer, por um segundo.

– só disse que você é ridículo, agora guarda esse dedo pra outras coisas, anjinho – disse ríspido, enquanto seu olhar penetrava a alma de João.

– eu sou maior que você, não se cresce pra cima de mim! – João retrucou, fazendo Pedro levantar as sombrancelhas.

– são apenas dois centímetros a mais de altura, e eu sei muito bem que você usa paumilha de aumento.

Pedro deixou o quarto, enquanto ouvia os xingamentos do outro.

Talvez não seria uma má ideia usar o que sabia de João para o provocar, seu novo entretenimento seria assistir o cacheado atuar.

CORAJOSOS (PEJÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora