Esse capitulo contém gatilho – cenas de bullying.
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Suas mãos se agarraram ao travesseiro, o alarme soava tão alto e pior impossível. A falta de costume o fez acordar com dor de cabeça, e tudo girou, arremessou um travesseiro na porta com toda a força pelo susto.
Só podia ser brincadeira, quando olhou para a cama do lado e seus olhos encontraram aquele garoto. O mesmo que estava pelos cantos do colégio escondido aos beijos com o sobrinho do padre, o tal loiro.
– só pode ser brincadeira – suspirou resmungando todos os palavrões possíveis, ele correu ao banheiro e sentiu a água quente cair em seu corpo como um relaxante quase natural. Quando saiu do ambiente vestido com o uniforme, se olhou no espelho revirando os olhos.
“Isso é tão patético, eu não vou usar não tem condições” falou para si mesmo.
– você errou o uniforme, na verdade hoje começa o festival de esportes no colégio, ele dura três dias, você usa o uniforme esportivo e precisa se inscrever em alguma das gincanas.
– não sabia que tinham me contratado um informante – respondeu na defensiva, e foi vasculhar novamente seu grande guarda roupa.
– Eu também cheguei aqui assim, saiba que não adianta odiar todo mundo, no final você vai se sentir sozinho.
– eu não tô sozinho, a gente tem o cara do cavalo com a lança – Pedro ironizou, apontando para o quadro de são Jorge presente no quarto.
Okay, ele era bom em trocadilhos.
Vestiu a melhor roupa para poder fazer seu melhor feito: matar aula. Teve a sorte de conseguir achar um lugar aceitável em cima de uma árvore grande, onde poderia fumar e zerar seu joguinho sem ninguém o obrigar a jogar qualquer coisa idiota.
Ele sequer tomou café da manhã, mas agora seu estômago fazia menção de que precisa.
O último trago, ele saiu de onde estava e caminhou pelas várias quadras desativadas, até chegar na área esportiva utilizada.“olha que bonitinho, o padre que fez pra você?” – ouviu de longe, se escondeu atrás de uma das árvores.
“me devolve, eu preciso deles” – a outra voz estava trêmula, o arrepio que Tófani sentia, estava longe de ser algo bom.
“se eu fosse você, ficava sem eles, sem óculos você não precisa enxergar como é feio” – a outra voz zombava.
Olhou mais de perto e se sentiu em um filme clichê adolescente, mas daqueles ruins.
Dois meninos aparentemente mais velhos seguravam os óculos de João no ar, um outro segurava seus braços e agora havia lançado o objeto portador das lentes na cesta de basquete. Deu pra ouvir quando o vidro se chocou com o chão, quando elas racharam.
– solta ele – surgiu puxando o garoto que segurava João, suas mãos se desataram no mesmo instante.
– olha, ele tem um defensor, quem é ele, seu namoradinho? – o cara dos cabelos castanhos em sua frente recebeu um olhar ameaçador do moreno, ele era mais alto.
– você deve ter sido pouco abraçado quando era criança, huh? – Tófani dissecou as palavras a ele. – olha eu não tô nem aí pra o que vocês acham de mim, mas se vocês não vazarem em cinco segundos, eu vou até a delegacia e faço o maior escândalo que essa escola já viu, e eu acho que vocês não estão afim disso, não é? – ele disse assim que o outro soltou de João.
– o que você ganha defendendo esse nerd? – o garoto que segurava João o pergunta, seus olhos até reviram.
– se vocês encostarem um dedo nele de novo, eu peço que rezem muito.
– Vamo gente, esse cara só late, não morde – um dos garotos anunciou. Quando Pedro percebeu que o garoto de cabelos loiros estava ali, suspirou fundo. O tempo todo o outro estava ali, imóvel. Assistiu tudo, mas não impediu a situação. Os quatro garotos saíram juntos, incluindo o loiro.
João ainda estava no chão, seus óculos estavam em suas mãos, o rosto avermelhado já dizia muito sobre oque viria por aí.
– não é verdade o que eles disseram, eles provavelmente são um bando de vagabundos inseguros consigo mesmo. – o moreno soltou depois de um tempo, o cacheado levanta os olhos avermelhados.
– você sabe, que é verdade – ele se levantou e andou às pressas, Tófani assistia de onde estava.
João estava tão frágil, que sentiu culpa por ter o tratado tão mal no dia anterior. Mas tentou não se ver como a pior pessoa daquela história, e agora, definitivamente, guardaria o segredo dele mesmo que fosse a pior pessoa consigo.
[...]
Estar em um lugar onde o jantar aconteceu às 19:00 em ponto, era estranho. A mesa repleta de velas, enquanto as pessoas rezavam antes de fazer sua refeição. Tudo lá era dividido entre meninos e meninas. Havia uma ala para os quartos femininos, as meninas tinham uma sala de jantar separada e até mesmo as áreas esportivas eram dúvidas daquela maneira.
Pegou uma maçã, um pouco de macarrão e fugiu sorrateiramente para o quarto de seu amigo, Isac. Deu duas batidas na porta e se juntou ao outro.
– Tá gostando do colégio? Pena que você não é da mesma sala que eu – o cacheado mais alto perguntou. Ele também estava jantando escondido no quarto.
– eu acho esse lugar tão… sem graça, vem cá, preciso que você saiba de uma coisa – ele começou, enrolou a massa em seu garfo antes de continuar.
– Você voltou com a ex? Cara, eu te disse que ela é doida – Isac bebeu a cerveja, o amigo não queria nem imaginar de onde ele tinha tirado.
– não! A gente não se fala mais, mas não chama ela de doida, ela é gente boa – respondeu saindo totalmente de seu foco, quando a porta foi aberta revelando um João totalmente cabisbaixo, ele se jogou em sua cama. Nem parecia ter notado que Pedro estava ali.
Coçou a garganta, aquele não era um assunto seu e não sabia o que deveria fazer.
– eu vou buscar a sobremesa, já volto – Isac se levantou, assim que abriu a porta e saiu, a mesma se fechou sozinha, era automática.
Pedro ouviu um longo suspiro, um alto soluço abafado pelo travesseiro. A situação toda, era muito estranha e ele não sabia se falava algo, corria, ou chorava junto.
– você, nunca pensou em contar pro seu irmão o que eles fazem? – ele disse suave, tentando não assustar o outro.
– O que você tá fazendo aqui? – João se virou, quando foi se sentar, quase caiu da cama. – sai, sai daqui!
– olha se você não contar, eu vou contar porque isso é bullying e não é engraçado, isso aqui não é um filme e eles precisam se ferrar.
– você não entende, não adianta – a voz de João soou mais baixa e trêmula. – Isac não vai ligar, o diretor não vai ligar e meus pais não vão ligar.
– Você já tentou? – a resposta foi negativa, João acenou com a cabeça.
– porque você tá fingindo que se importa com isso? – João levantou o olhar, agora limpou seu rosto das lágrimas.
– eu não tô fingindo, mesmo que você seja alguém chato e insuportável eu não acho que merece aquelas coisas – se levantou. – você pode ser um mala, mas é bem menos que eles.
– obrigado… por mais cedo – João assumiu, envergonhado, mas suas palavras eram sinceras.
– eu só fiz o que precisava, anjinho. – suspirou bebendo cerveja. – É uma pena você não ter ideia do quanto é realmente bonito, insuportável e chato. – foram as últimas palavras que Pedro disse antes de sair.
O cacheado podia jurar que algo ferveu em seu peito, mas passou a mão pelo rosto suspirando alto.
Enquanto Pedro, a pessoa que o queria longe o tratava com gentileza. Seu namorado havia feito parte do bullying praticado contra ele, seus óculos estavam ferrados, mas seu aparelho auditivo estava intacto, ao menos.
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CORAJOSOS (PEJÃO)
Fanfictionapós reprovar de ano, Pedro é enviado para o internato são Jorge, um dos melhores colégios da cidade. Contar com a sorte não era seu forte, já que João, o sobrinho do padre, o faria viver seu adorável inferno particular.