sublime

572 49 66
                                    

encarar a vida com os olhos de pessoas que te poliram para vive-la era a especialidade de João. olhos sempre atentos a qualquer exigência, ele precisava ser bom, ele ansiava ser amado, e para ser amado, ele precisava ser bom. Mas agora, diante da luz que refletiam as mexas de cor castanhas escuras, outras mais claras que seus dedos acariciavam, ele enxergava quem era.

Não ouvia os murmurios do outro ao dormir, mas sua feição calma e suave aquecia seus sentidos, bastava sentir que ele estava ali.

- hum, bom dia? - ele sentiu os dedos quentes tocarem ao redor de seu corpo, o cheiro que o moletom tinha, era o cheiro de João, e ele sorriu pensando em como o outro também sentiria.

- eu esperei você acordar, e.. aproveitei, fiz um trabalho de matemática enquanto dormia. - ele mexia os lábios enquanto sinalizava, sua voz era baixa, e calma.

- podia ter meu acordado, anjinho eu durmo demais, e sempre até muito tarde - ele explicava dizendo lentamente.

- é, você é um preguiçoso! - João o acertou com uma almofada rindo, Pedro o puxou para seu colo, voltando a se deitar.

- eu ainda não acredito que você aceitou ser meu namorado, e que agora eu namoro um cara loiro - ele disse alargando um sorriso malicioso, enquanto o semblante de João mudava completamente.

- loiro... LOIRO! - ele deu um pulo do colo do namorado diretamente em direção ao espelho, passou os dedos encarando seus pensamentos.

- ficou um gatinho, beleza?

- Pedro, meus pais vão me matar - ele dizia sinalizando, fazendo ênfase no "matar". Ele suspirou fundo e colocou a mão tapando os olhos. - eu não sei porque fiz isso.

- João, meu amor, bem cá - ele estendeu a mão,
o cacheado levantou os olhos com o "meu amor" sinalizado perfeitamente pelo outro, ele estava cada vez melhor em libras, mas o fato dele sempre o empresionar o trazia sentimentos que não sabia controlar.

Se aproximou segurando as mãos do outro, ele sentia como se pudesse se desmanchar a qualquer momento, pelo outro.

- não ah nada de errado com você ter feito algo diferente no cabelo, isso é terapêutico até, sabia? - ele dizia e João concordou. - mas eu entendo sua preocupação, eu sei que naquele inferno de escola todo mundo vai espalhar como se fosse um prêmio da loteria, eles são uns babacas.

- você nunca foi babaca, Pedro? João segurava firmemente as mãos do moreno.

- eu sou babaca, mas é um tipo diferente, eu sou babaca com quem é babaca - ele explicava roubando um riso frouxo do outro.

- você foi babaca quando entrou, comigo!

João se lembrava do incidente de sua primeira conversa.

- na verdade eu tinha te achado gato, eu sou ruim em flertar, desculpa por aquilo

- você é ruim em disfarçar também, sempre tive certeza que você gostava de meninos - o moreno finalmente o puxou.

Ele deu um beijo apertado, diferente, era esportivo e sem intenção de ser amável.

- é, geralmente, as pessoas bonitas me chutam, você me deu um beijo e saiu correndo - Pedro se lembrava, também rindo.

- não me considero uma pessoa bonita, você está aumentando a história - o cacheado dizia já sentado ao colo de Pedro. - eu te achava um mala, mas não dá pra não reparar nesses seus.... traços

-  eu posso ser o que você quiser - tofani sussurrou lentamente.

- ai, que bregaaa - João gritou sentindo o outro se sentar para abraçar seu corpo, rindo. - a gente pode esconder o seu cabelo, usa meu boné, ou diz que com dor de ouvido - Pedro dizia tentando achar uma saída.

- eu não posso mentir, lembra? - Romania estava de mãos atadas.

- eu minto pra você, então

Eles riram enquanto tofani se alinhava a João, mas um barulho na porta fez com que eles parassem.

- Pedro? Sou eu, Isac - a voz fez com que o loiro entregasse com os olhos, em espanto.

- eu já vou! - gritou olhando João.

Ele decidiu se esconder no banheiro, Pedro abriu a porta.

- falaram que você saiu da festa ontem a noite com o João, ele tá aqui? - questionou olhando ao redor.

- você ouviu isso de qual bêbado? - Pedro se esforçou.

- não tem graça, viu ele ou sabe onde tá? - a expressão de Isac era de preocupação.

- você liga? - o moreno estava sem paciência.

- não, só estou apenas procurando ele desde ontem -  respondeu rude.
- Pedro, o João pode estar morto nesse exato momento, e você não ajuda com essa enrolação

- Isac que exagero, seu irmão não é um bebê, e não, ele não tá no meu bolso!

- não é exagero - Isac se sentou na cama. - deram bebida pra ele, eu fiquei sabendo. - ele suspirava com as mãos na Cabeça - o João toma uns remédios fortes e é sério, misturar isso da ruim, bem ruim. - explicava. - você não entende, você é o mais novo.

- você nunca pareceu ligar, ele até sofre bullying e você nem vê!

- Pedro! - a voz saiu de trás deles, João gritou e logo se arrependeu, colocando as mãos na boca. Isac olhava o cúmplice de seu irmão com feição de quem parecia estar sem jeito.

- bullying? - O Romania mais velho ergueu as sombrancelha. - como assim você sofre bullying? - ele se levantou. - quem é, me fala que eu acabo - ele levantou a voz, João suspirava.

- quem é, quem é.. - João revirou os olhos. - você nem percebeu porque você só se importa consigo mesmo Isac, seus melhores amigos quase me matam todos os dias e você só pensa em como seus músculos estão expostos pra aquela droga de escola idiota - João gritou, ele gritou com tanta vontade.

- você devia ter me contado, eu nunca iria deixar! - ele gritou e parecia segurar lágrimas. Isac agora olhava o irmão.

- eu nunca soube se você iria me odiar - João agora dizia colocando as mãos nos olhos, ele já chorava intensamente se afogando em todas as suas piores lembranças.

Isac se aproximou, ele estendeu as mãos até os olhos de João e o fez olhar para seu rosto.

- desculpa, eu nunca quis ser um irmão tão merda, eu só.. queria ser alguém além do sobrinho do padre, o filho dos empregados do Luan - revirou os olhos. - eu não percebi, eu te protegeria.

- mas você não protegeu Isac, e eu não consigo te perdoar. - suspirou.

- você e o Pedro? - o cacheado mais alto soltou os braços do irmão

- você vai contar pra eles? - o loiro tinha a voz mansa.

- claro que não - apertou os olhos - mas eu não sei o que dizer sobre... isso - apontou para tofani. - se eu te pegar usando droga com ele eu conto, tá ouvindo? - Isac ameaçou. - isso você não pode, você sabe da sua condição - Isac explicou e João concordou de olhos fechados.

- agora vai embora - o mais novo parecia implorar.

- eu prometo que vou acabar com essa palhaçada de te zoarem, não volta tarde - deu um tapinha nos ombros do irmão e saiu andando de mansinho.

Pedro fechou a porta, encontrando o cacheado roendo as unhas.

- que condições ele tava falando? - suspirou enquanto balançava os pés, sentado na cama.

- tenho apenas um pulmão - João se sentou ao lado do namorado, esse pulmão tem defeito - ele riu

- então você precisa de outro e corre risco!

O moreno tinha o coração alto, quase dava para ouvir as batidas.

- o Luan era meu doador, Pedro.

CORAJOSOS (PEJÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora