jejum

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Este capítulo contém gatilhos de trauma religioso.

[...]

A noite chegou cruel como na primeira vez, era difícil confessar, mas sentia falta de casa. Até mesmo de seus pais, que esperavam que ele fosse diferente do que era. O moreno ouvia muitos discursos onde eles declararam seu amor pelo filho, mas, por um Pedro que eles idealizavam em suas cabeças, não por este quem é.

De bruços em sua cama, sentia a lua cair sob seu peito. Sentia tudo que era maior, a briza do vento sereno, veloz. Pegou seu caderno e desabrochou seus pensamentos mais intensos, largou o lápis de lado algum tempo depois, orgulhoso do que encarava.

Após fechá-lo, suspirou por tempos enquanto pensava se valeria a pena se juntar aos colegas para jantar. Quando decidiu se levantar, ele ouviu risadas ao corredor, ignorou e se preparou para tomar banho antes do jantar.

Quando estava em frente ao seu armário para pegar uma roupa, ouviu a voz na porta.

– Luan, não posso ficar no seu quarto, você sabe, é perigoso.

Em um impulso, Pedro se escondeu no armário. Sua curiosidade era muito maior que qualquer coisa, principalmente quando se tratava de um babaca, o tal do Luan.

– deixa de ser medroso, eu vou olhar se está vazio.  – Pedro ouvia abafado. Se manteve olhando pela fresta, enxergou o loiro entrar para checar o local, e logo em seguida, os dois estavam entrando.

A ideia de Pedro fora um tanto burra, pois agora ele estava preso ali enquanto ouvia o som dos lábios tocando. Era constrangedor, mas acima de tudo odiava a situação. João parecia ser alguém legal, apesar de todas as coisas, Luan era desprezível e Pedro sentia raiva pelo cacheado velar aquilo com sua paixonite.

– hey, não… aqui não dá, vai que alguém chega – o loiro parecia estar em cima de João, ele segurava seus ombros.

– mas que porra, você é mesmo um covarde. – se levantou, bufando como uma criança mimada.

– me… desculpa, tá? Podemos no meu quarto e acho que lá o Isac não tá hoje – ele soltou, parecia estar frustrado.

– agora que eu perdi o pique, eu prefiro que você vá embora – a voz de Luan soava ainda mais irritante para Tófani, ele gritou de uma forma rude.

O cacheado saiu pela porta, e um tempo depois, Luan saiu batendo com certa força.

Abriu a porta do armário e encarou a saída do quarto, algo o pedia para seguir seus pensamentos que faziam chegar à conclusão de que ele precisava ir atrás de Romania.
Mas, porque ele ligaria para aquilo? Era entre eles, aquele algo mais forte o fazia ter vontade de poupar João. Poupar o cacheado do que aconteceu consigo. Aquela parte de seu passado o atormentava todos os dias.

No instante em que Luan gritou consigo, João havia corrido para o seu quarto. Ele queria sumir toda vez que o namorado tinha algum comportamento do tipo, mas em especial, daquela vez havia sido em um dia sensível. Se jogou em sua cama e se permitiu chorar, quando se levantou, encarou o espelho.

Tirou seus óculos reservas que agora usava e o aparelho auditivo. Se sentir amado, por quem ele era parecia a única coisa que ele queria e não poderia alcançar. Porque seus pais amavam o João que trabalhava para ser padre, como seu tio. E Luan, amava ter um garoto para beijar, mas não amava João.

Ele se jogou em sua cama, sentindo um deserto despencar sob seu peito. Suspirou e viu a porta sendo empurrada, ele colocou a mão sob o peito e agarrou seu aparelho auditivo, o colocando novamente.

– desculpe invadir seu quarto, mas eu bati na porta e você não falou nada então achei que pudesse estar no banho, sei lá – Pedro estava de pijamas, tinha duas canecas em mãos e podia ver a fumaça sair relevando bebidas quentes.

CORAJOSOS (PEJÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora