Os pés estavam tocando freneticamente no chão. Apenas uma simples visita familiar poderia deixar seu mundo fora de ordem, a dureza que poderia funcionar com seu pai, com ele, fingia não sentir nada. Mas com sua mãe era diferente, ele não conseguia mentir para ela.
Muitas vezes em sua vida, precisou se isolar das pessoas. Daquelas que não gostavam do seu jeito ríspido de sempre falar o que pensava, de entender seu instinto de proteção. Usava as palavras para manipular seus sentimentos, o sarcasmo era o que tinha.
Sua mãe era sensível, ela o olhava com muito amor. Seu pai era um típico homem tradicional, que o tratava com severidade e nunca o olhava por muito tempo.
Quando sua mãe adentrou a sala de visitas, continuou parando onde estava.
– Não vai dar um abraço na mamãe? – ela chegou mais perto.
A saia da mulher era longa, usava mangas e tinha pérolas em seu pescoço. Seu brinco de esmeralda brilhava se destacando nos tons escuros da sala..
Ele se levantou, desajeitado e abraçando o corpo da mulher que ficava mais alta com seu salto, os braços dela estavam ao redor do filho, e ele agarrou sua cintura.
– mãe, por favor me leva embora, por favor – ele pedia baixinho, a mulher parecia se segurar.
– amor, estamos fazendo isso porque é o melhor pra você – ela falava cantado, enquanto acariciava os cabelos do filho. – porque eu te amo, não posso te deixar acabar com a sua vida sem fazer nada, amor.
– Então me leva embora, prometo que não vai mais se repetir – ele não segurou suas lágrimas, mas deixou cair, sem pensar.
– você ainda não está bem pra voltar, mas prometo vir te ver em todos os encontros okay?.
Os alunos em adaptação do colégio recebiam visitas semanais dos pais, e todos eles podiam passar o fim de semana com sua família, menos aqueles que tinham algum castigo pendente.
Pedro teria o "privilégio" de visitas todas as quintas-feiras, até estar completamente adaptado.
Eles caminhavam pelos corredores gigantes da instituição, as estátuas, os jardins e a capela. Toda a beleza do palácio onde ficava a escola, escondiam inúmeras histórias irreparáveis.
– não fez nem uma amizade? – a mulher perguntou quando pararam em frente ao chafariz, eles se sentaram no banco.
– eu tenho um… amigo, o Isac não é mais meu amigo… – abaixou a cabeça, brincando com a folha seca do arbusto que havia caído sob o banco.
– Vocês brigaram? – a loira voltou a acariciar os cabelos ondulados do moreno.
– ele é alguém ruim – levantou o olhar, percebeu a presença de um grupinho vindo na sua direção. João estava entre eles.
– oi Pedro, você faz técnico de artes plásticas comigo, sou a Clarissa, lembra? – seus olhos o traiam sempre, estavam presos em João no mesmo instante em que ele pisou ali.
– lembro sim, suas técnicas são boas – respondeu sorridente, sua mãe ao seu lado mantinha um enorme sorriso também, já imaginava mil e um planos de matrimônio ao filho e a garota loira.
– eu queria te convidar pro meu aniversário, é no sábado, aparece lá – Malu, entregou o cartão holográfico a ele.
– a senhora é a cara dele, a beleza vem de família, com certeza – clarissa soltou, fazendo Pedro morder os lábios.
João se afastou aos poucos, ele esperava não ser notado, como sempre acontecia, mas Pedro notou, porque seu coração tinha parado de acelerar as batidas.
As meninas iniciaram um diálogo com Ana e Pedro aproveitou a deixa para sair de fininho.
Ele procurou João com o olhar rapidamente pela direção que ele tinha saído, não demorou muito para encontrar. Correu e subiu no muro que dividia a escola da capela, antes de João entrar nela.
– você tá me evitando, anjinho? – chamou a atenção do cacheado, que olhou para os lados antes de se atentar ao moreno.
– eu – me desculpa, eu não sei mais o que dizer...
Pedro pulou do muro, parou em sua frente, limpou as mãos na calça e começou o diálogo tentando praticar seus estudos em libras.
– eu gostei do que você fez – ele sinalizou enquanto também falava, havia ensaiado aquelas frases durante um grande período de tempo.
Romania inclinou a cabeça para frente, escondendo seu rosto. Estava envergonhado, ele expôs o rosto e sentiu faíscas por todo corpo, até incendiar completamente quando o moreno entrelaçou os dedos nos dele.
– eu sou muito afim de um filme com você, mas claro, se você aceitar ir ao cinema comigo – ele acariciava a mão do maior com o polegar.
João queria se beliscar, ninguém nunca havia o chamado para sair, nem segurado sua mão com tanto carinho e muito menos tentado se comunicar em sua primeira língua, a libra.
Mas ainda tinha alguém, e por mais que Luan não fosse o melhor, ainda tinham um rótulo.
– eu preciso te contar uma coisa antes – olhou para o chão, o nervosismo o dava vontade de pular.
As mãos de Pedro se moveram até às bochechas do maior.
– preciso ir antes que minha mãe perceba que eu sumi, mas, me encontra mais tarde no meu quarto? – perguntou, e João concordou com a cabeça.
O moreno inclinou a cabeça para frente, e deixou um pequeno estalo no canto da boca de João, em sua bochecha. Aquilo foi o suficiente para que toda a ordem de seus pensamentos mudassem, e ele não conseguia controlar, nem entender.
Nunca havia sentido aquela sensação de combustão apenas com um olhar, a voz de alguém. Luan despertava muitas coisas, mas todas elas se resumiam a pensamentos eróticos e desejo de pertencer a alguém. Pedro o fazia se sentir interessante, ele se imaginava alguém além. Gostava de quem era e de como se sentia com o outro.
João entrou na capela, mau conseguiu se concentrar na aula do padre quando sua mente pedia para que as horas passassem para poder ver Pedro.
O moreno voltou onde a mãe estava, já estava sozinha.
– suas amigas são legais, a loirinha combina com você – a mulher o estendeu o convite,
Pedro segurou a careta.
– eu gosto de outra pessoa, e não é uma menina, mãe – foi sincero, olhando para a mulher.
– além daquelas outras questões, também está aqui pra se curar disso, filho, sei que essa coisa é maior que tudo mas você consegue, eu te vi ter muitas namoradas Pedro você não era assim.
– mãe é óbvio que você me viu com garotas, eu não tenho restrição pra gênero, eu sou assim.. quer saber, não sei porque você tá aqui já que você não gosta do filho que tem. – se afastou da mulher, apenas alguns passos. – já que não vai me levar, a senhora já pode ir, obrigado pela visita e pelo vale homofobia também – ele saiu batendo os pés, Ana segurava o choro enquanto assistia o filho desaparecer no corredor.
Pedro tentou se concentrar na ideia de ter um fim de semana livre com o garoto que faziam seus sentidos se aticarem.
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CORAJOSOS (PEJÃO)
Fanfictionapós reprovar de ano, Pedro é enviado para o internato são Jorge, um dos melhores colégios da cidade. Contar com a sorte não era seu forte, já que João, o sobrinho do padre, o faria viver seu adorável inferno particular.