Alma

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Dedicado a dois anos de pirata.
Seria o ar que com poeira apagaria a chama, mas o pranto do coração corajoso, salgado como as ondas, restaurará aquela terá” – jaofelino.

Os momentos se passavam como poeira, imperceptíveis. Seria tão lento o soar do grande objeto de metal, qual transmitia a mudança das horas. Seus olhos piscavam
Já a primeira pancada, o tirou do mar, o mergulho profundo em seus pensamentos.
Por mais que o tivesses perto, sentia a sua alma distante. A cada pancada tua, vibrante no céu aberto, sentia mais longe o passado, a saudade mais perto.

Deixou de soar com o fim das badaladas, o coroinha podia deixar o banco. Fez sua penúltima reza do dia e apagou a penúltima vela. Deixou o manto de lado junto às rosas que estavam perto das velas.

Seus passos marcavam os corredores, até chegar no quarto enviado na mensagem. Parou em frente a ele quando percebeu que que número se tratava.

O quarto de Luan.

– veio me ver vestido de coroinha, sempre tive fetiche em pecados – ouviu a voz do loiro atrás dele, fechou os olhos quando sentiu as mãos em sua cintura.

– eu não.. Vim ver você, hum..  Pedro é da minha sala e eu tenho um..

O garoto dos cabelos dourados desceu suas mãos, ele estava indo além e João queria o empurrar, mas não sentia forças, sentia seu corpo arrepiar com o toque, Luan despertava todas as suas vontades proibidas.

Ele se afastou, e bateu na porta, uma única vez, mas com força.

– o que foi, me dá um beijo huh? – o outro colocou os lábios em seu pescoço, excitado com o arrepio, diferente de quando Pedro o deu um estalo em sua bochecha, que sentiu tudo mudar.

Afastou o outro de seu corpo, e o encarou com um semblante sério.

– eu tô aqui pra falar com Pedro, temos um trabalho okay? – suspirou sentindo receio do que veria. Escondeu suas mãos atrás de seu corpo.

– depois você faz o trabalho, não tem mais tempo pro seu namorado? Tá evitando minhas mensagens e não me olha mais.

– eu quero fazer o trabalho Luan, que saco – revirou os olhos e levou as mãos a cintura.

– Tá bom, gasta seu tempo com esse aí só não esquece que se eu não te querer ninguém vai, eu gosto de você igual ninguém gosta João, ninguém ia querer namorar um, cara como você, mas eu namoro porque sou bom pra você. – ele dizia baixinho, chegando mais perto.

Quando João o encarava mexendo os lábios sem conseguir transmitir som, a porta foi aberta.

– Olá, eu demorei porque estava no banho desculpa – Pedro dizia enquanto sinalizava. – Algum problema aqui? – encarou o garoto loiro, que agora havia dado dois passos para trás.

– não… você, prefere estudar na biblioteca? – João dizia, mas fez um sinal diferente dizendo “diz que sim”. Luan nunca havia se esforçado para aprender, ele não entenderia.

– melhor né? Mas não tem tanta gente feia quanto no meu quarto – brincou fechando a porta, o loiro fez uma careta, empurrou o ombro de Pedro e passou por ela, logo em seguida batendo forte.

João fez um sinal de obrigado, e Pedro se pôs ao seu lado. Os dois estavam andando um ao lado do outro, sem dizer nada, mas João possuía um sorriso ladino.

– você fala bem a linguagem de sinais, onde aprendeu? – pode ouvir a voz do cacheado soar.

– bom, na verdade eu tô aprendendo pra falar com você, você estuda a língua dos padres e eu a dos anjos – o moreno era certeiro em cada palavra, João passou a língua por seus lábios em timidez.

– vai à festa da Malu? – continuou andando, já estavam no último andar e Pedro estranhou que o ambiente estava ficando mais escuro. O prédio dos dormitórios era um palácio, e naquela parte havia um Museu onde todas as raridades relacionadas a São Jorge ficavam.

– acho que sim, mas se você não for, não tem graça pra mim – o moreno terminou.  João abriu uma das portas e acendeu as luzes.

O lugar era bem conservado, todos os artefatos estavam nitidamente cuidados.

– esse é o lugar que eu venho quando me sinto no escuro – suspirou. – você é o único que vem aqui, eu tenho a chave porque peguei das coisas do meu tio, então é um segredo. – o cacheado explicava. Sabia que o outro não entendia libras completamente, ele apenas dizia. – Na verdade, eu queria te contar algo, eu entendo se for muito pra você, é difícil entender uma pessoa com tantas questões.

Tófani tomou o olhar cabisbaixo quando João e Luan estavam em frente a porta, ele sabia que algo estava errado, além de todas as outras questões cotidianas.

– você deu sorte, eu adoro pessoas cheias de questões – o outro brincou. João desligou por um segundo notando o pequeno brinco brilhante em sua orelha, junto a sua jaqueta de couro o deixava completamente atraente para si.

Seus suspiros eram por tantos motivos, pela preocupação de falar a verdade, por sentir aquela nova sensação outra vez. Porque o outro, era tão bonito.

– Acontece que..  Eu tenho um namorado. – fechou os olhos, esperou Pedro correr ou gritar com ele, o empurrar ou colocar todas as culpas em seu colo. Mas diferente disso, sentiu as mãos do outro tocarem as suas, e outra vez, ele era ideal.

– Aquela coisa que você chama de namorado, não merece o que você é, eu sei do Luan e acontece que vi vocês  uma vez – sorriu de lado, sem graça. – você quem decide se vai querer continuar com ele, mas eu acho que ele não te merece, sabe? Você tem todas as coisas que ele não tem – colocou as mãos nas bochechas do cacheado.

– você é inteligente, é esforçado, é marrento, mas é bom de verdade a sua beleza não é o ponto porque se eu for falar dela vou ter que escrever uma saga com uns vinte livros – completou. – ele não merece tudo isso, você acha que os anjos existem para cair nas mãos de um bicho tão feio? – João sorria ladino, sua risada era baixinha, ele ouvia seu coração bater forte.

– ele não é tão ruim, mas eu sei que é ruim – baixou o olhar, procurando as palavras. – prometo que vou acabar, mas… agora não consigo, se você quiser ser só meu amigo ou ir embora eu também entendo – soltou triste, Pedro entendia por mais que não gostasse.

– mas você já me beijou então eu acho que ele já é chifrudo, não tem volta
– respondeu tão claro, que João soltou uma alta gargalhada. Seus olhos se encantaram com o barulho espontâneo.

Se aproximou do cacheado, o olhando em cada detalhe de seu rosto.

– posso te beijar? – ele sinalizou. – Eu sei que quer terminar com a loira do banheiro antes, mas eu não me importaria, claro só se você quiser também.

João se aproximou, colocou as mãos apoiadas no peitoral do outro e o encarou, sentindo a respiração mais perto. Ele colocou a mão por dentro da camisa, passou os dedos e arrepiou completamente. O outro fechou os olhos e soltou ar, lentamente. Os lábios foram tocados, um toque que fez tudo transcender.

O moreno tinha suas duas mãos nas bochechas de joão, o mesmo iniciou um beijo intenso. Seu toque acendia todas as partes do corpo do outro, ele queria conectar todas elas ao que estava à sua frente. Sentir as mãos de Tófani descerem até sua cintura pelo tecido da beca, o aperto que fizera, o permitiu fazer escapar um som proibido por todas as estátuas presentes naquele local.

Afastou o corpo de Pedro, suspirou com um semblante assustado. Tudo que gritava em sua cabeça falava tão alto.

– eu fiz algo errado? Desculpa, anjinho.

– eu aceito ir ao cinema com você – foi a última coisa que ele disse antes de correr dali, Pedro ergueu as sobrancelhas estranhando a atitude do garoto, mas deu de ombros e o sorriso tomou conta de seu rosto.

Do outro lado do palácio, o cacheado correu para o banho.

A diferença de Luan e Pedro, era que todas às vezes que pensava no corpo de Luan sentia vontade de passear por cada pedaço e não sentiria falta de olhar em seu rosto. Pedro o despertou sentimentos além do desejo de entrega de corpo, ele não podia entregar sua alma para mais ninguém, ela já pertencia à igreja.

E toda vez que se lembrava disso, ele reza para que sua alma se entregasse à luz.

CORAJOSOS (PEJÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora