CAPÍTULO IV

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Crepúsculo Dourado, primeira prece, 32° ano do 5° Reinado

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Crepúsculo Dourado, primeira prece, 32° ano do 5° Reinado.

A jornada desenrolava-se num silêncio opressivo, de tal forma que os sons rítmicos dos cascos dos cavalos ecoando pela estrada, se tornavam os responsáveis por transmitir à Gwenevere, a segurança de estarem distanciando-se da capital em um ritmo lento, mas constante. 

Naquela cabine, as janelas cuidadosamente vedadas por espessos tecidos, ocultavam sua presença de olhares curiosos e impedia sua visão do mundo exterior. O ambiente confinado, abafado e impregnado por um cheiro nauseante, intensificava os enjoos incessantes que ainda a assolavam. 

Ela era uma fugitiva, cercada por uma simplicidade que contrastava fortemente com a opulência que costumava ver na corte, o que lhe remondava à memória, dias de uma vida distante.

Quando algum forte enjoo surgia, rapidamente se via forçada a abrir a pequena portinhola da cabine ou suplicar por uma breve pausa para acalmar o estômago revolto. No entanto, sua guardiã raramente atendia prontamente aos pedidos de parada, exigindo uma série de resmungos e impropérios antes de finalmente ceder.

- Você quer que vomite sobre as provisões, outra vez?! - Gwenevere ameaçou certa vez.

- Faça isso, de novo, e eu te largo aqui! Fico com as moedas e esqueço você! - a guardiã retrucou como uma velha ranzinza. - Quero que se foda!

Mesmo assim, quando a necessidade apertava, ainda que contrariada e apreensiva pelo atraso da viagem, a mercenária se dispunha a ajudar a rainha como podia. Segurava seu cabelo, auxiliava a sustentar o corpo trêmulo, lhe recomendava boas refeições, feitas por ela, e estava sempre atenta.

- Fez cair suas mãos, droga? - Gwenevere perguntou com o tom mais sarcástico e zombeteiro que conseguiu reunir depois de deixar sua mais recente refeição, junto de seu suco gástrico, misturados no chão.

Mas a mercenária, sempre dava de ombros. Ignorava, e se rodeava dos próprios xingamentos. Não era muito de falar, e constantemente cultivava uma carranca pela qual Gwenevere sentia-se determinada em quebrar de qualquer forma.

Mas, para a felicidade daquela guardiã, raras eram as oportunidades breves para qualquer conversa entre as duas. Mesmo assim, a rainha, não deixava de aproveitar qualquer abertura para tentar suavizar a face amarrada e o jeito amargo que parecia eternamente fixado àquela rocha esculpida no formato de mulher.

Foi com muita paciência e insistência, depois de muitos resmungos, vômitos e de ser ignoradas tantas outras vezes, que Gwenevere finalmente conseguiu algo pertinente. Um nome. "Elvira".

E soube, sem sombra de dúvidas, que Elvira era uma mercenária. Pois isso, era um fato inegável. Trajava-se como uma, falava como uma e comportava-se como uma. Sem disfarce algum. Ela vinha do Norte, mas não de Norte-Além, como Gwenevere, e sim do Norte de Teorim. O restante, eram apenas suposições e suspeitas que Gwenevere cultivava com sua curiosidade e imaginação.

OS VENTOS DO CATACLISMA: Lobos Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora