Capítulo 10

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"Oh, simple thing, where have you gone
I'm getting old and I need something to rely on
So tell me when you're gonna let me in
I'm getting tired and I need somewhere to begin"
Somewhere Only We Know, Keane

Kim Taehyung

A primeira coisa que fiz assim que entrei no carro foi enviar uma mensagem para Soomin. Não foi tão rápido quanto eu imaginei porque nada parecia bom o suficiente. Quando olhei no relógio já haviam se passado quinze minutos.

Não dá para contar nos dedos a quantidade de vezes que digitei e apaguei, julgando não estar do melhor jeito possível. Eu não queria passar uma má impressão, então não me contentei fácil. Mas isso é normal quando estamos interessados em alguém, certo?

A verdade é que a morena de olhos grandes e boca carnuda não sai da minha cabeça. Fumei uns três cigarros na noite passada a fim de aliviar a ansiedade que se instalou em meu peito. A minha sorte foi que Beomgyu apareceu para assistirmos um filme e jantarmos juntos, fazendo-me dispensar a nicotina.

— Ainda continua com esse vício de merda, hyung? — O garoto largou a mochila no sofá e foi até a sacada, flagrando-me soltando a fumaça pela boca.

— Olha a boca, pirralho.

— Você precisa se cuidar, cara — Ele apoiou uma das mãos em meu ombro — Vou ser sincero com você. Eu já tive vontade de fumar para experimentar, mas se nós dois acabarmos viciados, quem vai puxar a orelha do outro? Colabora comigo e faz isso valer a pena, hyung.

— Você tem que fazer isso por você, Beomgyu, não por mim.

— E porquê você também não faz isso por você? Não deixa de fumar? — Rebateu com a voz um pouco estridente.

— É mais complicado do que parece, Beom — Alisei minha testa com pesar — Fumar me traz alívio, entende?

Um silêncio se estendeu por poucos minutos até que nós dois estivéssemos estirados no sofá. A mochila do mais novo já se encontrava no chão a essa altura. Fechei os olhos e logo o escutei perguntar:

— Você está fazendo acompanhamento com um psiquiatra, hyung? — Sua voz agora era suave e cuidadosa.

Ao abrir os olhos, vi meu irmão me olhar com uma feição preocupada.

— O quê? — Minha voz saiu mais trêmula do que eu gostaria — Que papo é esse?

— Não finja que você não sabe do que eu estou falando, hyung... — Ele arrastou a voz em conjunto com um gemido de frustração, fazendo meu estômago revirar.

— Você veio aqui para me encher o saco hoje, pirralho? — Cocei a nuca levemente estressado e busquei desviar o foco.

— Hyung, não mude de assunto — Beomgyu se aproximou e imediatamente senti meus ombros ficarem tensos — Qual é... Você sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa.

Para ser sincero, não vejo problema em frequentar um psiquiatra ou coisa do tipo. Pelo contrário, como profissional da saúde eu incentivo e apoio todos a cuidarem de sua saúde mental. No entanto, não é por causa disso que estou blindado contra esses problemas.

Não é confortável falar sobre isso, mesmo com alguém de confiança, porque o sentimento de incompreensão nunca parece diminuir razoavelmente. Meu desconforto nada tem a ver com qualquer estigma criado ao redor desse assunto.

Falar sobre meus sentimentos tão abertamente é lidar com uma versão ainda mais vulnerável de mim mesmo, em frente a outra pessoa, e isso me assusta. Muito. E por mais que a dor de guardar tudo isso dentro de mim seja enorme, eu encontro outras maneiras de me aliviar e me punir – como o cigarro.

Made Of Each Other | KTH +18Onde histórias criam vida. Descubra agora