Capítulo 02

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"I grew up with a blue question mark in my mind
Maybe that's why I've been fighting for my life
But looking behind, I'm standing here dazed
The powerful shadow swallows me
The question mark is still blue
Is it anxiety or depression?"
— Blue & Grey, BTS

Kim Taehyung

A vida é um caminho complexo e cheio de fases. E em cada uma delas, estamos de um jeito. Felizes, amargurados, inspirados, e assim por diante. Mas existe uma fase da qual ninguém escapa, em que você passa boa parte do dia questionando o verdadeiro intuito da vida e não enxerga nada que valha a pena o suficiente. Tudo se resume a apenas obrigações, obrigações e mais obrigações.

Normalmente isso acontece na adolescência. Você está prestes a ingressar na vida adulta, precisa escolher uma profissão que definirá seu futuro, todos te perguntam se é isso mesmo que você quer e, como se já não bastasse, a maldita puberdade mexe com você. Você sente vontade de se tocar em vários momentos do dia, imagina como será sua primeira vez, passa a reparar no físico das pessoas ao seu redor e inconscientemente se compara com elas também.

Basicamente, é o momento da vida em que você começa a entender que as coisas não são um mar de rosas. Há muito com o que lidar e, na maioria das vezes, coisas que fogem do seu círculo de controle. Isso torna as coisas frustrantes, afinal, tudo o que você pode fazer é mudar a sua maneira de pensar e agir. E, convenhamos, é muito mais fácil nos frustrarmos de novo e de novo do que mudar algo no nosso interior. Isso é um processo.

A outra fase em que você é bombardeado pela sua própria mente com reflexões existencialistas é nos trinta anos de idade. A vida te dá um tapa na cara e você entende que revidar pode causar mais danos do que benefícios. É quando você percebe que tudo é tão automático que a essência da vida em si se perde aos poucos. Trabalho. Casa. Trabalho. Casa. Bar, às vezes.

E, bom, talvez eu seja uma exceção à regra, mas estou preso nessa fase desde quando era apenas um adolescente. Não cheguei a casa dos trinta anos, não sou mais um adolescente com os hormônios à flor da pele, mas minha cabeça ainda me diz que não há sentido na vida.

Meus dias são monótonos e cansativos. É como se nada fosse capaz de me despertar de fato. O café preto que eu costumava almejar todas as manhãs passou a ser apenas um líquido amargo. Comer se tornou uma obrigação, sendo que certa vez eu era o maior apreciador da culinária. É angustiante encarar meu reflexo no espelho e me questionar se esse realmente sou eu.

Eu sei que existe um motivo para isso, e ele tem nome e sobrenome: Kim DongHae. Desde quando eu era muito novo meu pai insistia em colocar suas vontades acima das minhas, até que acabei cedendo. Achei que isso poderia amenizar o estrago de anos a fio prejudicando o meu psicológico, mas me enganei.

Diferente do que muitos acreditam, DongHae não dialogava comigo, não tentava colocar seu ponto de vista como uma alternativa, mas como a única opção que eu tinha. As coisas sempre foram do seu jeito, agressivamente. Não era difícil que sua mão pesada deixasse uma vermelhidão por horas em minhas bochechas, ou até suas palavras afiadas me deixassem com um buraco enorme no peito.

E o pior de tudo era que ninguém poderia me ajudar. Eunjoo, minha mãe, sempre permanecia o mais distante possível desse tipo de situação, optando por ficar do lado do meu pai, sem importar com seja lá o que houvesse acontecido. Beomgyu é oito anos mais novo que eu, não havia muito o que ele pudesse fazer a não ser ficar do meu lado – o que ele sempre fez. Dona Mei fazia tudo o que estava ao seu alcance, mas não podia extrapolar, senão seria despedida e ficaria sem emprego e moradia.

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