Jantar à dois - Parte II

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Perante meu silêncio onde permaneço olhando-o impassível, Meliodas respira fundo e olha para o outro lado, aparentemente reorganizando os pensamentos.

– Desculpe, eu só não estou acostumado a…

– A não ter todos seguindo suas vontades? – indago e ele se cala mesmo que as sobrancelhas franzidas anunciem que eu acertei em cheio.

– Você está com sede? Aceita uma bebida? – Meliodas decide que mudar de assunto é melhor e passa na frente, olhando-me por cima do ombro quando retorna para o cômodo que acabara de vir.

Eu o acompanho quieta, embora meus olhos vão para todos os lados admirando as paredes frias com alguns quadros. O que eu achava ser uma ante-sala é, na verdade, uma pequena adega com os mais variados tipos de bebidas alcoólicas. Um pequeno bar na própria casa.

O loiro se inclina, passando os dedos esguios pelos rótulos de garrafas transparentes e do mesmo tamanho, como percebo ser a maioria das coisas nesta sala, organizadas por tamanhos. Seja na ordem crescente ou decrescente.

– Conhaque? – ele questiona após empertigar a postura, a garrafa está em sua canhota e ele lê o rótulo com atenção, retornando a me olhar para obter meu aval.

– Pode ser.

– Com gelo ou sem?

– Com.

Eu o observo todas as vezes que Meliodas se vira de costas, notavelmente confortável e nenhum pouco intimidado com minha presença como estou com a dele. Na verdade, é estranho tentar comparar aquele homem tão sério e polido, a este que está vestido casualmente e me servindo de conhaque caro enquanto esperamos o jantar ficar pronto.

– A homens com tendências perseguidoras. – ele debocha levantando seu copo de drink suavemente, o gelo tilinta contra o cristal e eu não sorrio quando acompanho seu brinde.

– A polícia que prende perseguidores. – respondo e ele sorriu ladino, abaixando seu copo após um gole da bebida. Eu tomo um pouco, estranhando principalmente o sabor forte e a queimação que fica em minha garganta quando o líquido desce aquecendo.

– Tem um belo senso de humor, Elizabeth.

– Trabalhei como balconista por três anos e meio, tive que desenvolvê-lo.

Ele aquiesce, o cabelo normalmente penteado para trás como todas as vezes que visitou a cafeteria está livre do gel ou da pomada que ele usa para mantê-lo arrumado, e os fios se movem caindo sobre a testa e encobrindo rapidamente suas pálpebras.

– Trabalhar com o público não é fácil.

– Principalmente quando eles estão com fome e irritados por dias exaustivos e chefes insuportáveis.

Eu tomo mais um pouco do conhaque, agora mais fresco pelo gelo suavizando o álcool, é mais gostoso e eu acompanho mais uma vez o trajeto do copo do mesmo até seus lábios. Rapidamente eu desvio o olhar para a ampla janela de vidro e observo as margens do rio que corta Seattle, sendo iluminado pelos postes do deck.

É uma vista privilegiada.

– Quer conhecer a casa? – Meliodas oferece e eu recuso movimentando a cabeça, tempo exato para que a mesma funcionária que havia pego meu casaco e bolsa, retorna

– Jantar agora ou daqui a vinte minutos, senhor?

– O que decide, Elizabeth?

Com ambos me olhando esperando minha decisão, eu engulo em seco e prefiro encarar a mulher de cabelos loiros presos num coque justo.

– Agora, por favor. – respondo e ela meneou a cabeça retornando para a cozinha.

– Venha para a sala de jantar.

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