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Sina Deinert

Ele é um cretino.

Um cretino bonito. Um cretino de boa lábia. Um cretino de porte atlético. Um cretino cheio de tatuagens incríveis. Um cretino de uma reputação grandiosa. Um cretino solteiro. Um cretino quente como o inferno. Um cretino. E mesmo sabendo, nem um por minuto eu quis tanto queimar feito uma pecadora como ontem. Mesmo sabendo do que ele era capaz, quando disse todas aquelas palavras tentei deixar de querer ele.

E mesmo assim, ele não saía da minha cabeça por mais que eu fizesse, falasse e até mesmo tentasse não pensar. Ironicamente, tudo me lembrava Noah porque, aparentemente, é assim que funciona garotos como ele.

Você os conhece, eles se aproximam e por mais longe que um esteja do outro eles jamais deixam a sua cabeça, o seu corpo e os lugares em que vocês passaram juntos. Por mais que o tempo passe você não o esquece e deixa de desejar secretamente mais e mais, mesmo que não possa ter mais e mais. Você se torna uma viciada e ele é a sua droga.

Ele é ruim, e eu nunca quis tanto conhecer cada parte dessa sua ruindade.

- Bendita droga masculina!

Resmunguei batendo a massa com ainda mais força e ódio. Mesmo que eu não estivesse de fato sentindo isso por ele.

- Heim? O que você está reclamando aí Sina?

Meu pai gritou da sala e eu desesperadamente quis sumir. Hoje era mais um daqueles dias, e eu ficava esse dia todo me perguntando porquê eu me submetia a cuidar dele se em momento algum ele cuidou de mim.

- Nada pai, apenas estou pensando alto demais.

Respondi da cozinha no mesmo tom em que ele. O som da televisão ligada era alto o suficiente para que minhas palavras não fossem muito bem compreendidas, e fizesse ele apenas resmungar alguma coisa e esquecer o nosso curto diálogo. Esquecer de mim como sempre fez.

Continuei batendo a massa de chocolate. Eu faria um bolo com recheio de leite ninho e cobertura de brigadeiro. Era o preferido de papai e mamãe, claro que, minha mãe só comeria ele amanhã uma vez que ela e meu pai se divorciaram faz anos e eu moro com ele por causa do trabalho dela, hoje em dia, se tornou uma opção e uma obrigação ao mesmo tempo.

Apesar dele ser um péssimo pai, eu jamais deixaria ele largado por mais que tenha sido tudo o que ele fez com sua família até que destruísse tudo e a si mesmo, transformando o homem alegre e esforçado em um homem ranzinza e desleixado, um viciado terrível.

Suspirei alto, deixando a bacia de plástico em cima da pia e pegando a forma redonda de bolo para untar. Eu ainda me lembrava da primeira vez em que a minha mãe me ensinou a fazer um bolo, e hoje, me senti orgulhosa por seguir a maioria dos seus passos e ter aprendido tudo o que ela me ensinou.

Depois de passar a manteiga e a farinha, despejei a massa do bolo até que estivesse preenchido tudo, coloquei a forma no forno e me lambuzei com o resto de massa que tinha sobrado na bacia. Ao menos era um bom passatempo, pós expediente exaustivo e arrumar a casa toda porque quando eu cheguei tudo estava uma zona e eu não suportava ver a casa assim, eu me sentia suja. Eu me sentia horrível, e tinha uma grande obsessão por limpeza.

A casa viveria no brinco se papai não destruísse tudo com suas mudanças de humor e quando tinha bebida na cabeça com dinheiro que ganhava em jogos, quando ele tinha sorte ou conseguia roubar. Eu ainda não sei como nada de ruim lhe aconteceu com os truques sujos usados, embora agradecesse por isso.

Entediada, levantei enquanto deixava o bolo cozinhando. Era terça, batia dez horas e trinta minutos no relógio do corredor, e eu não podia estar mais ansiosa para que finalmente chegasse amanhã.

Bad Drug - NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora