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Sina Deinert

A tensão no corpo de Noah era palpável.

Eu não o conhecia o suficiente, mas pelo olhar dele no filme podia afirmar que tinha medo mas, muita nostalgia, recordações.

- Ei, como era? - Perguntei.

Ele virou o rosto na minha direção sem entender a minha pergunta.

- Como era o que?

Perguntou de volta.

- A sua infância - completei.

A palavra infância deu voltas na minha cabeça
conforme o significado dela pesava dentro de mim. O significado destruído por papai é remendado na medida do possível por mamãe. Eu guardava, com cuidado, todas as memórias boas na minha cabeça e no álbum de família em meu quarto. Elas eram as únicas coisas que papai nunca poderia destruir.
Eu guardaria para sempre aqui comigo. As
memórias boas e ruins. Tudo o que nos levou
até esse presente. Diferente para uns, o mesmo
para outros.

- Ela foi boa, eu acho.

A voz de Noah me tirou das minhas lembranças.
Abaixei a minha cabeça e olhei para Noah, ele de repente se levantou e se aproximou de mim
jogando-se contra o espaço entre as minhas pernas, deitando a cabeça em meu peito. As mãos dele tocaram na minha perna e descansaram, os olhos dele se fixaram na televisão.

- Você acha?

Perguntei, tocando na mão direita dele. Deslizei
devagar os meus dedos para poder sentir sua pele
e observar com calma as tatuagens desenhadas.

- Foram os meus avós por parte de mãe que me
criaram, e meu pai estava sempre trabalhando. Eu era o típico filho único de pai e avós ricos. Fui
mimado, sempre fiz o que queria e tive o que quis.

Ele deu de ombros. Os meus olhos ainda se
atentavam nas tatuagens e meus dedos ainda
percorriam elas marcadas para sempre em sua pele quente.

- Você foi feliz?

Noah apoiou o cotovelo esquerdo no sofá e a mão
no queixo de forma reflexiva. O dedão descansou
na lateral da boca enquanto os outros dedos
seguravam o queixo.

- Fui, ou com base no que me lembro. Meus avós sempre foram presentes, meu pai era o mais distante, mas isso nunca me influenciou ou me
afetou.

Ele contou, tocando de repente na minha mão em seu braço me fazendo parar. Achei que ele fosse afastar ela, mas ele a segurou com ambas mãos, virando a palma e deslizando os dedos de forma gentil por ela a acariciando.

- Tive amigos, professores particulares, essas
baboseiras todas. Isso enchia a porra do meu saco, mas eu fiz, até porque eu sabia o quanto meus pais e meus avós deram duro para me proporcionar isso.

Ele massageou minha mão devagar com os dedos.

- Na adolescência meus avós faleceram. Foi quando eu comecei a dar mais trabalho, você sabe.

Eu sorri quando os dedos dele deslizaram na minha palma causando cócegas.

- Dali em diante segui o que queria, e me tornei
quem eu sou - concluiu, entrelaçando devagar
a mão esquerda dele na minha palma direita com carinho e cuidado, como se ele de repente pudesse quebrar a minha mão ou fazer alguma coisa errada.

- Esse conquistador barato - comentei dando risada.

- Barato? Você é tão atrevida - ele riu, apertando suavemente a mão dele contra a minha.

Bad Drug - NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora