14 DE JULHO, o dia da queda da Bastilha, o dia da minha morte.
Uma multidão se estendia a frente.
Algumas pessoas estavam com o rosto pintado com a cor da bandeira francesa, gritando com o punho erguido.
Verifico o celular de novo, a mesma mensagem brilhava na tela.
Torre Eiffel, 22 horas.
Não havia remetente, sem nome. O meu sangue zuniu, amo um mistério.
Enfio o cigarro entre os lábios e tiro um isqueiro da minha bolsa da Louis Vuitton.
No dia de hoje, há tantos séculos atrás, iniciava-se uma revolução. Quase posso ouvir o grito do povo faminto avançando em direção a prisão da Bastilha, em busca de vingança.
O fim do regime opressor custou cabeças sendo arrancadas pela lâmina. Me pergunto se é assim que conseguimos por fim as amarras de um homem poderoso: com sangue e violência.
Giro o anel do meu dedo anelar com o dedão, o pequeno círculo de ouro era a personificação da prisão que eu vivia.
Dou um longo gole no vinho tentando tirar o gosto ruim da tristeza que se instalou no fundo da minha boca.
A torre está há apenas alguns metros à frente, cintilante como um milhão de estrelas.
Jogo o cigarro no chão e piso em cima com a sola avermelha do meu salto pontiagudo.
Respiro fundo e caminho entre a multidão.
Subo os degraus intermináveis da torre, meus calcanhares estão queimando. Paro algumas vezes para recuperar o fôlego.
O topo do monumento está vazio e escuro.
Estranho.
Eles apagaram as luzes?
Me aproximo da grade e olho o céu de Paris através de uma luneta, um trovão corta o céu, iluminando o lugar.
Dou um pulo para trás.
Meus lábios ficam secos. Dou outro gole no vinho.
O som de algo arranhando o piso enche meus ouvidos.
— Olá... Tem alguém aí? — Falo com a voz tremula.
O ruido cessa.
Está tão escuro que mal consigo distinguir as sombras dos móveis.
A saída está bloqueada por uma mesa, me impedindo o acesso a escada.
O ruído retorna, seguido por sons de passos.
— Quem está aí?! Isso não tem graça. — Falo, com raiva.
Uma risada corta o ar.
De repente, uma silhueta aparece diante de mim, não tenho tempo de reagir.
Mãos envolvem meu pescoço.
A taça de vinho cai, se estilhaçando em milhares de pedaços. O líquido escorre.
Finco as unhas afiadas em seu braço, ele nem recua.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Não consigo respirar, não consigo gritar.
Ele me solta. Caiu de joelhos, ofegante.
Sinto algo frio pressionar minha testa, ouço um click, então o som de tiro ricocheteia pelo lugar.
Meu corpo sem vida desmorona em um baque surdo.
O meu assassino me encara por um longo tempo.
Ele passa os dedos calejados pelo meu pescoço, certificando-se que não havia nenhuma pulsação.
Depois sua mão desce perigosamente entre meus seios. Meu cadáver estremece.
Ela é realmente bonita. O assassino pensa, se afastando. Não deveria ter acabado tão rápido.
Por fim, ele saca o celular do bolso da calça e diz:
— Está feito.
Ele vai embora.
A luz da torre volta.
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Assassinato em Paris
Romance🥈 Ganhador em 2° lugar do concurso language awards 2023. Giulia, uma mulher requintada da alta sociedade francesa. Ela se encontra apaixonada por um homem poderoso. No entanto, ela possui um contrato de casamento com um homem cruel: Alex. Decisõ...