Assassinato em Paris

II | Criatura Horrenda

" Se você me abraçar sem me machucar, 

Será o primeiro a fazer isso. 

- Lana Del Rey

ELE É UMA CRIATURA HORRENDA. 

Digo isso não pelo seu rosto, ele é agradável aos olhos da multidão; mas sim pelo seu interior. Sua verdadeira face.

Ele desliza a mão pela parte interna da minha coxa.

— Onde estava? — Ele pergunta despreocupadamente.

Olho para a janela. A mansão possui um belo jardim, muitas vezes foi a minha fuga no meio da noite.

— Fui fazer compras.

Ele aumenta o aperto, deixando uma marca vermelha.

— Vá para cozinha. Cansei de você.

Não reajo a suas palavras. Sinceramente, nem me importo. 

****

Camille sorri ao me ver.

Seu rosto irradia calor maternal, algo que nem minha própria mãe me proporcionou.

Minha genitora é uma mulher gananciosa, por isso me vendeu como gado para aquele homem.

— Estou fazendo lasanha. — Ela aponta para uma tábua na pia. — Corte os legumes.

Coloco o avental.

— Sua irmã ligou. — Camille continua. — Ela está vindo para o almoço.

Aperto o cabo da faca com força.

Odiava quando Emilie vinha para cá. Odiava a forma como Alex olhava para ela.

— Ok.

Já estávamos postos na mesa quando Emilie chega, a primeira coisa que noto nela é a sua animação quase infantil. É um alívio saber que minha mãe não tinha arrancado isso dela.

Seu cabelo escuro está preso em um coque desleixado, as roupas são simples: um short e uma camisa sem mangas.

— Quase me perdi de novo nessa casa enorme. — Ela diz, ofegante. — Vou precisar de um mapa.

Abro a boca para falar, mas Alex é mais rápido. 

— Faço questão de providenciar um para minha cunhada. — Alex diz com um sorrisinho. Ela retribui.

Não Emilie, ele não é o tipo de homem que você vá querer por perto. Penso, parece que vamos ter outra conversa.

— Sente-se, os serviçais vão trazer a comida. — Falo, ela hesita ao notar a dureza na minha voz.

Faz um mês desde que a vi pela última vez.

Emilie se esgueira ao meu lado. Passo a costa da mão no seu rosto úmido, Alex observa a nossa interação. Me afasto.

Ele sabe o quanto a amo. Ele faz questão de tirar proveito disso, uma de suas artimanhas quando percebeu que minha mãe não conseguia mais me fazer dar continuada com o casamento foi ameaçar Emilie.

Eu estava enrolado em seus dedos como uma marionete. Após finalmente me livrar da minha mãe acabei caindo nas garras de alguém muito pior.

O restante da refeição foi silencioso, com a exceção de alguns comentários sobre o mercado financeiro feito por Alex, na qual respondi com perspicácia.

Por dois anos cursei economia. Essa pequena paixão que logo foi arrancada de mim se mostrou muito útil.

Às vezes, quando ele estava de bom humor, conseguia traçar estratégias na sua empresa. Nossa, agora.

Um toque no braço me tira do devaneio.

— Um dos meus acionistas está vindo hoje.

Assinto e volto a atenção para a comida.

Ele gostava de me usar para manter seus amigos entretidos. Estremeço quando sinto os toques fantasmas deles percorrendo meu corpo.