III | O Amante

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" A mentira é o único privilégio do homem sobre todos os outros animais"

- Dostoiévsky


EU ESTAVA NO JARDIM QUANDO O SÓCIO CHEGOU, deitada na grama

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EU ESTAVA NO JARDIM QUANDO O SÓCIO CHEGOU, deitada na grama. Essa é uma das minhas poucas falhas, como Alex gosta de lembrar. Eu gosto da natureza, e isso significa sujeira.

O sol aquece minha pele, o canto dos passarinhos enche meus ouvidos. Uma brisa fresca traz o aroma adocicado das flores.

Isso é o mais próximo que vou chegar do paraíso.

— Precisa se arrumar, Gia. O homem já chegou.

— Só mais um minuto... por favor. — Imploro para Camille.

Ela suspira.

— Tudo bem.

Volto a fechar os olhos, a me perder na natureza.

Escuto a porta de vidro abrir novamente.

— Camille, eu já disse que estou indo.

— Seu marido vai te matar. Eles estão vindo para cá, Gia.

Me ergo rapidamente.

— Por que não me disse isso antes?! — Indago para Emilie.

Ela revira os olhos.

— Você sabe como ele gosta de se gabar do jardim.

Corro para a porta, mas escuto as vozes se aproximando.

Droga. Não vai dar tempo.

— Tudo bem. É só agradar seu marido com mais afinco essa noite.

Penso em jogar meu chinelo nela, mas isso só pioraria minha situação.

Aliso o vestido floral, tirando os fiapos de grama, mas não podia fazer nada com as manchas de lama.

— O amigo dele é um gato. — Ela diz sem emitir som.

Coloco um sorriso no rosto, o maior que posso, e me viro.

Meu marido está na frente, seus olhos escurecem ao ver meu vestido sujo. 

— Giulia, minha querida. — Ele me chama.

Descanso a cabeça sobre seu peito. Meu coração pulsa ferozmente quando sinto seu hálito no ouvido.

— Conversaremos sobre isso mais tarde. — Sussurra.

Ele se fasta.

— Enrico, essa é a minha esposa. Ela adora brincar no quintal. — Ri.

Meus joelhos quase cedem quando vejo a imagem diante de mim.

Sinto o sangue do meu corpo se esvaindo, o terror se apossando e quase partindo meus ossos. É ele.

Meu.

amante.

Enroco a mão no braço de Alex para não desmoronar. Enrico observa o movimento.

— Tudo bem, querida? — Ele pergunta em uma fingida preocupação.

Respiro fundo.

— Ah... Sim, só estou um pouco cansada.

Sentamos nas cadeiras, Alex me puxa para seu lado, seu braço envolve minha cintura.

Emilie e meu amante sentaram no banco da frente, ela está com um sorriso brilhante quanto tentar manter uma conversa com Enrico.

Ele, por outro lado, não parece tolerar a falta de desenvoltura da minha irmã sobre negócios e poder. Duas coisas na qual os homens são constituídos, duas coisas que eu domino.

Por outro lado, ao ver os dois no mesmo lugar não consigo evitar uma pequena pontada de ciúmes.

Ele não é seu Gia, ele é só uma diversão. Digo a mim mesma.

Quando a conversa se inicia entre os dois homens tento não olhar para o meu amante, mas é inevitável, meus olhos insistem em buscar os seus. Ele estava com os olhos treinados em Alex.

O cheiro de cigarro arde meu nariz, Alex havia tirado um maço da cartela.

Nunca consegui me acostumar com o cheiro forte da fumaça. Enrico sempre tem um cheiro fresco, me lembrando a natureza.

A conversa é interrompida por Camille, ela chega com uma bandeja cheia de bebidas. Não hesito em pegar um Martini, a queimação na garganta certamente iria me distrair dos sentimentos que rasgam meu corpo.

Depois de alguns drinks começo a ficar tonta, ergo os olhos do meu colo para encarar Enrico. Pela primeira vez na noite ele retribui meu olhar, havia um fogo gélido ali. 

Uma onda de calor invade meu corpo, as mãos umedecem.

— Preciso ir ao banheiro. — Enrico pousa a bebida calmamente na mesinha a frente. — Acredito que a Giulia não se importe em me levar.

Emilie murcha como uma planta.

Olho para Alex, ele acena em aprovação. 

Me viro para Enrico com um sorriso.

Assassinato em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora