" Os espinhos que colhi são das árvores que plantei"
- Lord Byron
CHEGAMOS EM CARROS ESCUROS, em horários diferentes. Sou recebida por uma enxurrada de feches.
— Sra. Campello, por que não chegou com seu marido?! Quem será o novo sócio da Enterprise?!... Sra. Campello!
Mantenho a postura séria e os ombros erguidos, caminhando calmamente para dentro, com uma ruma de seguranças me rodeando.
Você é incrível, Gia. Digo a mim mesma. Todos estão de olho em você.
Logo que entro avisto meu marido em uma das mesas decoradas elegantemente.
— Vamos ter uma conversinha mais tarde. — Ele diz, beijar minha bochecha e afastando uma cadeira para mim.
Emilie está ao meu lado, escondendo-se em uma tela no celular.
— O que ela está fazendo aqui?
— Estou apresentando ela a alta sociedade.
Aperto o maxilar.
— Ela... Ela é apenas uma criança ainda. Ela não foi feita para esse mundo.
— Eu decido aonde quero ir, Gia. E não sou uma criança. — Ela nos interrompe, furiosa.
— Sim, você é. Não sabe nada sobre esse mundo, é uma criança alheia.
— Sei mais do que pode imaginar.
O garçom chega com as bebidas. Peço vinho, a única coisa que aliviaria meus nervos.
— Vá conversar com as esposas dos sócios. — Alex ordena.
As esposas daquelas criaturas meticulosas são tão irritantes quanto minha mãe. Felizmente, sei lidar muito bem com elas.
— Lana, a quanto tempo.
A mulher ruiva com os lábios inchados sorri para mim, mas logo sua boca se curva em nojo quando se depara com meu vestido.
— Giulia, você está incrível.
Ela enfia as unhas longas e afiadas no meu ombro e me puxa para um abraço.
— Como vão os negócios? — Pergunto.
Ela dá um gole no champanhe, seu vestido é preto e possui uma longa e estufada manga.
— Estamos nos anos dourados, Lucian conseguiu um contrato com uma grande empresa. Vamos viajar para as Maldivas no final de semana para comemorar.
— Isso é ótimo. Alex conseguiu novos acionistas, a empresa está crescendo muito.
— O sr. Campello é um bom empresário... — Ela encara um ponto atrás de mim. — Giulia... Se eu não fosse casada com um homem com o bolso recheado eu não pensaria duas vezes antes de fisgar aquele homem.
Me viro.
Lá estava ele em toda a sua glória transcendental, Enrico Ambrosio.
O cabelo perfeitamente alinhado, o terno azul marinho reluzindo. Pressiono a taça com força na mão.
— Ele parece ser um bom partido. — Dou de ombros.
Ela me encara.
— Retiro o que disse, eu vou dormir com ele, tenho certeza que meu marido não vai se importar. Afinal, tenho provas o suficiente para colocá-lo na prisão pro resto de sua vida.
Não respondo.
Eu utilizaria essa artimanha se pudesse, mas Alex sempre foi cuidadoso e inteligente demais. Nunca consegui encontrar nada.
Uma chama começar a lamber meu coração quando observo o olhar determinado de Lana. Eu sabia que ela não iria parar até tê-lo na cama.
Sou envolvida por uma colônia inebriante. Enrico.
— Senhoras, espero que estejam aproveitando a noite.
Lana sorri.
— Está melhor agora, sr. Ambrosio. — Ela põe a mão na dele e Enrico a beija. — No andar de cima tem as bebidas melhores, se importaria de irmos lá?
Ela passa o braço no dele, mas ela não vai embora sem antes dar uma piscadela para mim.
A taça na minha mão explode.
****
O restante da noite foi quase uma tortura, Emi e Alex tinham desaparecido quando retornei à mesa, e Enrico estava ocupado demais.
Tomei uma, duas, três, quatro taças de vinho. E ainda assim, não foi o suficiente.
Ligo diversas vezes para minha irmã, mas cai na caixa postal.
Onde você está? Penso.
Sem outra alternativa ligo para Alex, ele atende no segundo toque.
— Onde ela está? — Pergunto a queima roupa.
— Hum... Emilie? Acho que vi ela sair com um homem para algum lugar.
Finco as unhas na mão.
— Eu disse para não a apresentar para essas pessoas. Eles vão a comer viva, como um cordeiro em uma toca de lobos.
— Você subestima sua irmã, Giulia. Ela vai se sair bem, confie em mim.
Confie em mim. Quase zombo dele.
Quando estou prestes a deslisar ele retoma a conversa.
— Enrico parece estar se divertindo com a Lana. Aquela mulher sabe cravar as unhas em um bom partido.
Meu coração queima.
— Não me importo.
Ele fica em silêncio.
— Estou te esperando aqui. — Ele diz e depois desliga.
Bebo mais uma taça de vinho no caminho para cima, estou começando a ficar tonta.
Se minha mãe estivesse aqui ela jogaria a cabeça para trás em uma gargalhada venenosa e diria que eu estava perdendo o controle.
E eu realmente estou.
Talvez seja a hora de erguer minhas barreiras de volta, dessa vez será revestido de fúria e aço. Nem o ar ousaria atravessá-lo.
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Assassinato em Paris
Romance🥈 Ganhador em 2° lugar do concurso language awards 2023. Giulia, uma mulher requintada da alta sociedade francesa. Ela se encontra apaixonada por um homem poderoso. No entanto, ela possui um contrato de casamento com um homem cruel: Alex. Decisõ...