Adrenalina

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Tyara

Meses se passaram desde o pedido oficial de namoro, e eu não achei que fosse possível mas namorar o Vini afastou ainda mais o meu irmão de mim.
Antes tínhamos aquela implicancia de irmãos, brincadeiras brutas de jogar coisas um no outro e ele sempre bagunçava meu cabelo quando passava por mim.
Mas agora mal trocamos bom dia.
Foi automático parece que deixei de ser a irmã pentelha e virei a desconhecida.
E sim isso era estranho.
Em contra partida minha relação com o Vini está ótima, transamos várias vezes na semana.
Saímos 2x na semana pra balada de forma ainda escondida é claro, mas o lance está fluindo tanto que não temos saído com outras pessoas.
Estamos sendo fiéis mesmo que o combinado não exija de nós fidelidade.
Ta gostosinho demais o nosso namoro.
Sempre que saímos a noite, levamos a Tayla já que meu pai impôs uma regra:
Filha solteira não sai sozinha com o namorado 

Devido a isso o Vini criou um sistema de bonificação para ela.
Sempre que ela topa sair com a gente sem contar nosso real destino, ela ganha R$50.00
Faz as contas desse valor:
Cinquentinha duas vezes na semana.
Agora multiplica por quatro semanas no mês kkkk a bichinha tá rica.
Óbvio que não levo minha irmã menor de idade para as festas que vamos, normalmente ela fica no shopping ou cinema.
As vezes ela fica na casa da Ludmila a amiga dela, enfim sempre a deixo em ambientes seguros.
Até porque minha irmã é a pessoas mais importante daquela família para mim, jamais a colocaria em perigo.
E graças a Deus nunca tivemos problema com isso.
Até o dia em que decidimos ir curtir o aniversário de um "amigo" do Vini.
Como seria um almoço seguido de um baile, optamos em ir no almoço, assim podíamos ir só nós dois e dar um abraço no tal amigo.
O Vini só esqueceu de me avisar que o almoço era na favela, no Morro da Viela.
E que o tal amigo era o gerente do tráfico.
E pra minha total surpresa o aniversariante era o "namorado" da Ludmila, amiga da minha irmã.

-Vinicius, você enlouqueceu?
Disse histérica ao perceber aonde ele tinha me enfiado
-relaxa Tyara
Ele estava se sentindo em casa, rindo pra todo mundo, pegando na mão de todo ser que tivesse uma arma nas costas.
-o meu pai vai me matar se souber que subi a favela.
-ele te mataria se soubesse de muitas outras coisas.
Aquilo me soou estranho, Vinicius nunca tinha falado comigo naquele tom.
Não gostei, soou como uma ameaça.
-o seu pai também né.
Ele deu de ombros deixando claro que a opinião do pai dele, não era relevante.
-imagina seu padrinho, vendo a sua localização agora hein...
Pronto, toquei na ferida; foi o bastante pra faze-lo cair em si.
-dez minutos e a gente vai embora ok
Não tive tempo de responder, fui abordada por uma Ludmila, puta...muito puta
-oi pastorzinho beleza?
Ela chegou segurando no meu braço
-da licença aqui um minutinho só ta
Ela me arrastou antes que ele pudesse dizer algo.

-VOCÊ TA MALUCA TYARA...
Eu era uns 7 /8 anos mais velha que Ludmila, ela regulava idade com a Tayla mas naquele momento, eu me senti uma menininha sendo advertida pela mãe.
-Seu pai vai te esfolar viva se souber que você ta na favela, sua idiota.
-eu não sabia que ele viria para cá.
Disse desesperada
-ele é um drogado de merda...
Ela estava puta, muito puta
-e tá enrolado até o ultimo fio de cabelo loiro dele com o DG
-quem é DG?
Ela revirou os olhos
-você vem pra uma festa de aniversário e não sabe nem o nome do aniversariante?
-desculpa mas DG não me parece um nome e sim um apelido
-um vulgo
Um homem negro, baixinho e tatuado, com cara de mal chegou agarrando a Lud pela cintura.
-satisfação mina..
Ele me encarou de cima abaixo na cara dura
- DG é o meu vulgo, sou o aniversariante e dono dessa gata gostosa aqui.
-prazer 
Respondi sem graça
-prazer só na cama moça bonita
 Ele estava quase entrando dentro da Ludmila, ali na minha frente.
E mesmo assim usou um tom que eu não gostei.
-tu tá com o branquelinho né?
Confirmei com a cabeça
-sim, ele é meu namorado?
Falei na tentativa de inibir o assédio dele.
-cara de sorte

Ele bateu na bunda da Ludmila
-bora preta, bora curtir que hoje é MEU DIA PORRA
Ele gritou e saiu arrastando ela, que não teve coragem de me olhar.
Ela sempre falou do namoro complicado lá em casa, mas nunca disse que era com um traficante que a tratava feito um pedaço de carne.
-Vinicius...
Ele estava dançando com um copo na mão, e um cigarro de maconha na boca
- eu quero ir embora agora
-calma gata rsrrs
Ele segurou na minha mão me fazendo dar uma voltinha mas eu não quis, estava de fato assustada.
-se você não vem eu vou sozinha.
Soltei sua mão e comecei a caminhar no meio do povo.
Era um mar de gente na rua.
Várias churrasqueiras abarrotadas de carne, umas 3 piscinas montadas  na rua lotada de crianças e adolescentes.
Muita mulher dançando só de biquini na rua, pra onde eu olhava eu me escandalizava.
Sim eu fiz muita coisa que aos olhos dos meus pais eram erradas, mas confesso que ali eu abominava tudo ou quase tudo que eu via.
Era hipocrisia da minha parte mas era assim que me sentia, escandalizada.
Fui descendo a rua mas era muita gente curtindo o aniversário ao ar livre, demorei chegar em uma parte quase isolada.
Meus pés doíam demais devido o salto alto e a rua de paralelepípedo.
E pro meu total desespero quando eu enfim conseguir respirar sem ter alguém encostando em mim, fogos foram lançados no céu.
De imediato associei a festa mas logo um mar de gente corria na minha direção.
Eu não sou idiota, corri também.
-é os homi porra...
Alguém gritou
-estão invadindo
Outra pessoa gritou, meu coração batia desesperado e sem limites.
-corre gente, corre.
Era muita gritaria, criança chorando, cachorro latindo e tiros ou fogos...eu já não sabia mais
Entrei em um beco junto com mais um monte de gente, e no meio do caminho meu salto agarrou.
Abaixei pra tirá-lo do pé e fui literalmente pisoteada.
-aaaaai
Gritei segurando meu pé sem conseguir me levantar.
Eu estava toda suja ah essa altura e com o pé lascado.
-Meu Deus não me deixa morrer aqui.
Clamei antes de ser engolida pelo mar de gente.

Amores Reais -TyaraOnde histórias criam vida. Descubra agora