Genealogia

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Kevin

Desde que descobrimos a gravidez de Tyara tivemos todo o apoio, da minha mãe.
Dona Leila é mulher de fibra, passou  um tempo longo no deserto, ao se apaixonar pelo filho do motorista.
Meus avós maternos eram magnatas, donos de fazenda de café; e minha mãe era a quinta de sete filhos.
Cinco meninas as mãos velhas e dois meninos.
Como o tão sonhado filho homem veio logo após a minhanmaez e de quebra veio gêmeos; ela a acabou ficando de lado.
Foi criada por babás a vida toda, minha avó era uma madame, metida a besta que teve vários filhos mas não criou nenhum.
E talvez essa falta de amor e atenção por parte dos pais,gerou nela que tinha quatro irmãs mais velhas, duas em época de sa casar; o que determinava prioridade para seus pais.
Gerou nela uma carência afetiva, que na época foi suprida pelo motorista e sua esposa que era a arrumadeira da fazenda.
Segundo minha mãe, eles se preocupavam com ela, nunca esqueceram um aniversário dela.
Enquanto seus pais marcaram um jantar de "negócios " que serviu para oficializar o noivado da segunda irmã mais velha.
Como o pai passou o dia acompanhando os resultados da colheita, e a mãe envolvida nos preparativos para o jantar; eles não conseguiram parabenizá-la durante o dia.

Mas ela esperava que mencionassem algo no jantar.
Porém  devido a sua pouca idade, minha mãe não pode participar do jantar e consequentemente dormiu antes que os pais pudessem lhe desejar feliz aniversário.
Mas a família do motorista não esqueceu e sua esposa Selma, ainda fez um bolinho pra ela.
Eles cantaram parabéns com ela na ala dos empregados, acompanhados do filho mais velho do casal; que futuramente viria a ser meu pai.
Ele a presenteou com uma pulseira de conchinhas do mar que ele mesmo confeccionou,especialmente para ela.
Dali pra frente foi só consequência.
No dia seguinte seus pais a parabenizaram, e sua alegria lhe deu um lindo vestido.
Mas nada foi mais especial do que a pulseira de conchas, e o bolo que degustou com as pessoas que a viam como prioridade.
Quando desconfiaram do envolvimento da minha mãe com o filho da empregada, deram um jeito de demitir meus avós paternos e mandar pra longe, a família de "aproveitadores".
Mas já era tarde, eu já estava no forninho, como diz minha mãe.
Diante da gravidez confirmada, cogitaram um aborto, mas segundo o médico já não era possível.
Minha mae estava grávida de quatro meses,então planejaram um casamento de conveniência; com um senhor de quase sessenta anos.
Viúvo e que tinha fama de ter matado a ex mulher a pancadas, mas segundo meu avô" eram só boatos".
E ele estava disposto a assumir uma mulher desonrada e criar o filho de outro,mas minha mãe foi firme e disse que diria não no altar, para toda a cidade ouvir.

Diante de sua recusa, foi enviada para a casa de uns parentes distantes pra me ter lá, e assim evitar um escândalo.
Já que a filha mais velha estava recém casada, e a segunda mais velha tinha noivado a pouco tempo.
Mas meu pai ficou sabendo  do acontecido e foi atrás de nós, e com a ajuda de uma prima "moderna demais para seu tempo", era o que minha mãe dizia sobre ela.
Se casaram escondido dos meus avós, somente no civil, e se mudaram para o Rio de Janeiro.
Fomos morar na favela do lodo, lugar que meus avós moravam e foi aonde eu nasci.
Quando descobriram sobre o casamento, meu avô deserdou minha mãe e toda a sua família cortaram relações com ela.
Nunca conheci meus avós, tios ou primos por parte de mãe.
Mas fui muito amado por meus avós paternos, pena que alguns anos depois do meu nascimento, meu avô Matheus adoeceu.
Eu ainda era criança mas me lembro bem do seu amor por mim.
Ele morreu cedo e pouco tempo depois minha avó Selma se juntou a ele.
Minha mãe diz que enquanto meus avós eram vivos, ela foi feliz no casamento.
Meu pai tinha um respeito surreal aos pais dele, e preferia morrer a decepcioná-los.
Mas assim que eles partiram, meu pai começou a vacilar. Bebia demais, traia demais e trabalhava de menos; conclusão quase passamos fome.
Então minha mãe arregaçou as mangas e foi a luta, ela que era herdeira do café, virou diarista pra sustentar ah nós dois, e o vício do meu pai.
O casamento durou até o primeiro tapa.
Quando meu pai a agrediu pela primeira vez, ela juntou nossas coisas e fomos embora no dia seguinte.
Eu tinha quinze anos ,a prima dela que era "moderna demais", mais uma vez nos ajudou e conseguiu um emprego pra mamãe em uma escola particular; fora da favela.

Com um salário melhor, mamãe alugou uma kitnet no centro do Rio e só tivemos notícias do meu pai anos depois.
Quando ele adoeceu e não tinha aonde ficar, não sei dizer como ele nos descobriu mas bateu em nossa porta.
Bem debilitado.
Minha mãe não quis conversa.
Ela havia se aposentado a pouco tempo e queria curtir a vida, e eu a apoiei.
Não tínhamos obrigação nenhuma de recebe-lo em nossa casa.
Casa essa que minha mãe usou todo o seu FGTS para comprar.
E como eu já era maior de idade e na época já estava no quartel,aluguei um quarto pra ele perto da nossa casa; e minha mãe levava comida e limpava o quarto.
Foi assim até ele morrer,meses depois.
Como eles não tinham se separado legalmente,;minha mãe teve direito a pensão.
Que ela recebe até hoje.

Pelo histórico dela, ela nunca julgou Tyara e sabia que eu jamais iria deixar minha mulher e filhos na mão.
Pensando nisso, na criação que ela me deu que decidi dar um basta nas provocações do meu sogro.
Estava na hora de por os pingos nos Is.

Amores Reais -TyaraOnde histórias criam vida. Descubra agora