O silêncio da madrugada era assustador, os sons abafados dos carros deslizando pela avenida causavam uma sensação familiar de solidão a qual ela não apreciava. Por isso, libertou-se da proteção que as paredes do seu apartamento traziam, e esgueirou-se pelas ruas pouco movimentadas de Seul. Os sons urbanos eram acolhedores, mesmo que tão poucos naquela hora, serviam para lembrar que Daeyang não estava sozinha. Ela perambulava como um fantasma, sentindo a mente vazia, o corpo frio, e o peito apertado. Não tinha um destino, a jornalista nunca teve um lugar para ir. Ela só sabia que devia continuar andando, até encontrar o seu lugar, até que alguma magia ou força cósmica mostrasse a luz no fim do túnel que ela tanto esperava.
Um riso amargo escapou pelos lábios naturalmente rosados. Não era bem assim que a vida funcionava, não deveria esperar por uma salvação mágica. A vida não era como nos filmes, a luz no fim do túnel na verdade é um trem e a crueldade sempre vence. O mundo é dos espertos, ganha mais pontos nesse jogo infinito quem for perverso o suficiente para esconder algumas cartas na manga. Daeyang não tinha mais idade para acreditar em contos de fadas, em beijos salvadores, príncipes em cavalos brancos. Isso não existia na realidade, ela estava apenas andando sem motivo, em uma esperança tola, um sentimento idiota que deveria reprimir, mas não era capaz.
Havia uma expressão em inglês que descrevia muito bem o que se passava na mente nublada da jornalista: Chasing cars. Origina-se do cão que é abandonado, mas recusa-se a aceitar seu destino e persegue o carro da pessoa cruel que o deixou. Ele sabe que não vai alcançá-lo, sabe que continuar correndo é inútil, mesmo assim, ele não para. Como um ciclo vicioso, uma esperança sem fundamento, ele continua correndo e correndo, até que o carro some de vista e só resta a solidão. Daeyang sentia-se perseguindo carros durante todos esses anos, mesmo que tivesse aceitado a rejeição há muito tempo, mesmo que soubesse o quão inútil era esperar alguma consideração daqueles que lhe deram a vida, ela ainda continuava correndo. Ainda perdia noites de sono, ainda andava pelas ruas de Seul à procura do seu lugar, seu lar.
Casa. Não é sobre um imóvel, não é sobre uma cama confortável para dormir ou um prato de comida na mesa. Mas um lar, um lugar a qual sempre pode voltar, correr para se esconder de tempestades e fugir do caos do mundo. Lar é onde o amor vive, onde o carinho reina e onde moram pessoas que querem o seu bem. Daeyang não fazia ideia de como era esse sentimento, nunca teve nada disso. Ter um lugar para retornar era quase um sonho, um desejo inalcançável, um cenário impossível. Ainda sim, ela continuava perseguindo carros, continuava em uma vã esperança de um futuro melhor, onde um acontecimento mágico seria capaz de mudar o curso da sua vida para sempre.
Impossível.
Era apenas um sonho.
A jornalista parou ao lado de um ponto de ônibus e abraçou o próprio corpo quando uma brisa fria soprou, açoitando os fios avermelhados e causando-lhe arrepios. Saiu tão absorta em seus próprios pensamentos, que até esqueceu de pegar o casaco, e mesmo a blusa de lã não era o suficiente para aquecê-la naquela madrugada tão fria. Ela olhou em volta, deveria ir embora? Havia uma conveniência logo a frente, poderia ir até lá comprar alguma bebida destilada para aquecer o peito. Apalpou os bolsos e bufou ao constatar que havia esquecido a carteira. Onde estava com a cabeça? Como podia sair de casa até sem o celular?
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Bᴀᴅ Bᴏʏ • ᴹᵞᴳ
Fanfiction[EM ANDAMENTO/NOVA VERSÃO] Era uma noite como qualquer outra para Yoongi, vagando pela cidade sem rumo, enquanto mergulhava no abismo da sua mente. Ele só não esperava ter que fugir de fãs histéricas e entrar no carro de uma desconhecida que tinha u...