Tique-taque, tique-taque

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- Então, quais informações foram obtidas até agora?

- O suficiente para um início de operação, senhor. - Gabriele informou, orgulhosa de suas pesquisas. - Uma equipe recebeu a incumbência de trabalhar na busca imediata por atualizações no caso do Vento do Deserto. Já descobrimos um número encorajador de similaridades nos casos.

- Prossiga.

- Vento do Deserto possui o hábito de cometer crimes em bailes de máscaras na região Oeste. Nesses bailes, os pertences dos participantes, como bolsas e chaves, são recolhidos e postos numa sala, com o intuito de serem devolvidos aos respectivos donos ao final do baile. Porém... - Gabriele continuou, fazendo gestos com as mãos - O ladrão, que vamos chamar de V.D., adentra essas salas e rouba os pertences que lá estão. Mas esse é o ponto, - ela disse, franzindo a testa, - V.D. apenas faz suas aparições nesses bailes, ou seja, apenas comete furtos com pessoas da alta sociedade... apesar disso, ele não faz parte da AILF. Não é um pouco estranho que ele siga o Código?

Regra nº 5 do Código de Furtos: Todos os ladrões filiados possuem proteção da Associação.

- Muitos ladrões fora da AILF possuem um código de ética próprio. Você tem certeza de que V.D. não participa da Associação?

- Absoluta, senhor. - Gabriele assentiu com firmeza. - Passei dias verificando todos os ladrões que possuem um vínculo com a AILF, desde os que a frequentaram apenas uma vez até os que são filiados desde sempre. Mesmo que use um codinome, V.D. não está entre eles. Os roubos começaram a aproximadamente dois meses, e desde então nenhum ladrão novo foi notificado.

- Como pode ter certeza de que todos os roubos são organizados pela mesma pessoa?

- Todos possuem características em comum. O ladrão possui o hábito de nunca roubar tudo, mas sempre roubar de todos, nem que seja uma mísera joia. Ninguém escapa. Além disso, em todos os roubos V.D. deixa uma gérbera para trás, junto com um pequeno cartão, que contém sempre as mesmas palavras. "Um pequeno presente. Ass: Vento do Deserto." Por isso ele recebeu essa nomeação.

- Uma gérbera?

Gabriele sabia o que ele queria dizer. A maioria dos ladrões possuía uma marca registrada. Ela mesma tinha sua adaga inseparável. Deixar algo nas cenas do crime era a marca de muitos ladrões: o objeto nunca era deixado lá por acaso. Tinha que haver um significado. Sempre havia.

- Depois de algumas buscas, descobri que as gérberas simbolizam a simplicidade. É como se... - Gabriele mordeu o lábio inferior. - Essa é minha opinião pessoal, mas creio que seja como uma indireta para os nobres. Uma crítica a seus luxos. E, devo dizer... é uma atitude deveras respeitável. Talvez devéssemos... repensar sobre entregá-lo. Ele me parece um de nós. A meu ver.

Richard assentiu, acendendo as esperanças de Gabriele. Ela, particularmente, havia achado as atitudes do ladrão... boas? Não sabia dizer.

- Gabriele, por qual motivo você tem tanta vergonha das próprias opiniões?

- O... o quê?

- 'Essa é minha opinião pessoal', 'devo dizer', 'talvez devêssemos', 'a meu ver'... céus! Você parece ter vergonha dos seus próprios pensamentos. Não é porque eu criei a Associação que você é inferior a mim, de forma alguma. Pense do seu jeito, imponha suas opiniões! Seja teimosa, seja dura! Não tenha medo da recusa. Não se diminua para se igualar aos outros, Gabriele. Cresça cada vez mais.

Gabriele admirava muito o líder da Associação. Ele fazia tudo parecer tão fácil... e acreditava no potencial dela. Quando nem eu mesma acreditei.

- Claro. Voltando ao assunto, quais suas opiniões sobre o caso?

- Ele não é má pessoa, eu acho. Mas é sempre bom saber primeiro. Vamos entrar em contato com ele e ver o que deseja. Talvez ele se torne um de nós... podemos oferecer abrigo a ele, considerando que todos os caçadores de recompensas da região devem estar em seu encalço a esta altura. Mas seja ele amigo ou inimigo, o relógio está tiquetaqueando. Devemos entrar em contato o mais rápido possível.

- Sim senhor. Vamos mandar algum afiliado para os bailes?

- Melhor. Vamos mandar você.

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