Day 25

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— Mas infelizmente a bebê chorou. E no momento em que a bebê começou a chorar, Chae colocou as mãos sobre os ouvidos e começou a gritar para que ela parasse. Eu tentei pegar a bebê para acalmá-la, tentei fazer algo mas ela me empurrou para longe. Chae ligou o rádio da casa, um antigo e velho que tinha o CD do George Thorogood dentro, começou a ressoar por todos os cantos no último volume a letra de Bad To The Bone. Ela ria e chorava ao mesmo tempo, agarrava as orelhas com força e se chacoalhava em uma dança estranha e sem ritmo algum.

~Flashback~

Senti algo batendo em meu rosto, ela apagou as luzes e a pouca iluminação que entrava era da rua quase escura do fim de tarde, o sol já não era mais forte, assim como eu, passei a mão sob minha bochecha e havia sangue ali. Eu comecei a chorar instantaneamente e tentei pegar a bebê do carrinho.

B-b-b-bad bad to the bone!

Chae cantava a letra da música enquanto jogava tudo que via pela frente pelos ares, chutava, alguns vasos estavam no chão, ela subiu na mesa onde ficavam as bebidas do papai, chutou tudo e em frente ao espelho grande a garotinha fez caras e bocas.

— I'm here to tell ya honey. That I'm bad to the bone.

Ela passou a faca pela sobrancelha enquanto fazia uma careta para o espelho, sangue começou a escorrer e ela ria e gritava em meio ao som estridente da guitarra de George. Chae rasgou a camiseta e passou as unhas pelo corpo se arranhando, os braços, arrancou punhados de cabelo.

— Agora me dê essa fedelha chorona.

Ela veio pra cima de mim com a faca apontada para a bebê, eu estava sentada no chão escorada na parede segurando a bebê em meus braços, tentando a todo modo protegê-la.

— Não, Chae, pare com isso, você está me assustando.

— Ah, por favor Rosie, não tenha medo, eu não vou lhe machucar, não como você me machuca. Você prefere ela, não prefere? Todos preferem, essa idiota só sabe chorar e chorar e minha cabeça dói, ninguém liga, ninguém liga quando meu nariz sangra pela dor de cabeça, ninguém liga quando eu tenho crises de dor que me jogam ao chão e por quê? Porque estão ocupados com essa aí.

Ela me chutou as pernas, eu estava com a bebê escondida em meus braços e levaria todos os esmurros dela para defender a pequena. Ela estava doente, e irritada por ninguém ter percebido, eu entendia a sua raiva, mas não podia entender a intensidade dela, o porquê disso tudo, era demais para mim.

— Solte logo, sua idiota, eu não quero te machucar.

Chae se ajoelhou e tentou socar a bebê em meus braços, chutei sua barriga e ela caiu para trás. Chae gritou com todo o pulmão, da forma mais terrível eu vi seus olhos sobre mim, ela não era a mesma.

~Flashback~

— E então ela pegou a faca e veio pra cima, ergui os braços e levei incontáveis golpes nos pulsos, eu precisava proteger a bebê e não me importava em ter que enfrentar aquilo. - Vi algumas lágrimas saindo dos seus olhos e ela rapidamente secou. - Ela acertou um golpe, uma única facada acertou a pequena em meus braços, ela não chorou, eu não senti seu corpo reagir, ela apenas se foi e meus olhos se fecharam junto aos dela.

Ela suspirou pesadamente com os olhos fechados, passou as mãos pelos cabelos loiros e voltou a se encostar no sofá, segurou seu pulso cheio de cicatrizes e acariciou elas.

— Quando acordei estava com a mamãe me chacoalhando, gritando comigo, a bebê já não estava ali, meu corpo tinha as roupas de Chaeyoung e quando olhei em volta ela estava agarrada ao papai chorando enquanto ele a acariciava, Alice estava na escada sentada no canto com as mãos sobre os olhos. Nos mudamos para os EUA e eu fui direto para uma clínica psiquiátrica, nem cheguei a conhecer o endereço da minha família, mas Alice vinha me visitar sempre que podia, ela contou que deu uma surra em Chae, e sempre que tinha oportunidade ela fazia.

Eu estava chocada, não conseguia acreditar em tudo que acabei de ouvir, parecia coisa demais para se digerir, enquanto ela contava eu criava cenas que pareciam memórias como se eu tivesse vivido aquilo, como se tivesse assistido tudo, era traumático e doloroso.

— Lisa, eu vivi dos meus 11 anos até os 20 em uma clínica, meu pai nunca me mencionou, eles não acreditam em mim, nem mesmo em Alice que precisou agir como um personagem por todo esse tempo para não acabar como eu, ela conseguiu afastar Chae dos nossos pais, foi tudo que eu pedi a ela. Miyeon me ajudou também, a mãe dela sabia que quem fez e deu o suco para ela não fui eu, mas a senhora Cho nunca falou muito sobre isso. Medo talvez.

— Eu, bem, é, wow. - suspirei. - Eu sinto muito por isso tudo. - Ela me entregou algumas outras fotos onde ela aparecia dentro do hospital onde passou esses anos, algumas ela parecia dopada, completamente como um zumbi, outras ela estava sorrindo fraco, com a detetive e Alice ao seu lado.

O Assassino Pode Ser Você - especial de Halloween ChaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora